AS ENCHENTES DO RIO SÃO FRANCISCO EM XIQUEXIQUE
As cheias do Rio São Francisco, ou as enchentes como chamávamos, criavam transtornos para as famílias de Xiquexique, mas, para meninada era uma das melhores distrações que podia acontecer e por isso eram ansiosamente esperadas a cada ano. A partir de dezembro, com as primeiras chuvas caídas nas nascentes do rio, em Minas Gerais, as águas do Velho Chico começavam a subir. As notícias da enchente eram trazidas pelos tripulantes dos vapores e das barcas que vinham de Pirapora (MG) para Juazeiro (BA), e logo a gente tomava conhecimento do aumento do volume da água, que chegava devagarzinho e, quase sem ser percebido, ia subindo o cais.
A cada dia a população media os centímetros que o nível do rio subia e todos ficavam na expectativa do tamanho da enchente, vez que as cheias variavam de ano para ano e eram lembradas pela área que inundavam na cidade. Para a meninada, no entanto, a perspectiva de uma grande cheia era motivo de muita alegria, pois o fato de tomar banho de rio no local onde era a praça ou determinada rua representava uma grande novidade e desejava ser experimentada por todos os garotos. Era uma grande festa para os jovens da cidade. Os maiores e adolescentes passeando pelas ruas alagadas em pequenas canoas a remo e os menores, acompanhados dos pais ou outros parentes, com um par de cabaças em volta do tórax, a título de bóia salva vidas, iniciavam os primeiros exercícios de natação.
Ao subir, o rio primeiro encostava nas rampas e depois no cais da cidade. Quando chegava nesse ponto o nível da água, ia lentamente subindo e era acompanhado diariamente pela meninada, pois a partir de uma determinada profundidade já permitia que a gente praticasse o salto do cais. A brincadeira de saltar do cais era a distração máxima trazida anualmente pelas enchentes do rio e também a maior preocupação dos pais. Bastava que as águas atingissem pelo menos 1 metro de profundidade na parede do cais, que tinha uma altura de 4 metros a partir do leito do rio, já era possível o exercício de saltar e mergulhar nas águas. Tinha-se todo o cuidado para não tocar a cabeça no fundo do rio que era representado por um lagedo o que poderia causar grave acidente. Os mais novos aprendiam com os mais velhos que ao saltar, os braços deveriam estar estirados para frente e logo tocassem a água o corpo deveria fazer uma inflexão para cima para que a entrada na água não se desse na vertical.
Na maioria das vezes o rio não ultrapassava o cais e por isso não havia a inundação da cidade. Mas isso não tirava a alegria da enchente e pelo menos por uns dois meses iríamos passar o dia dando saltos. Mas, algumas vezes, a enchente vinha com mais força, ultrapassava o cais e invadia a cidade. A depender da cheia poderia haver a expulsão de algumas famílias que tinham residências nas ruas próximas ao rio. Lembro-me muito bem da enchente de 1949. Tinha eu 6 anos e foi a maior que conheci. No entanto, na época, os mais velhos já diziam que enchente de 1949, realmente, foi a maior do século XX, garantindo, inclusive que fora maior que a de 1911, tida como uma cheia descomunal. A cidade, naquele ano possuía pequena área urbana e uma população que não ultrapassava os 5.000 habitantes. Ainda não fora construído o Mercado Municipal e, naturalmente, as ruas adjacentes atuais também não existiam. O movimento comercial, inclusive a feira-livre, era realizado a partir da Praça Getúlio Vargas, Rua Belo Horizonte, Rua Beira Rio e ruas vizinhas à Praça D. Máximo, ainda sem o jardim.
Quando as águas ultrapassaram o cais, inundaram a Rua Beira Rio e em poucos dias subiram a Rua Belo Horizonte e a Praça Getúlio Vargas com uma rapidez ainda não vista, o povo entendeu que se tratava de uma enchente das grandes e começaram a se mudar para casas de aluguel situadas na Avenida J.J. Seabra, parte mais alta ou mesmo para áreas desabitadas e sem construções, que ficavam para os lados onde hoje se situa o Colégio Senhor do Bonfim, onde, na falta de casas para alugar construíam pequenos e provisórios barracos para se abrigarem enquanto o rio estivesse dentro da cidade. A minha família se mudou para uma casa alugada ao Sr. Pompílio, situada no final da Av. J. Seabra, quase em frente ao Grupo Escolar Cezar Zama e lá ficamos até as águas baixarem e a nossa casa na Praça D. Máximo, que foi inundada por quase um metro de água, ficar seca e em condições de se fazer o retorno. Essa volta era mais um grande trabalho que as donas de casa enfrentavam, pois durante os vários dias em que a casa ficara invadida pelas águas a lama se acumulava no piso e nas paredes e era uma dificuldade para fazer a limpeza.
As cheias do Rio São Francisco, ou as enchentes como chamávamos, criavam transtornos para as famílias de Xiquexique, mas, para meninada era uma das melhores distrações que podia acontecer e por isso eram ansiosamente esperadas a cada ano. A partir de dezembro, com as primeiras chuvas caídas nas nascentes do rio, em Minas Gerais, as águas do Velho Chico começavam a subir. As notícias da enchente eram trazidas pelos tripulantes dos vapores e das barcas que vinham de Pirapora (MG) para Juazeiro (BA), e logo a gente tomava conhecimento do aumento do volume da água, que chegava devagarzinho e, quase sem ser percebido, ia subindo o cais.
A cada dia a população media os centímetros que o nível do rio subia e todos ficavam na expectativa do tamanho da enchente, vez que as cheias variavam de ano para ano e eram lembradas pela área que inundavam na cidade. Para a meninada, no entanto, a perspectiva de uma grande cheia era motivo de muita alegria, pois o fato de tomar banho de rio no local onde era a praça ou determinada rua representava uma grande novidade e desejava ser experimentada por todos os garotos. Era uma grande festa para os jovens da cidade. Os maiores e adolescentes passeando pelas ruas alagadas em pequenas canoas a remo e os menores, acompanhados dos pais ou outros parentes, com um par de cabaças em volta do tórax, a título de bóia salva vidas, iniciavam os primeiros exercícios de natação.
Ao subir, o rio primeiro encostava nas rampas e depois no cais da cidade. Quando chegava nesse ponto o nível da água, ia lentamente subindo e era acompanhado diariamente pela meninada, pois a partir de uma determinada profundidade já permitia que a gente praticasse o salto do cais. A brincadeira de saltar do cais era a distração máxima trazida anualmente pelas enchentes do rio e também a maior preocupação dos pais. Bastava que as águas atingissem pelo menos 1 metro de profundidade na parede do cais, que tinha uma altura de 4 metros a partir do leito do rio, já era possível o exercício de saltar e mergulhar nas águas. Tinha-se todo o cuidado para não tocar a cabeça no fundo do rio que era representado por um lagedo o que poderia causar grave acidente. Os mais novos aprendiam com os mais velhos que ao saltar, os braços deveriam estar estirados para frente e logo tocassem a água o corpo deveria fazer uma inflexão para cima para que a entrada na água não se desse na vertical.
Na maioria das vezes o rio não ultrapassava o cais e por isso não havia a inundação da cidade. Mas isso não tirava a alegria da enchente e pelo menos por uns dois meses iríamos passar o dia dando saltos. Mas, algumas vezes, a enchente vinha com mais força, ultrapassava o cais e invadia a cidade. A depender da cheia poderia haver a expulsão de algumas famílias que tinham residências nas ruas próximas ao rio. Lembro-me muito bem da enchente de 1949. Tinha eu 6 anos e foi a maior que conheci. No entanto, na época, os mais velhos já diziam que enchente de 1949, realmente, foi a maior do século XX, garantindo, inclusive que fora maior que a de 1911, tida como uma cheia descomunal. A cidade, naquele ano possuía pequena área urbana e uma população que não ultrapassava os 5.000 habitantes. Ainda não fora construído o Mercado Municipal e, naturalmente, as ruas adjacentes atuais também não existiam. O movimento comercial, inclusive a feira-livre, era realizado a partir da Praça Getúlio Vargas, Rua Belo Horizonte, Rua Beira Rio e ruas vizinhas à Praça D. Máximo, ainda sem o jardim.
Quando as águas ultrapassaram o cais, inundaram a Rua Beira Rio e em poucos dias subiram a Rua Belo Horizonte e a Praça Getúlio Vargas com uma rapidez ainda não vista, o povo entendeu que se tratava de uma enchente das grandes e começaram a se mudar para casas de aluguel situadas na Avenida J.J. Seabra, parte mais alta ou mesmo para áreas desabitadas e sem construções, que ficavam para os lados onde hoje se situa o Colégio Senhor do Bonfim, onde, na falta de casas para alugar construíam pequenos e provisórios barracos para se abrigarem enquanto o rio estivesse dentro da cidade. A minha família se mudou para uma casa alugada ao Sr. Pompílio, situada no final da Av. J. Seabra, quase em frente ao Grupo Escolar Cezar Zama e lá ficamos até as águas baixarem e a nossa casa na Praça D. Máximo, que foi inundada por quase um metro de água, ficar seca e em condições de se fazer o retorno. Essa volta era mais um grande trabalho que as donas de casa enfrentavam, pois durante os vários dias em que a casa ficara invadida pelas águas a lama se acumulava no piso e nas paredes e era uma dificuldade para fazer a limpeza.
Apesar dos transtornos para os moradores de Xique Xique, os males, por acaso, causados pelas enchentes eram plenamente recompensados pelo humus deixado nas suas margens quando o rio vazava, lá para os meses de junho e julho. Esse húmus era um excelente adubo para plantação e em cima dele os agricultores ribeirinhos, moradores nas inúmeras ilhas que cercam Xiquexique, plantavam o feijão e o milho com que se alimentavam e ainda sobrava algo para vender nas feiras livres. Eram as safras das vazantes ou dos lameiros, como eles chamavam o húmus.
Hoje, praticamente, não mais existem as enchentes do rio suficientes para inundar Xiquexique, ou qualquer outra cidade ribeirinha, em face da construção das Barragens de Três Marias (MG) e de Sobradinho (BA), que controlam o volume de água do Velho Chico, impedindo que as grandes secas reduzam o volume de água e evitando que os grandes invernos promovam as enchentes descontroladas com invasões das cidades. Portanto, graças a essas duas grandes barragens, o feio muro de concreto que fizeram em frente a Xiquexique (O PAREDÃO), perdeu a sua finalidade e hoje serve apenas para enfear a cidade impedindo que os moradores tenham o agradável acesso à beira do rio, além de causar muitos males à saúde pública pois esse PAREDÃO, em toda a sua extensão, está sendo utilizado, à noite ante a falta de iluminação, como mictório e latrina pública exalando em torno da sua área um enorme mau cheiro incômodo e danoso para os xiquexiquenses. PRECISAMOS DERRUBAR O PAREDÃO E RETORNAR O CAIS AO QUE ERA ANTES.
Hoje, praticamente, não mais existem as enchentes do rio suficientes para inundar Xiquexique, ou qualquer outra cidade ribeirinha, em face da construção das Barragens de Três Marias (MG) e de Sobradinho (BA), que controlam o volume de água do Velho Chico, impedindo que as grandes secas reduzam o volume de água e evitando que os grandes invernos promovam as enchentes descontroladas com invasões das cidades. Portanto, graças a essas duas grandes barragens, o feio muro de concreto que fizeram em frente a Xiquexique (O PAREDÃO), perdeu a sua finalidade e hoje serve apenas para enfear a cidade impedindo que os moradores tenham o agradável acesso à beira do rio, além de causar muitos males à saúde pública pois esse PAREDÃO, em toda a sua extensão, está sendo utilizado, à noite ante a falta de iluminação, como mictório e latrina pública exalando em torno da sua área um enorme mau cheiro incômodo e danoso para os xiquexiquenses. PRECISAMOS DERRUBAR O PAREDÃO E RETORNAR O CAIS AO QUE ERA ANTES.
A foto que aqui ilustra é uma raridade e mostra claramente o aspecto da cidade banhada pelo rio São Francisco quando ainda não existia o famigerado muro de concreto, vendo-se a rampa da Praça Getulio Vargas e a rampa da Rua Belo Horizonte, além de toda a extensão da Rua Beira Rio.
No que pesem os transtornos causados pela enchentes quase anuais, a ausência delas era motivo de muita tristeza para a população de Xiquexique pois isso significava falta de chuvas nas cabeceiras do rio e, consequentemente, falta de grãos nos lameiros. A falta do húmus não animava os barranqueiros a plantarem o milho, a mandioca e o feijão, pois sem a cheia do rio não havia a certeza da colheita.
No que pesem os transtornos causados pela enchentes quase anuais, a ausência delas era motivo de muita tristeza para a população de Xiquexique pois isso significava falta de chuvas nas cabeceiras do rio e, consequentemente, falta de grãos nos lameiros. A falta do húmus não animava os barranqueiros a plantarem o milho, a mandioca e o feijão, pois sem a cheia do rio não havia a certeza da colheita.
Assim, com todas as agruras que passavam, as populações ribeirinhas preferiam o rio cheio, mesmo que tivessem o desconforto de mudar de endereço.
ERAM ASSIM AS ENCHENTES DO VELHO CHICO EM XIQUEXIQUE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário