AS LAPINHAS DO NATAL
Juarez Morais Chaves
É tradição de muitos anos em Xique Xique, no início do mês de dezembro as famílias montarem um presépio de Natal ao qual dão o nome de "LAPINHA". As lapinhas, representação do nascimento de Jesus, eram feitas com pedras e papeis pintados, pequenas imagens de animais, diversos brinquedos e outros materiais que poderiam ser encontrados na cidade, muito carente e muito pobre. As fazedoras de lapinhas não se contentavam apenas com a montagem da gruta abrigando a família de Nazaré, cercada pelos reis magos. A gruta tradicional sempre estava presente, feita de pedras envoltas em papel de jornal pintado, mas, em volta, a decoração tomava o rumo imaginado pela dona da lapinha. Valia colocar tudo que se dispusesse em casa e que sob sua ótica servisse para enfeitar a sua homenagem ao Menino Deus, não importando se aquele objeto estava ou não em conformidade com a liturgia do Advento.
Por isso as Lapinhas variavam de tamanho em função da armação da gruta e dos itens decorativos espalhados por toda a estrutura. O que se queria era impressionar os visitantes que, com certeza estariam, no mês de dezembro a percorrer casa por casa admirando as lapinhas, às vezes as mesmas que vira no ano anterior e em nada mudara, pois a dona já tinha de cor os objetos decorativos a serem utilizados bem como os seus respectivos lugares.
Era muito comum, pela novidade, a utilização de pequenas conchas marinhas, dessas que são abundantes em todas as praias do nordeste e que eram trazidas e presenteadas por algum amigo que estivera em Salvador. As lapinhas que nos acostumamos a admirar em nossa infância, quando a gente peregrinava pelas casas em Xique-Xique, roteiro que também fizeram os nossos pais e avós, eram presépios pitorescos, de graça ingênua que tinham indefectivelmente um “lago” feito de espelho, cercado de fina e branca areia trazida das praias de Salvador ou da Gameleira do Assuruá onde "nadavam" patos e outras aves aquáticas, além de vários animais feitos de barro de louça pintado ou porcelana, uma infinidade de bugigangas, enfeites, bonecos de louça, bibelôs de resina, vasos de plantas no meio de seixos e latinhas com arroz recém brotados, trenzinhos de ferro que se acomodavam ao lado de camelos e dromedários, pastores de cajado e vestidos de pele de carneiro ombreando-se com marujos de gorro à francesa e soldadinhos de chumbo ao último modelo americano e, tudo o mais de quinquilharias que a dona pudesse guardar para ser usada na decoração da sua lapinha. Face à tradicionalidade desse trabalho existiam famílias que faziam lapinhas desde o início do séc. XX, continuando uma tradição que vinha dos seus avós. Por isso, como novos enfeites decorativos eram anualmente agregados a cada montagem da lapinha a tendência é que ano a ano fosse aumentando cada vez mais os itens utilizados na feitura da homenagem. As lapinhas de Xique-Xique estavam mais para um trabalho de decoração artesanal do que para uma homenagem ao menino Deus. Existiam lapinhas famosas e que faziam de tudo para se manterem na posição. Os xiquexiquenses mais velhos relembram ainda hoje, com saudades, as lapinhas mais bonitas e mais bem feitas de Xique-Xique que eram armadas logo no começo do mês de dezembro. Lembro-me muito bem de algumas lapinhas que ficaram gravadas na minha memória: a lapinha de D. Filomena, que ficava na Rua Marechal Deodoro, a de D. Beleza Guedes que ficava na mesma rua, a lapinha de D. Adalgisa que ficava na Rua Góis Calmon, afora outras dezenas que não consigo lembrar-me devido a passagem do tempo. No entanto, todas eram lapinhas feitas com muita dedicação e muito bom gosto com uma profusão de brinquedos e enfeites que somente eram expostos a cada ano. Chegado o dia de Reis, quando as lapinhas eram desmontadas, esses maravilhosos brinquedos e enfeites que enfeitiçavam as cabecinhas das crianças visitantes e provocavam o deleite dos adultos, eram novamente encaixotados e guardados por mais um ano. Muitas lapinhas que eram visitadas nos anos 1950, continuam hoje a serem armadas fazendo o mesmo sucesso de antigamente, o que demonstra que a homenagem ao Deus da Esperança que em breve chegará, ainda continua forte.Todas as famílias de Xique-Xique, que armavam lapinhas, tinham a maior satisfação em receber os conterrâneos para mostrar a sua obra prima. Nessas ocasiões eram servidos cafezinhos e bolos caseiros para todos os visitantes e era patente o largo sorriso sempre estampado na face da dona da lapinha acompanhando a admiração dos visitantes e dando explicações da origem de cada um dos enfeites espalhados. E, faziam isso com muito orgulho e dedicação, fossem as lapinhas grandes e ricas ou lapinhas pequenas e modestas, pois todas eram visitadas pela população da cidade.
Juarez Morais Chaves
É tradição de muitos anos em Xique Xique, no início do mês de dezembro as famílias montarem um presépio de Natal ao qual dão o nome de "LAPINHA". As lapinhas, representação do nascimento de Jesus, eram feitas com pedras e papeis pintados, pequenas imagens de animais, diversos brinquedos e outros materiais que poderiam ser encontrados na cidade, muito carente e muito pobre. As fazedoras de lapinhas não se contentavam apenas com a montagem da gruta abrigando a família de Nazaré, cercada pelos reis magos. A gruta tradicional sempre estava presente, feita de pedras envoltas em papel de jornal pintado, mas, em volta, a decoração tomava o rumo imaginado pela dona da lapinha. Valia colocar tudo que se dispusesse em casa e que sob sua ótica servisse para enfeitar a sua homenagem ao Menino Deus, não importando se aquele objeto estava ou não em conformidade com a liturgia do Advento.
Por isso as Lapinhas variavam de tamanho em função da armação da gruta e dos itens decorativos espalhados por toda a estrutura. O que se queria era impressionar os visitantes que, com certeza estariam, no mês de dezembro a percorrer casa por casa admirando as lapinhas, às vezes as mesmas que vira no ano anterior e em nada mudara, pois a dona já tinha de cor os objetos decorativos a serem utilizados bem como os seus respectivos lugares.
Era muito comum, pela novidade, a utilização de pequenas conchas marinhas, dessas que são abundantes em todas as praias do nordeste e que eram trazidas e presenteadas por algum amigo que estivera em Salvador. As lapinhas que nos acostumamos a admirar em nossa infância, quando a gente peregrinava pelas casas em Xique-Xique, roteiro que também fizeram os nossos pais e avós, eram presépios pitorescos, de graça ingênua que tinham indefectivelmente um “lago” feito de espelho, cercado de fina e branca areia trazida das praias de Salvador ou da Gameleira do Assuruá onde "nadavam" patos e outras aves aquáticas, além de vários animais feitos de barro de louça pintado ou porcelana, uma infinidade de bugigangas, enfeites, bonecos de louça, bibelôs de resina, vasos de plantas no meio de seixos e latinhas com arroz recém brotados, trenzinhos de ferro que se acomodavam ao lado de camelos e dromedários, pastores de cajado e vestidos de pele de carneiro ombreando-se com marujos de gorro à francesa e soldadinhos de chumbo ao último modelo americano e, tudo o mais de quinquilharias que a dona pudesse guardar para ser usada na decoração da sua lapinha. Face à tradicionalidade desse trabalho existiam famílias que faziam lapinhas desde o início do séc. XX, continuando uma tradição que vinha dos seus avós. Por isso, como novos enfeites decorativos eram anualmente agregados a cada montagem da lapinha a tendência é que ano a ano fosse aumentando cada vez mais os itens utilizados na feitura da homenagem. As lapinhas de Xique-Xique estavam mais para um trabalho de decoração artesanal do que para uma homenagem ao menino Deus. Existiam lapinhas famosas e que faziam de tudo para se manterem na posição. Os xiquexiquenses mais velhos relembram ainda hoje, com saudades, as lapinhas mais bonitas e mais bem feitas de Xique-Xique que eram armadas logo no começo do mês de dezembro. Lembro-me muito bem de algumas lapinhas que ficaram gravadas na minha memória: a lapinha de D. Filomena, que ficava na Rua Marechal Deodoro, a de D. Beleza Guedes que ficava na mesma rua, a lapinha de D. Adalgisa que ficava na Rua Góis Calmon, afora outras dezenas que não consigo lembrar-me devido a passagem do tempo. No entanto, todas eram lapinhas feitas com muita dedicação e muito bom gosto com uma profusão de brinquedos e enfeites que somente eram expostos a cada ano. Chegado o dia de Reis, quando as lapinhas eram desmontadas, esses maravilhosos brinquedos e enfeites que enfeitiçavam as cabecinhas das crianças visitantes e provocavam o deleite dos adultos, eram novamente encaixotados e guardados por mais um ano. Muitas lapinhas que eram visitadas nos anos 1950, continuam hoje a serem armadas fazendo o mesmo sucesso de antigamente, o que demonstra que a homenagem ao Deus da Esperança que em breve chegará, ainda continua forte.Todas as famílias de Xique-Xique, que armavam lapinhas, tinham a maior satisfação em receber os conterrâneos para mostrar a sua obra prima. Nessas ocasiões eram servidos cafezinhos e bolos caseiros para todos os visitantes e era patente o largo sorriso sempre estampado na face da dona da lapinha acompanhando a admiração dos visitantes e dando explicações da origem de cada um dos enfeites espalhados. E, faziam isso com muito orgulho e dedicação, fossem as lapinhas grandes e ricas ou lapinhas pequenas e modestas, pois todas eram visitadas pela população da cidade.
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