A cultura da Cebola em Xique-Xique (BA)
Juarez M. Chaves
O município baiano de Xique-Xique, não obstante estar situado na margem direita do Rio São Francisco, tendo a banhar-lhe a Ipueira, grande lago com mais de 10 km de extensão e quase meio quilômetro de largura, formado pela Ilha do Gado Bravo que fica em frente à cidade, nunca teve vocação agrícola.
A cidade, desde que me entendo, sempre viveu da atividade comercial que era feita, principalmente através dos vapores e barcas no rio São Francisco. Era comum a existência de grandes comerciantes locais que dispunham de depósitos para armazenarem os grãos adquiridos junto aos pequenos agricultores situados nos seus antigos distritos de Tiririca, Várzea Grande, Uibaí. Central, Mundinho, etc.. ou até mesmo em municípios vizinhos como Irecê e Morro do Chapéu.
Os comerciantes locais, acostumados, desde muito tempo, ao lucro fácil e à rápida rotatividade do seu capital nunca se preocuparam em explorar as férteis terras situadas no arquipélago que cerca a cidade, utilizando a irrigação facilitada pelo grande potencial hídrico formado pelas águas do Velho Chico. Nada disso os tirava da visão de curto prazo que encarava a agricultura como uma atividade demorada e altamente arriscada ante a certeza da seca na região. Esqueciam que tinham um grande rio na porta. Preferiam comprar aos pequenos produtores os grãos já colhidos da pouca safra que por acaso tivessem conseguido.
Agricultura mesmo e em pequena escala, existia apenas nas várias ilhas do município, nas áreas de vazantes do rio, conhecidas, também como “lameiros”, cujos ilhéus por ocasião das feiras semanais, apareciam em Xique-Xique para vender os seus poucos produtos agrícolas que eram trazidos em pequenas embarcações e vendidos em redor do mercado Municipal. Eram produtos obtidos em pequeníssima escala e basicamente representados por farinha, tapioca, beijus, batata doce, abóbora, feijão verde e alguma verdura. O pouco dinheiro obtido com as vendas era totalmente gasto no comércio local com a obtenção daquilo que não produziam nas ilhas: o fumo, o açúcar, a cachaça, o café, o vestuário, o medicamento e outras coisas mais. Assim, o dinheiro não saía da cidade.
Paralelamente à atividade comercial a elite de Xique-Xique experimentava, também, uma rudimentar pecuária extensiva com os bovinos sendo criados soltos e pastando na imensa caatinga do grande território do município. Somente uma vez por ano era feita uma tentativa de juntar esses animais para que o ferro do fazendeiro fosse colocado no bezerro ou garrote que nascera. Nesse momento os vaqueiros ganhavam algum dinheiro pois o sistema era na base de 4 por 1 ou seja o vaqueiro tinha direito a 25 % dos novos animais ferrados.
Essa despreocupação ou comodismo com a pecuária, com toda certeza foi um vício adquirido desde que os primeiros habitantes, liderados pelo rico português Theobaldo José Miranda Pires de Carvalho aportou no ano de 1695 na localidade onde hoje está situada a cidade de Xique-Xique e ali estabeleceu uma grande fazenda de gado.
Com o cultivo da cebola, aconteceu algo diferente na atividade agrícola local.
O município baiano de Xique-Xique, não obstante estar situado na margem direita do Rio São Francisco, tendo a banhar-lhe a Ipueira, grande lago com mais de 10 km de extensão e quase meio quilômetro de largura, formado pela Ilha do Gado Bravo que fica em frente à cidade, nunca teve vocação agrícola.
A cidade, desde que me entendo, sempre viveu da atividade comercial que era feita, principalmente através dos vapores e barcas no rio São Francisco. Era comum a existência de grandes comerciantes locais que dispunham de depósitos para armazenarem os grãos adquiridos junto aos pequenos agricultores situados nos seus antigos distritos de Tiririca, Várzea Grande, Uibaí. Central, Mundinho, etc.. ou até mesmo em municípios vizinhos como Irecê e Morro do Chapéu.
Os comerciantes locais, acostumados, desde muito tempo, ao lucro fácil e à rápida rotatividade do seu capital nunca se preocuparam em explorar as férteis terras situadas no arquipélago que cerca a cidade, utilizando a irrigação facilitada pelo grande potencial hídrico formado pelas águas do Velho Chico. Nada disso os tirava da visão de curto prazo que encarava a agricultura como uma atividade demorada e altamente arriscada ante a certeza da seca na região. Esqueciam que tinham um grande rio na porta. Preferiam comprar aos pequenos produtores os grãos já colhidos da pouca safra que por acaso tivessem conseguido.
Agricultura mesmo e em pequena escala, existia apenas nas várias ilhas do município, nas áreas de vazantes do rio, conhecidas, também como “lameiros”, cujos ilhéus por ocasião das feiras semanais, apareciam em Xique-Xique para vender os seus poucos produtos agrícolas que eram trazidos em pequenas embarcações e vendidos em redor do mercado Municipal. Eram produtos obtidos em pequeníssima escala e basicamente representados por farinha, tapioca, beijus, batata doce, abóbora, feijão verde e alguma verdura. O pouco dinheiro obtido com as vendas era totalmente gasto no comércio local com a obtenção daquilo que não produziam nas ilhas: o fumo, o açúcar, a cachaça, o café, o vestuário, o medicamento e outras coisas mais. Assim, o dinheiro não saía da cidade.
Paralelamente à atividade comercial a elite de Xique-Xique experimentava, também, uma rudimentar pecuária extensiva com os bovinos sendo criados soltos e pastando na imensa caatinga do grande território do município. Somente uma vez por ano era feita uma tentativa de juntar esses animais para que o ferro do fazendeiro fosse colocado no bezerro ou garrote que nascera. Nesse momento os vaqueiros ganhavam algum dinheiro pois o sistema era na base de 4 por 1 ou seja o vaqueiro tinha direito a 25 % dos novos animais ferrados.
Essa despreocupação ou comodismo com a pecuária, com toda certeza foi um vício adquirido desde que os primeiros habitantes, liderados pelo rico português Theobaldo José Miranda Pires de Carvalho aportou no ano de 1695 na localidade onde hoje está situada a cidade de Xique-Xique e ali estabeleceu uma grande fazenda de gado.
Com o cultivo da cebola, aconteceu algo diferente na atividade agrícola local.
Introduzida no Nordeste no final da década de 1940, já na década seguinte predominava no Vale do Rio São Francisco principalmente na divisa Bahia e Pernambuco. Na segunda metade da década de 1960 o plantio de cebola tornou-se a moda entre os agricultores pernambucanos que possuíam imóveis rurais na margem do São Francisco tendo como principal pólo produtor a cidade de Petrolina. que faz divisa com a Bahia.
Com o aumento do custo dos insumos agrícolas e principalmente o preço da terra, nos municípios pernambucanos, muitos ceboleiros e alguns agrônomos decidiram “subir” o rio e se estabeleceram em várias cidades ribeirinhas da Bahia, com destaque para Xique-Xique que era banhada por uma imensa Ipueira, ideal para a lavoura irrigada.
No que pese a nata inaptidão para a agricultura, a chegada dos ceboleiros pernambucanos experientes, cheios de vontade e determinação que de logo atacaram as terras improdutivas, comprando-as ou arrendando-as, contaminou a elite xiquexiquense dona de terras na beira do rio e assim foi deflagrado a "febre" da cebola no município, criando uma expectativa no sentido de alavancar a atividade agrícola que era tangida sem muita vocação e pouca técnica.
Assim, esses primeiros ceboleiros trabalharam por mais de 20 anos dando ao município de Xique-Xique a oportunidade de uma grande produção de cebola além de outros produtos como o melão e a melancia que eram plantadas em consórcio e que gerando rendas extras para os produtores abasteciam os mercados das capitais do País. No decorrer desse tempo, os xiquexiquenses que pouco entendiam de agricultura e absolutamente nada de cebola, foram assimilando a tecnologia da irrigação e passaram, eles próprios a também produzir a cebola em suas terras antes totalmente improdutivas.
Foi um período de franco desenvolvimento agrícola no município quando se utilizou intensivamente o insumo água permitindo um acréscimo constante na produção de cebola. Foi um tempo em que as terras situadas na margem do rio, antes improdutivas tiveram a sua unidade de área imediatamente valorizada pela grande demanda para aquisição de propriedade e para arrendamentos.
Essas transações foram estimuladas, também, pela facilidade com que os bancos federais – Banco do Brasil e Banco do Nordeste – concediam empréstimos para o custeio rural do plantio de cebola no município de Xique-Xique, surgindo assim, uma conjunção de fatores que contribuiu e impulsionou a agricultura da cebola irrigada e conseqüentemente o aumento da riquezas em Xique-Xique, movimentando todas as faces de sua modesta economia.
Com a elevação do preço da terra na beira do rio São Francisco, os ceboleiros que continuavam chegando de Pernambuco tiveram que entrar pelo interior do município e se estabeleceram no distrito de Tiririca, atual cidade de Itaguaçu da Bahia, banhado pelo Rio Verde, afluente do São Francisco. As terras banhadas pelo pequeno Rio Verde, férteis e ainda de pouco valor, aumentaram consideravelmente a produção de cebola no município de Xique-Xique, transformando-o no maior produtor de cebola do Estado da Bahia. A produção foi tão grande que os ceboleiros tiveram que adquirir modernas máquinas para fazer a seleção e embalagem do produto, vez que feita manualmente não estava dando vencimento à produção que saia da terra. Contam os mais velhos que diariamente saiam de Xique-Xique para os mercados consumidores mais de 200 caminhões carregados de cebola.
Mas, passadas duas décadas de intensa produção de cebola, quando muitos xiquexiquenses adquiriram grandes patrimônios, surgindo novos ricos além da geração de um grande número de empregos na agricultura, ocorreu o momento inesperado da decadência e com isso a total derrocada dos ceboleiros em todo o município e o total abandono da atividade.
Muitas são as explicações para o desastre. Alegam os estudiosos do fenômeno que faltou interesse do governo estadual, no sentido de construir um Mercado do Produtor, para receber a safra. Outros alegam que os órgãos federais e estaduais de fomento à agricultura não forneceram a devida assistência técnica para que a lavoura se desenvolvesse a contento. Culpam, também, o MERCOSUL que criava todas as facilidades para que os ceboleiros argentinos colocassem toda a produção dentro do Brasil a preços bem menores que o custo de produção brasileiro, atingindo em cheio a cebola sãofranciscana, principalmente a cultivada em Xique-Xique.
No meu entender o fim da cultura de cebola em Xique-Xique, que durante 20 anos se desenvolveu com muito sucesso por contar com abundância de água principal insumo de qualquer agricultura que se queira implantar no Nordeste, foi a incompetência política e o desinteresse para com a atividade agrícola, fatores que até hoje ainda prevalecem no meio empresarial da minha terra. A argumentação da concorrência da cebola importada e a ausência de ajuda governamental são meras desculpas esfarrapadas para justificar a inércia dos nossos políticos e empresários.
O final da cebola em Xique-Xique, veio apenas ratificar que o interesse local visa apenas a atividade comercial não havendo, por enquanto a motivação do nosso empresário local para os assuntos relacionados com a agricultura e a pecuária. A cebola e os seus consórcios de melão, melancia, tomate, cenoura, beterraba, etc continuam sendo produzidos e consumidos em todo o mundo e o xiquexiquense, não obstante dispor de água e terra em abundância se vê obrigado a consumir esse alimentos produzidos em outros municípios que não possuem água e nem a sua extensão territorial.
É uma humilhação e uma falta de amor próprio que precisam ser analisadas e superadas para que o nosso município, possuidor dos maiores recursos naturais destinados à agropecuária se veja empobrecido e sem expressão política ou econômica, simplesmente porque as nossas lideranças não acordam para sair do marasmo e do comodismo condições sine que non para que chegue o desenvolvimento. A permanecer no que está, sempre seremos uma cidade baiana de terceira categoria, no que pese a nossa já considerável população e extensão territorial do município.
Com o aumento do custo dos insumos agrícolas e principalmente o preço da terra, nos municípios pernambucanos, muitos ceboleiros e alguns agrônomos decidiram “subir” o rio e se estabeleceram em várias cidades ribeirinhas da Bahia, com destaque para Xique-Xique que era banhada por uma imensa Ipueira, ideal para a lavoura irrigada.
No que pese a nata inaptidão para a agricultura, a chegada dos ceboleiros pernambucanos experientes, cheios de vontade e determinação que de logo atacaram as terras improdutivas, comprando-as ou arrendando-as, contaminou a elite xiquexiquense dona de terras na beira do rio e assim foi deflagrado a "febre" da cebola no município, criando uma expectativa no sentido de alavancar a atividade agrícola que era tangida sem muita vocação e pouca técnica.
Assim, esses primeiros ceboleiros trabalharam por mais de 20 anos dando ao município de Xique-Xique a oportunidade de uma grande produção de cebola além de outros produtos como o melão e a melancia que eram plantadas em consórcio e que gerando rendas extras para os produtores abasteciam os mercados das capitais do País. No decorrer desse tempo, os xiquexiquenses que pouco entendiam de agricultura e absolutamente nada de cebola, foram assimilando a tecnologia da irrigação e passaram, eles próprios a também produzir a cebola em suas terras antes totalmente improdutivas.
Foi um período de franco desenvolvimento agrícola no município quando se utilizou intensivamente o insumo água permitindo um acréscimo constante na produção de cebola. Foi um tempo em que as terras situadas na margem do rio, antes improdutivas tiveram a sua unidade de área imediatamente valorizada pela grande demanda para aquisição de propriedade e para arrendamentos.
Essas transações foram estimuladas, também, pela facilidade com que os bancos federais – Banco do Brasil e Banco do Nordeste – concediam empréstimos para o custeio rural do plantio de cebola no município de Xique-Xique, surgindo assim, uma conjunção de fatores que contribuiu e impulsionou a agricultura da cebola irrigada e conseqüentemente o aumento da riquezas em Xique-Xique, movimentando todas as faces de sua modesta economia.
Com a elevação do preço da terra na beira do rio São Francisco, os ceboleiros que continuavam chegando de Pernambuco tiveram que entrar pelo interior do município e se estabeleceram no distrito de Tiririca, atual cidade de Itaguaçu da Bahia, banhado pelo Rio Verde, afluente do São Francisco. As terras banhadas pelo pequeno Rio Verde, férteis e ainda de pouco valor, aumentaram consideravelmente a produção de cebola no município de Xique-Xique, transformando-o no maior produtor de cebola do Estado da Bahia. A produção foi tão grande que os ceboleiros tiveram que adquirir modernas máquinas para fazer a seleção e embalagem do produto, vez que feita manualmente não estava dando vencimento à produção que saia da terra. Contam os mais velhos que diariamente saiam de Xique-Xique para os mercados consumidores mais de 200 caminhões carregados de cebola.
Mas, passadas duas décadas de intensa produção de cebola, quando muitos xiquexiquenses adquiriram grandes patrimônios, surgindo novos ricos além da geração de um grande número de empregos na agricultura, ocorreu o momento inesperado da decadência e com isso a total derrocada dos ceboleiros em todo o município e o total abandono da atividade.
Muitas são as explicações para o desastre. Alegam os estudiosos do fenômeno que faltou interesse do governo estadual, no sentido de construir um Mercado do Produtor, para receber a safra. Outros alegam que os órgãos federais e estaduais de fomento à agricultura não forneceram a devida assistência técnica para que a lavoura se desenvolvesse a contento. Culpam, também, o MERCOSUL que criava todas as facilidades para que os ceboleiros argentinos colocassem toda a produção dentro do Brasil a preços bem menores que o custo de produção brasileiro, atingindo em cheio a cebola sãofranciscana, principalmente a cultivada em Xique-Xique.
No meu entender o fim da cultura de cebola em Xique-Xique, que durante 20 anos se desenvolveu com muito sucesso por contar com abundância de água principal insumo de qualquer agricultura que se queira implantar no Nordeste, foi a incompetência política e o desinteresse para com a atividade agrícola, fatores que até hoje ainda prevalecem no meio empresarial da minha terra. A argumentação da concorrência da cebola importada e a ausência de ajuda governamental são meras desculpas esfarrapadas para justificar a inércia dos nossos políticos e empresários.
O final da cebola em Xique-Xique, veio apenas ratificar que o interesse local visa apenas a atividade comercial não havendo, por enquanto a motivação do nosso empresário local para os assuntos relacionados com a agricultura e a pecuária. A cebola e os seus consórcios de melão, melancia, tomate, cenoura, beterraba, etc continuam sendo produzidos e consumidos em todo o mundo e o xiquexiquense, não obstante dispor de água e terra em abundância se vê obrigado a consumir esse alimentos produzidos em outros municípios que não possuem água e nem a sua extensão territorial.
É uma humilhação e uma falta de amor próprio que precisam ser analisadas e superadas para que o nosso município, possuidor dos maiores recursos naturais destinados à agropecuária se veja empobrecido e sem expressão política ou econômica, simplesmente porque as nossas lideranças não acordam para sair do marasmo e do comodismo condições sine que non para que chegue o desenvolvimento. A permanecer no que está, sempre seremos uma cidade baiana de terceira categoria, no que pese a nossa já considerável população e extensão territorial do município.
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