terça-feira, 2 de novembro de 2010

CRÔNICA: O DIA DE FINADOS EM XIQUE-XIQUE (BA)

DIA DE FINADOS


Juarez M. Chaves




"Um dia eu vou estar aqui também,
e gostaria que a pessoa viesse aqui
me ver, também, me prestigiar nesse
dia. Acho muito importante"


(Autor desconhecido)

Finados é o dia em que todas as pessoas se preparam para, em visitas aos cemitérios, prestar homenagens aos seus entes queridos já falecidos e que ali repousam. Nessa data todos os túmulos, sejam os mais ricos revestidos de granito ou uma pequena cova adornada por uma simples cruz de madeira registrando a data do nascimento e da morte do parente ou amigo, estarão cercados de pessoas independente do estrato social, da etnia ou da denominação religiosa, portando flores e livros de orações para a visita mais importante do ano.
O dia de finados sempre foi valorizado pela Igreja Católica, desde o início, quando, ainda no séc. I os cristãos visitavam os túmulos dos mártires para rezar pelos que morreram defendendo a fé. Para que as orações dos vivos atingissem a todas as almas, no século V, a Igreja Católica instituiu um dia do ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém lembrava. Já no ano de 998 santo Odilon, pedia aos monges, seus irmãos, que orassem pelos mortos. E os papas Silvestre II (1009), João XVII (1009) e Leão IX (1015) obrigavam as comunidades de cristãos a dedicar um dia aos mortos. No século XI, o calendário litúrgico da Igreja Católica incorporou o Dia de Finados, que deveria cair no dia 2 de novembro ocasião em que as celebrações seriam dedicadas a todos os mortos. A primeira celebração do dia dos mortos pelos povos católicos foi feita pelos monges beneditinos na França.
Por isso, os cemitérios são locais de grande importância para todas as pessoas que, ainda encarnadas, perambulam por esta Terra aguardando a data do retorno. Pode-se dizer até, que são locais sagrados que devem ser respeitados e pisados com a maior reverência possível pois é ali que descansam, para sempre os que nos antecederam. Qualquer que seja a cidade brasileira, da maior à menor, a população, no dia 2 de novembro, pára e num momento de reflexão queda-se junto aos túmulos espalhados por todos os cemitérios desse nosso Brasil para dirigindo orações aos seus mortos, solicitar, também, que nos protejam na caminhada terrena. Nós não celebramos a morte, celebramos a vida, porque, nós cremos que Deus é misericordioso e que aqueles que partiram estão na graça de Deus. Então, é a celebração da esperança, da vida. E, essa visita ao cemitério é mais para lembrança, para recordar onde foi colocado o corpo daquele que nós amamos.
Xiquexique não foge a regra e tem como um dos seus costumes a ida de grande parte da população ao cemitério local reverenciar os antepassados. Existe até um grupo de pessoas, minha Mãe fazia parte desse time, que não satisfeitas com apenas a visita do dia de finados, caminham para o cemitério, todos os dias do mês de novembro, para rezarem pelas almas. É um bom hábito, pois, mesmo depois de mortos, com certeza continuamos precisando de orações que são o alimento do espírito.
Mas, o cemitério de Xiquexique, cuja construção foi autorizada pela Lei Municipal nº 26, de 19.03.1926, portanto há 84 anos, já não suporta a demanda de uma população calculada em mais de 50 mil pessoas. E, como todos desejam uma pequena área para depositar o corpo do ente querido sempre ocorrem procedimentos inadequados e que prejudicam famílias cujos parentes já estão ali enterrados há muitos anos mas que, por impossibilidade financeira, não puderam ainda construir um túmulo de alvenaria. Como o cemitério não mais possui novos espaços para sepultamento, as pequenas e modestas sepulturas muitas vezes são invadidas e destruídas por pessoas estranhas à família, para que ali seja colocado um novo corpo. Por tudo isso, é urgente a necessidade de um novo cemitério.
Mas, enquanto o novo não chega, é mais premente a necessidade de uma campanha de sensibilização do nosso Poder Público no sentido de levá-lo a promover um saneamento no nosso cemitério. E, diga-se de passagem, o custo para isso é relativamente pequeno e quase insignificante para o Erário. Sem muitas pretensões, bastaria que a área fosse capinada eliminando-se a erva daninha que está impedindo o livre trânsito das pessoas. Poder-se-ia pensar, também, na delimitação de pequenas ruas cimentadas por onde as pessoas pudessem caminhar com mais conforto. Estas modestas melhorias nada representam se levarmos em conta a importância daquele lugar para todas as famílias xiquexiquenses.
O atual cemitério era conhecido até bem pouco tempo como “cemitério novo” denotando que existia um “cemitério velho”. E isso é verdade. O “cemitério velho” foi destruído pelo Poder Municipal e transformado numa praça ajardinada. No que pese a boa intenção considero que foi um desrespeito às famílias dos mortos que ali repousavam. Não é que os mortos precisassem do “cemitério velho”, mas, por certo os parentes ficaram sem um referencial importante para suas vidas. Acredito que se, naquela época, a sociedade xiquexiquense houvesse se organizado para estudar um destino para o “cemitério velho”, que já estava desativado, a solução teria sido melhor e diferente, talvez recuperando-o, iluminando-o e transformando-o num local de visitação tão ou mais importante que a pracinha construída sobre antigos túmulos.
É, para evitar o mesmo destino dado ao “cemitério velho”, que a sociedade de Xiquexique precisa estar atenta e se envolver com o necessário saneamento e permanente manutenção do “cemitério novo”. Mesmo sendo uma responsabilidade dos nossos Poderes Municipais, o zelo por esse equipamento é de toda a comunidade local e a OMISSÃO DO POVO, um dos piores males, se não o pior, é a maior responsável pela degradação da nossa sociedade. Unamos-nos e transformemos o nosso “cemitério novo” que não é assim tão novo, num local limpo, saneado, iluminado e que permita conforto e bem estar a todos os que procuram reverenciar os seus mortos.
Torçamos para que no próximo dia de finados, em 2011, possamos contar com esse ambiente. O Dia de Finados é o dia da celebração da vida eterna das pessoas queridas que já faleceram. Vida eterna que não vai terminar nunca, pois, a vida cristã é viver em comunhão íntima com Deus, agora e para sempre. É também o Dia do Amor, porque amar é sentir que o outro nunca morrerá.

OBS: Esta crônica foi postada em novembro de 2009, no dia de finados. Está sendo reeditada nesta data para manter viva a atenção que os xiquexiquenses devem ter com a sua cidade dos mortos.

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