CLUBE RECREATIVO 7 DE SETEMBRO
Nas décadas 1950/1960 existiam em Xiquexique (BA) 2 clubes sociais para deleite e lazer dos habitantes da cidade: O Clube Cultural e Recreativo Sete de Setembro conhecido como “a Sete”, e o Clube Beneficente dos Operários ou simplesmente “a Operária”. Hoje comentaremos sobre o “a Sete”.
No ano de 1920, em plena época da Intendência, quando o chefe do Executivo era o Cel. Francisco Xavier Guimarães, 12º Intendente Municipal, com mandato de 1920/1922, surge em Xiquexique (BA), com dois anos de antecedência, um movimento, patrocinado pela elite local, para não deixar passar em branco o primeiro centenário da Independência do Brasil, que aconteceria no dia 07 de setembro de 1922.
Depois de muitas reuniões as lideranças xiquexiquenses decidiram criar uma instituição que congregasse as famílias em atividades sociais e culturais e por unanimidade decidiram que o nome dessa entidade seria Sociedade Filarmônica Sete de Setembro, nome esse alterado, em 1940, para Clube Cultural e Recreativo Sete de Setembro, aprovado pela maioria dos associados, porque já havia se transformado em clube de serviços e bailes realizados nas datas importantes.
Segundo algumas informações obtidas de pessoas que acompanharam o início do Clube, informação essa também registrada no livro “Senhor do Bonfim e Bom Jesus de Chique-Chique” Ed. 1999, do historiador e professor Cassimiro Machado Neto, desde o início o Clube Sete de Setembro adotou, indevidamente, o segregacionismo social, quando o primeiro estatuto social determinava que somente pessoas tidas e consideradas membros da alta sociedade xiquexiquense, comerciantes, servidores públicos estaduais e federais e profissionais liberais, poderiam freqüentar os salões de festas e os eventos culturais promovidos pela agremiação. Essa posicão causou grande constrangimento entre a população de Xiquexique, forçando as pessoas pertencentes aos grupos segregados, a partirem para a criação do seu próprio clube social, surgindo em 1935 a Sociedade Beneficente de Operários, em atividade até hoje. Mas, nos anos 1950/1960, essa separação não era rígida e muitos xiquexiquenses freqüentavam indistintamente os dois clubes, pois existia um grande número de comerciantes e outros profissionais que eram sócios da Sete de Setembro e também sócios fundadores do Clube Operário.
Ao contrário do Clube Operário que desde o início se esforçou e construiu uma sede social muito bonita e que está em perfeito estado de conservação até hoje, o Clube 7 de Setembro, desde os anos 1950 funcionava num casarão antigo e sem nenhuma beleza arquitetônica, feio mesmo. Algumas diretorias da Sete até fizeram algumas reformas no prédio, mas a própria estrutura do edifício não permitia o seu embelezamento por melhor que fosse o projeto. A solução parecia ser a demolição do atual e construção de um novo clube. Mas, acredito que mesmo isso não teria dado bom resultado, pois a área e o local não eram adequados a um clube social. Mesmo com todas as reformas que sofreu a sede social da “Sete”, sempre se apresentou acanhada e dispunha apenas de um salão principal e uma pista de dança ao ar livre, que a gente chamava de ringue, destinada, aos bailes carnavalescos, tendo ao fundo um pequeno jardim com bancos de cimento e dois sanitários.
No período 1955/1965 o nosso pequeno clube dispunha apenas de uma pequena radiola e no máximo três dezenas de discos que eram utilizados nas noites dos fins de semana quando os estudantes, em férias, para lá se dirigiam a fim de dançar e namorar ao som dos discos 78 rpm de cera de carnaúba ou eventualmente um ou outro de vinil, os famosos LP que estavam surgindo. Era lá, portanto, o ponto de encontro dos rapazes e moças de Xiquexique. Essas pequenas festinhas que se realizavam nos fins de semana normais e que se prolongavam até as 22 horas, quando a luz da cidade se apagava, até hoje estão gravadas no meu íntimo como uma das melhores fontes de lazer de Xiquexique. Era ali, naquele modesto Clube que a nossa juventude interagia e formava os laços de amizade que duram até hoje. Era ali, também que a gente mantinha contato com as meninas da cidade e o momento em que era permitido uma maior aproximação corporal quando estávamos dançando. Ali, muitos namoros começaram e chegaram ao casamento.
Nas datas importantes da cidade, principalmente na tradicional festa de 1º de janeiro, quando se comemorava o padroeiro Senhor do Bonfim, a Sete se engalanava para receber a elite local. Era o baile mais bem organizado que existia em Xiquexique. Toda a diretoria do clube se esmerava para que os associados se sentissem a vontade e bem instalados. Era uma das poucas vezes em que se adotava a venda, aos sócios, de mesas numeradas além da exigência de que todos comparecessem vestidos a rigor ou seja, palitó e gravata para os homens e vestidos de “toillete”, como eram conhecidos, para as mulheres. As adolescentes, preocupadas em estarem à noite bonitas e atraentes para os adolescentes, passavam o dia aplicando “bobs” nos cabelos, penteados fixados por laquê, unhas das mãos e dos pés tratadas e esmaltadas, envergando sapato de salto alto e o vestido novo, geralmente de tafetá, armado com anaguas engomadas e outras coisas que as tornavam mais bonitas do que já eram. Em contrapartida, os rapazes deveriam se apresentar de terno novo, sapatos lustrados, cabelos penteados e abrilhantinados, vestuário muito incômodo em face ao excessivo calor de janeiro que fazia na cidade.
Nos importantes bailes acontecidos na Sete, o JAZZ era o animador oficial. Tratava-se de um conjunto musical liderado pelo saxofonista e servidor público municipal, Sr. Mario Rapadura, auxiliado pelos músicos Hermes no trombone de vara, Manoel Guerreiro, no banjo e Pedro na bateria. Nessas ocasiões o jazz se esmerava e antecipadamente fazia ensaios preparando todo um repertório para ser tocado no baile de 1º de janeiro.
O interessante, nessa época, é que o consumo de bebidas se limitava a cerveja para os homens adultos e guaranás para as mulheres e crianças. Ainda não havia chegado o costume de se colocar sobre a mesa litros de bebidas destiladas. Quanto aos tira-gosto, além dos tradicionais pasteis era comum, dar-se um intervalo na música para se proceder o leilão de galinhas assadas com vistas a angariar recursos para o clube. Eram galinhas caipiras e geralmente ficavam muito duras e difíceis de serem trinchadas, mas, não obstante a qualidade do assado, não faltavam os lances ousados, de gente da cidade ou de forasteiros, especialmente aqueles que estivessem interessados em fazer bonito, ou exibir-se para alguma donzela. Mas, a compra dessas iguarias ficava a cargo das famílias mais aquinhoadas. A grande maioria passava a noite toda sem comer nada ou fazendo uma boquinha fora do clube onde era mais barato.
Na década de 1980, não sei as causas, as diretorias da Sete não mais se ineressaram em promover o clube e este foi pedendo terreno no meio da sociedade até que a frequência foi reduzida a zero e a istituição deixou, de fato de funcionar restando como lembrança apenas o imóvel onde funcionava situado na Rua Marechal Deodoro (Rua da Sete), em adiantado estado de abandono e decadência.
É uma pena que a atual elite da cidade, hoje mais forte do que há 50 anos atrás, tenha deixado se extinguir um clube social que mesmo sendo de uma pobreza franciscana era o local onde as famílias xiquexiquenses se reuniam com seus filhos nos bailes comemorativos das grandes datas da cidade.
Nas décadas 1950/1960 existiam em Xiquexique (BA) 2 clubes sociais para deleite e lazer dos habitantes da cidade: O Clube Cultural e Recreativo Sete de Setembro conhecido como “a Sete”, e o Clube Beneficente dos Operários ou simplesmente “a Operária”. Hoje comentaremos sobre o “a Sete”.
No ano de 1920, em plena época da Intendência, quando o chefe do Executivo era o Cel. Francisco Xavier Guimarães, 12º Intendente Municipal, com mandato de 1920/1922, surge em Xiquexique (BA), com dois anos de antecedência, um movimento, patrocinado pela elite local, para não deixar passar em branco o primeiro centenário da Independência do Brasil, que aconteceria no dia 07 de setembro de 1922.
Depois de muitas reuniões as lideranças xiquexiquenses decidiram criar uma instituição que congregasse as famílias em atividades sociais e culturais e por unanimidade decidiram que o nome dessa entidade seria Sociedade Filarmônica Sete de Setembro, nome esse alterado, em 1940, para Clube Cultural e Recreativo Sete de Setembro, aprovado pela maioria dos associados, porque já havia se transformado em clube de serviços e bailes realizados nas datas importantes.
Segundo algumas informações obtidas de pessoas que acompanharam o início do Clube, informação essa também registrada no livro “Senhor do Bonfim e Bom Jesus de Chique-Chique” Ed. 1999, do historiador e professor Cassimiro Machado Neto, desde o início o Clube Sete de Setembro adotou, indevidamente, o segregacionismo social, quando o primeiro estatuto social determinava que somente pessoas tidas e consideradas membros da alta sociedade xiquexiquense, comerciantes, servidores públicos estaduais e federais e profissionais liberais, poderiam freqüentar os salões de festas e os eventos culturais promovidos pela agremiação. Essa posicão causou grande constrangimento entre a população de Xiquexique, forçando as pessoas pertencentes aos grupos segregados, a partirem para a criação do seu próprio clube social, surgindo em 1935 a Sociedade Beneficente de Operários, em atividade até hoje. Mas, nos anos 1950/1960, essa separação não era rígida e muitos xiquexiquenses freqüentavam indistintamente os dois clubes, pois existia um grande número de comerciantes e outros profissionais que eram sócios da Sete de Setembro e também sócios fundadores do Clube Operário.
Ao contrário do Clube Operário que desde o início se esforçou e construiu uma sede social muito bonita e que está em perfeito estado de conservação até hoje, o Clube 7 de Setembro, desde os anos 1950 funcionava num casarão antigo e sem nenhuma beleza arquitetônica, feio mesmo. Algumas diretorias da Sete até fizeram algumas reformas no prédio, mas a própria estrutura do edifício não permitia o seu embelezamento por melhor que fosse o projeto. A solução parecia ser a demolição do atual e construção de um novo clube. Mas, acredito que mesmo isso não teria dado bom resultado, pois a área e o local não eram adequados a um clube social. Mesmo com todas as reformas que sofreu a sede social da “Sete”, sempre se apresentou acanhada e dispunha apenas de um salão principal e uma pista de dança ao ar livre, que a gente chamava de ringue, destinada, aos bailes carnavalescos, tendo ao fundo um pequeno jardim com bancos de cimento e dois sanitários.
No período 1955/1965 o nosso pequeno clube dispunha apenas de uma pequena radiola e no máximo três dezenas de discos que eram utilizados nas noites dos fins de semana quando os estudantes, em férias, para lá se dirigiam a fim de dançar e namorar ao som dos discos 78 rpm de cera de carnaúba ou eventualmente um ou outro de vinil, os famosos LP que estavam surgindo. Era lá, portanto, o ponto de encontro dos rapazes e moças de Xiquexique. Essas pequenas festinhas que se realizavam nos fins de semana normais e que se prolongavam até as 22 horas, quando a luz da cidade se apagava, até hoje estão gravadas no meu íntimo como uma das melhores fontes de lazer de Xiquexique. Era ali, naquele modesto Clube que a nossa juventude interagia e formava os laços de amizade que duram até hoje. Era ali, também que a gente mantinha contato com as meninas da cidade e o momento em que era permitido uma maior aproximação corporal quando estávamos dançando. Ali, muitos namoros começaram e chegaram ao casamento.
Nas datas importantes da cidade, principalmente na tradicional festa de 1º de janeiro, quando se comemorava o padroeiro Senhor do Bonfim, a Sete se engalanava para receber a elite local. Era o baile mais bem organizado que existia em Xiquexique. Toda a diretoria do clube se esmerava para que os associados se sentissem a vontade e bem instalados. Era uma das poucas vezes em que se adotava a venda, aos sócios, de mesas numeradas além da exigência de que todos comparecessem vestidos a rigor ou seja, palitó e gravata para os homens e vestidos de “toillete”, como eram conhecidos, para as mulheres. As adolescentes, preocupadas em estarem à noite bonitas e atraentes para os adolescentes, passavam o dia aplicando “bobs” nos cabelos, penteados fixados por laquê, unhas das mãos e dos pés tratadas e esmaltadas, envergando sapato de salto alto e o vestido novo, geralmente de tafetá, armado com anaguas engomadas e outras coisas que as tornavam mais bonitas do que já eram. Em contrapartida, os rapazes deveriam se apresentar de terno novo, sapatos lustrados, cabelos penteados e abrilhantinados, vestuário muito incômodo em face ao excessivo calor de janeiro que fazia na cidade.
Nos importantes bailes acontecidos na Sete, o JAZZ era o animador oficial. Tratava-se de um conjunto musical liderado pelo saxofonista e servidor público municipal, Sr. Mario Rapadura, auxiliado pelos músicos Hermes no trombone de vara, Manoel Guerreiro, no banjo e Pedro na bateria. Nessas ocasiões o jazz se esmerava e antecipadamente fazia ensaios preparando todo um repertório para ser tocado no baile de 1º de janeiro.
O interessante, nessa época, é que o consumo de bebidas se limitava a cerveja para os homens adultos e guaranás para as mulheres e crianças. Ainda não havia chegado o costume de se colocar sobre a mesa litros de bebidas destiladas. Quanto aos tira-gosto, além dos tradicionais pasteis era comum, dar-se um intervalo na música para se proceder o leilão de galinhas assadas com vistas a angariar recursos para o clube. Eram galinhas caipiras e geralmente ficavam muito duras e difíceis de serem trinchadas, mas, não obstante a qualidade do assado, não faltavam os lances ousados, de gente da cidade ou de forasteiros, especialmente aqueles que estivessem interessados em fazer bonito, ou exibir-se para alguma donzela. Mas, a compra dessas iguarias ficava a cargo das famílias mais aquinhoadas. A grande maioria passava a noite toda sem comer nada ou fazendo uma boquinha fora do clube onde era mais barato.
Na década de 1980, não sei as causas, as diretorias da Sete não mais se ineressaram em promover o clube e este foi pedendo terreno no meio da sociedade até que a frequência foi reduzida a zero e a istituição deixou, de fato de funcionar restando como lembrança apenas o imóvel onde funcionava situado na Rua Marechal Deodoro (Rua da Sete), em adiantado estado de abandono e decadência.
É uma pena que a atual elite da cidade, hoje mais forte do que há 50 anos atrás, tenha deixado se extinguir um clube social que mesmo sendo de uma pobreza franciscana era o local onde as famílias xiquexiquenses se reuniam com seus filhos nos bailes comemorativos das grandes datas da cidade.
Juarez Chaves
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