JÚLIO VELHO OU JÚLIO DO BANDOLIM
Juarez M. Chaves
Conheci Júlio Velho, no meado da década de 1960, já como grande tocador de bandolim e caminhoneiro profissional, acostumado, desde a década de 1940, a viajar de Xique-Xique a Salvador, enfrentando as precárias rodovias da época. Júlio Velho sempre estava de bom humor e o segredo nada mais era do que a presença do estimado bandolim que com ele sempre viajava na boléia do caminhão. Onde quer que estacionasse para um merecido descanso, de imediato sacava do “bandola” para, antes de qualquer coisa, solar algum chorinho para a presente, fiel e constante platéia que já existia nas cidades por onde passava e sempre esperava a chegada do caminhão de Júlio Velho.
Nascido no ano de 1918, no Distrito de Roça de Dentro, na época, pertencente ao Município Xique-Xique (BA) e atualmente cidade de Central (BA), Júlio Velho, batizado e registrado como Júlio Ferreira de Brito, logo cedo, desencantou-se da profissão de agricultor, herdada dos seus ascendentes e decidiu adotar a profissão de caminhoneiro, atividade mais prazerosa todavia mais arriscada ante a inexistência, na sua região, de estradas adequadas para o transporte rodoviário, o que o transformou junto com seus irmãos, em verdadeiros pioneiros do transporte de cargas e passageiros das margens do Rio São Francisco à capital da Bahia.
Conheci Júlio Velho, no meado da década de 1960, já como grande tocador de bandolim e caminhoneiro profissional, acostumado, desde a década de 1940, a viajar de Xique-Xique a Salvador, enfrentando as precárias rodovias da época. Júlio Velho sempre estava de bom humor e o segredo nada mais era do que a presença do estimado bandolim que com ele sempre viajava na boléia do caminhão. Onde quer que estacionasse para um merecido descanso, de imediato sacava do “bandola” para, antes de qualquer coisa, solar algum chorinho para a presente, fiel e constante platéia que já existia nas cidades por onde passava e sempre esperava a chegada do caminhão de Júlio Velho.
Nascido no ano de 1918, no Distrito de Roça de Dentro, na época, pertencente ao Município Xique-Xique (BA) e atualmente cidade de Central (BA), Júlio Velho, batizado e registrado como Júlio Ferreira de Brito, logo cedo, desencantou-se da profissão de agricultor, herdada dos seus ascendentes e decidiu adotar a profissão de caminhoneiro, atividade mais prazerosa todavia mais arriscada ante a inexistência, na sua região, de estradas adequadas para o transporte rodoviário, o que o transformou junto com seus irmãos, em verdadeiros pioneiros do transporte de cargas e passageiros das margens do Rio São Francisco à capital da Bahia.
Quando decidiu largar a agricultura, na década de 1940 e até a sua morte, ocorrida no ano de 1982, Júlio Velho percorreu mais de 40 anos de estrada, inicialmente trabalhando como motorista em sociedade com os irmãos por ainda por possuir capital para comprar o próprio carro. No entanto, já década de 1950 conseguiu comprar o primeiro caminhão, um Ford 1951 e a partir daí vários foram os que passaram por suas mãos, dando sempre a preferência aos de marca Chevrolet, tendo encerrado a profissão da caminhoneiro com um Chevrolet 1977, seu último “cheba”.
Quando passava os fins de semana com a família e por isso podia dispor de mais tempo, Júlio Velho tinha como lazer a caça, que exercida desde a adolescência transformou-o em exímio atirador. Contam os mais íntimos que para demonstrar a excelente pontaria, Júlio costumava, no dia da “malhação” do Judas, cortar com um tiro de espingarda, a corda que pendurava o boneco de pano à forca fazendo com que caísse ao chão tomado pelo fogo e pelas bombas que logo o destruiria.
Quando passava os fins de semana com a família e por isso podia dispor de mais tempo, Júlio Velho tinha como lazer a caça, que exercida desde a adolescência transformou-o em exímio atirador. Contam os mais íntimos que para demonstrar a excelente pontaria, Júlio costumava, no dia da “malhação” do Judas, cortar com um tiro de espingarda, a corda que pendurava o boneco de pano à forca fazendo com que caísse ao chão tomado pelo fogo e pelas bombas que logo o destruiria.
Em 1926, com apenas 8 anos, Júlio Velho passou por uma experiência que o marcou para o resto da vida. Foi quando a sua família teve que fugir para o interior da caatinga, um local bem afastado para se livrar da Coluna Prestes que, pelas notícias, estava se dirigindo o Distrito de Roça de Dentro, atual cidade de Central (BA). Ele e os irmãos foram colocados dentro de bruacas de couro, colocados em lombo de burros e junto com os demais membros da familia fugiram da sua terra natal somente retornando após a saída dos "revoltosos" denominação que era conhecida a Coluna Prestes.
Todavia, a maior paixão de Júlio Velho era o seu bandolim que aprendeu a tocar “de ouvido”, sem nunca ter freqüentado uma escola de música. Não escolhia hora, nem dia e nem ambiente para dedilhar o querido instrumento. Tocava por puro prazer e devoção composições dos grandes mestres e também às suas próprias compostas por pura emoção e inata vocação, vez que nada entendia de teoria musical e muito menos de partitura. Nunca se fazia de rogado e no rosto sempre estampava a ingênua alegria de estar fazendo algo de bom para si e para os que o ouviam. Tornou-se, assim, o mais afamado tocador de bandolim da região.
Tocar bandolim, para Júlio Velho, que também passou a ser conhecido como Júlio do Bandolim, era uma coisa que o transformava. Era como se estivesse sob o efeito de uma forte droga. Não via e nem ouvia nada e, enquanto tangia as cordas com a palheta, a mão esquerda, grande e forte como a de um urso, abraçava carinhosamente o fino braço do bandolim e os grossos dedos, acostumados ao volante do caminhão, pousavam suave e exatamente nos pequenos espaços de cada nota musical sem provocar a mínima distorção.
Não mais era o Júlio acostumado à pesada lide no velho caminhão, subindo e descendo serras, atolando e desatolando o carro nas épocas das chuvas na caatinga ou mesmo deitado sobre o motor e sob o capuz, quando acontecia algum “prego” no decurso de uma viagem.
Era o Júlio brincalhão, bem humorado e que se pudesse passaria o dia todo com o seu bandolim nos braços.
Em 1976, já quase sexagenário Júlio Velho aceitando o convite de alguns amigos músicos, resolveu participar de um conjunto musical na companhia de dois grandes violonistas, Everaldo de Souza e Geraldo Carioca que, juntos trabalharam e se divertiram até 1982, ano que aconteceu a precoce morte do grande bandolinista causando um imensurável desfalque ao conjunto musical.
No que pese os constantes convites para tocarem na noite xiquexiquense, o “Carioca Show”, assim se chamava o conjunto musical, não se caracterizava como uma atividade profissional, pois os seus componentes tinham outros afazeres, a exemplo de Júlio Velho que nunca abandonou a profissão de caminhoneiro.
A exemplo da estrela maior empunhando o bandolim, todos tocavam pelo prazer de fazer música e de serem ovacionados pela multidão de fãs que afluía em qualquer lugar que o grupo se apresentasse.
A foto acima mostra a composição do “Carioca Show”, que apesar da grande perda sofrida com a ausência de Júlio do Bandolim falecido em 1982, conseguiu sobreviver até o ano de 1988 quando se extinguiu.
Além do exímio bandolinista compunham o grupo os seguintes músicos:
Everaldo Peregrino, à direita de Júlio, violonista, destacou-se como virtuose desde os tempos de estudante em Salvador, na década de 1960. Sobressaía dos violonistas xiquexiquenses por gostar de solar as composições do mestre Dilermando Reis, do qual era exímio intérprete. Por conta dessa intimidade com o violão, naquela década freqüentava com assiduidade os lugares boêmios de Salvador, quando teve oportunidade de conviver com Caetano Veloso e Gilberto Gil quando ainda eram famosos só na Bahia. Atualmente, segundo informações reside na cidade de Barreiras (BA).
Geraldo Carioca, à esquerda de Júlio, outro grande violonista, que tinha como atividade principal a agricultura e a pecuária, de onde extraia o sustento da família, exercidas em imóvel rural situado na Fazenda Carnaúba, cujos produtos eram vendidos no mercado de Xique-Xique. Muito amigo de Júlio, tinha, como esse, um grande amor pela música, atividade que exercia com alegria e devoção. Conseguiu passar a arte musical para os seus três filhos que hoje são excelentes músicos. Faleceu em Xique-Xique no meado da década de 1990.
Heitor, também agricultor e que animava o conjunto musical na atividade de cantor, ainda vive em Xique-Xique, viúvo e aposentado, mas, eventualmente ainda se apresenta cantando em alguns bailes na cidade, apenas pelo prazer de matar as saudades.
Dona Diana, esposa do grande Júlio do Bandolim, ainda guarda com muito carinho o famoso instrumento que, desde o ano de 1982 mantém respeitoso silêncio, mas que, mesmo sentindo a falta da palheta a vibrar-lhe as cordas MI, LA, RE, SOL, ainda diz muito para a sua atual guardiã que se deleitou com as homenagens musicais que o seu amoroso marido lhe obsequiou na convivência conjugal.
Esta modesta história visa apenas fazer justiça a um grande bandolinista de Xique-Xique que, junto com outros músicos idealistas durante muitos anos tocaram para a juventude xiquexiquense ouvir, dançar e viver muitas histórias de amor ao som do melodioso “Carioca Show”.
Todavia, a maior paixão de Júlio Velho era o seu bandolim que aprendeu a tocar “de ouvido”, sem nunca ter freqüentado uma escola de música. Não escolhia hora, nem dia e nem ambiente para dedilhar o querido instrumento. Tocava por puro prazer e devoção composições dos grandes mestres e também às suas próprias compostas por pura emoção e inata vocação, vez que nada entendia de teoria musical e muito menos de partitura. Nunca se fazia de rogado e no rosto sempre estampava a ingênua alegria de estar fazendo algo de bom para si e para os que o ouviam. Tornou-se, assim, o mais afamado tocador de bandolim da região.
Tocar bandolim, para Júlio Velho, que também passou a ser conhecido como Júlio do Bandolim, era uma coisa que o transformava. Era como se estivesse sob o efeito de uma forte droga. Não via e nem ouvia nada e, enquanto tangia as cordas com a palheta, a mão esquerda, grande e forte como a de um urso, abraçava carinhosamente o fino braço do bandolim e os grossos dedos, acostumados ao volante do caminhão, pousavam suave e exatamente nos pequenos espaços de cada nota musical sem provocar a mínima distorção.
Não mais era o Júlio acostumado à pesada lide no velho caminhão, subindo e descendo serras, atolando e desatolando o carro nas épocas das chuvas na caatinga ou mesmo deitado sobre o motor e sob o capuz, quando acontecia algum “prego” no decurso de uma viagem.
Era o Júlio brincalhão, bem humorado e que se pudesse passaria o dia todo com o seu bandolim nos braços.
Em 1976, já quase sexagenário Júlio Velho aceitando o convite de alguns amigos músicos, resolveu participar de um conjunto musical na companhia de dois grandes violonistas, Everaldo de Souza e Geraldo Carioca que, juntos trabalharam e se divertiram até 1982, ano que aconteceu a precoce morte do grande bandolinista causando um imensurável desfalque ao conjunto musical.
No que pese os constantes convites para tocarem na noite xiquexiquense, o “Carioca Show”, assim se chamava o conjunto musical, não se caracterizava como uma atividade profissional, pois os seus componentes tinham outros afazeres, a exemplo de Júlio Velho que nunca abandonou a profissão de caminhoneiro.
A exemplo da estrela maior empunhando o bandolim, todos tocavam pelo prazer de fazer música e de serem ovacionados pela multidão de fãs que afluía em qualquer lugar que o grupo se apresentasse.
A foto acima mostra a composição do “Carioca Show”, que apesar da grande perda sofrida com a ausência de Júlio do Bandolim falecido em 1982, conseguiu sobreviver até o ano de 1988 quando se extinguiu.
Além do exímio bandolinista compunham o grupo os seguintes músicos:
Everaldo Peregrino, à direita de Júlio, violonista, destacou-se como virtuose desde os tempos de estudante em Salvador, na década de 1960. Sobressaía dos violonistas xiquexiquenses por gostar de solar as composições do mestre Dilermando Reis, do qual era exímio intérprete. Por conta dessa intimidade com o violão, naquela década freqüentava com assiduidade os lugares boêmios de Salvador, quando teve oportunidade de conviver com Caetano Veloso e Gilberto Gil quando ainda eram famosos só na Bahia. Atualmente, segundo informações reside na cidade de Barreiras (BA).
Geraldo Carioca, à esquerda de Júlio, outro grande violonista, que tinha como atividade principal a agricultura e a pecuária, de onde extraia o sustento da família, exercidas em imóvel rural situado na Fazenda Carnaúba, cujos produtos eram vendidos no mercado de Xique-Xique. Muito amigo de Júlio, tinha, como esse, um grande amor pela música, atividade que exercia com alegria e devoção. Conseguiu passar a arte musical para os seus três filhos que hoje são excelentes músicos. Faleceu em Xique-Xique no meado da década de 1990.
Heitor, também agricultor e que animava o conjunto musical na atividade de cantor, ainda vive em Xique-Xique, viúvo e aposentado, mas, eventualmente ainda se apresenta cantando em alguns bailes na cidade, apenas pelo prazer de matar as saudades.
Dona Diana, esposa do grande Júlio do Bandolim, ainda guarda com muito carinho o famoso instrumento que, desde o ano de 1982 mantém respeitoso silêncio, mas que, mesmo sentindo a falta da palheta a vibrar-lhe as cordas MI, LA, RE, SOL, ainda diz muito para a sua atual guardiã que se deleitou com as homenagens musicais que o seu amoroso marido lhe obsequiou na convivência conjugal.
Esta modesta história visa apenas fazer justiça a um grande bandolinista de Xique-Xique que, junto com outros músicos idealistas durante muitos anos tocaram para a juventude xiquexiquense ouvir, dançar e viver muitas histórias de amor ao som do melodioso “Carioca Show”.
GOSTEI MUITO DESSA REPORTAGEM,FEZ ME LEMBRAR QUANDO CRIANÇA,PASSAVA EM FRENTE O CARIOCA CLUBE E FICAVA VENDO E OUVINDO GERALDO E BANDA TOCANDO,NAO ME LEMBRO QUE DIA ERA DA SEMANA,MAS ERA PELA PARTE DA MANHA,MAIS OU MENOS NA SEXTA FEIRA,( dia de feira ).
ResponderExcluirTINHA UM VIZINHO MEU QUE DEIXOU MUITA SAUDADES,TOCAVA MUITO COM JÚLIO,O SAUDOSO ANANIAS VIOLA ( pedreiro e era de Central ) MOROU MUITO TEMPO EM XIQUE XIQUE.
ANANIAS VIOLA E JÚLIO VÉI TOCARAM MUITO EM TRIO IMPROVISADOS,ME LEMBRO MUITO DESSA ÉPOCA.