OS AGUADEIROS
Aguadeiros era como a gente chamava às pessoas, geralmente empregadas domésticas, encarregadas de prover água do rio para as necessidades diárias das casas dos patrões.
Existiam dois tipos de aguadeiros. Os homens, jovens e adultos que utilizavam jumentos para transportar uma carga de 4 barris de madeira (o carote), cada um com capacidade para 20 litros d'água e as mulheres que transportavam água utilizando uma lata de querozene contendo aproximadamente 15 litros d'água, equilibrada na cabeça.
As pessoas de maior renda possuiam os seus próprios jumentos e a cangalha apropriada para suportar os 4 barris cheios de água, além de dispor de jovens aguadeiros, crias da casa, que passavam o dia todo no vai-vém da casa para a beira do rio transportando o líquido, para atender à demanda dos patrões e seus filhos que não tinham parcimônia no uso da água.
As famílias de menor renda adquiriam a água necessária comprando a "carga" - 4 barris - na mão de aguadeiros autônomos que tinham o próprio animal de transporte e faziam disso a forma de sustentar a família. As aguadeiras, por sua vez, representadas por mães de família de baixa renda, iam pessoalmente à beira do rio pegar a água que precisavam utilizando latas de querozene que transportavam equilibradas na cabeça.
Normalmente os aguadeiros e aguadeiras utilizavam a rampa do mercado para coletar a água e alí se reuniam às dezenas com suas latas d'água e seus "carotes" sendo acondicionados ou retirados da cangalha, sem que isso atrapalhasse o animado papo em que se envolviam. Era alí, local de reunião dos profissionais mais humildes de Xiquexique, que muitas amizades, namoros e casamentos aconteceram. Muitas vezes, à tardinha, ficava eu sentado no cais próximo a essa grande rampa admirando a alegria e a animação que permeavam o bate papo dessas pessoas quase escravas que não demonstravam cansaço mesmo após um longo dia de pesado trabalho.
Um número reduzido de aguadeiros, ia buscar água na Ponta da Ilha, local que nos idos de 1950, se apresentava como um lugar relativamente distante da rampa do mercado. Alegavam que nesse local a água era mais limpa pois alí o rio era corrente, ao contrário do nosso Lago Ipueira, de águas paradas e barrentas. Mas isso é outra estória, pois a água da Ponta da Ilha era para as pessoas ricas que dispunham de jumentos e aguadeiros próprios ou que pudessem pagar uma "carga de água" mais cara.
Com a chegada do Serviço de Água que dotou Xiquexique de água encanada e tratada, a paisagem bucólica dos aguadeiros e aguadeiras batendo papo na rampa do mercado, enquanto enchiam as latas e os "carotes", feliz ou infelizmente desapareceu.
Ainda cheguei a conhecer dois famosos aguadeiros:
ResponderExcluir"Galo Cego" e "Bonitim" de dona Carmosa.
"Galo" transportava água da Ipueira em latas de querosene , marca jacaré.
"Bonitim",cujo apelido irônico,devia-se a sua estética fora dos padrões de beleza física, ou seja, era feio que só ele, carregava a água, tanto da Ipueira como da Ponta da Ilha em carotes, no lombo dos jumentos.
Era assim Xique-Xique. E você, Juarez, já se tornou o seu historiador e escriba.
nilsonazevedo@globo.com
Amigo Juarez, deixei um comentário no XiqueSampa, que maravilha de imagem. vc tem conhecimento de quem fez essa foto? forte abraço amigo, João Machado
ResponderExcluirComplementando o comentário de Nilson lembrei-me de mais dois aguadeiros: Berto Quebra Voga, que levava água pra casa de Sindu e Chico de Gringo.
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