AS TRÊS CERVEJAS “CHOCAS”
No começo da minha vida bancária fui nomeado para trabalhar numa pequena cidade do interior da Bahia, cuja atividade principal era a agricultura onde praticamente todas as
pessoas das mais diferentes classes sociais dedicam-se ao plantio de feijão, milho, mamona ou qualquer outro
grão.
Devido à intensa atividade agrícola, ali se destacavam com financiadores da produção o Banco do Brasil, Banco do Nordeste e o extinto Banco do Estado da Bahia.
Mesmo sendo uma pequenina cidade com menos de 10.000 habitantes, sem calçamento, sem energia e sem água doce, todas as segundas-feiras, fervilhava de gente e poeira face à feira semanal e aos inúmeros tratores circulando pelas suas ruas.
Devido à intensa atividade agrícola, ali se destacavam com financiadores da produção o Banco do Brasil, Banco do Nordeste e o extinto Banco do Estado da Bahia.
Mesmo sendo uma pequenina cidade com menos de 10.000 habitantes, sem calçamento, sem energia e sem água doce, todas as segundas-feiras, fervilhava de gente e poeira face à feira semanal e aos inúmeros tratores circulando pelas suas ruas.
O trator,
além dos trabalhos normais nas roças, era utilizado como um dos principais meios de transportes, principalmente pelas pessoas que se dirigiam à feira semanal. Era uma
festa. Todos os que moravam fora da cidade fossem em outros municípios ou
distritos faziam questão de vir à feira, pois era o momento de
venderem os seus produtos e adquirirem outros para consumo no decorrer da
semana.
Fim do dia, lá pelas 17 horas as
atividades dos feirantes já estavam praticamente encerradas. As pessoas já se
acomodavam nas carrocerias dos caminhões ou nas carretas dos tratores para
voltarem as suas casas. Estavam satisfeitas, pois tinham vendidos os seus
produtos e adquiridos outros para as
necessidades pessoais e familiares. Restava apenas usufruir um pouco da cidade
que para eles era grande. Por isso alguns se dirigiam aos bares para beberem um
pouco de cerveja gelada, coisa rara nos locais onde moravam.
O expediente do Banco já havia encerrado
e nós estávamos tomando uma cervejinha para jantarmos na
“república”, quando chegam 2 feirantes, que, com as atividades concluídas desejam
se distrair um pouco antes de pegar o transporte de volta para casa. Pediram
então uma cerveja bem gelada.
O dono do bar, querendo aproveitar da inexperiência dos lavradores, em relação à cervejas, resolveu abrir uma das 3 cervejas “choca” que horas antes foram devolvidas por outros clientes conhecedores da bebida. Com muito cuidado fez que abriu a cerveja pedida, que por sinal estava bem gelada, encheu os copos dos rurícolas, - espuma nem de longe - e os dois, imediatamente começaram a bebericar e a conversar. Em pouco tempo secaram a garrafa de cerveja sem nada reclamarem. Pediram outra garrafa.
O dono do bar, querendo aproveitar da inexperiência dos lavradores, em relação à cervejas, resolveu abrir uma das 3 cervejas “choca” que horas antes foram devolvidas por outros clientes conhecedores da bebida. Com muito cuidado fez que abriu a cerveja pedida, que por sinal estava bem gelada, encheu os copos dos rurícolas, - espuma nem de longe - e os dois, imediatamente começaram a bebericar e a conversar. Em pouco tempo secaram a garrafa de cerveja sem nada reclamarem. Pediram outra garrafa.
Numa mesa próxima, a gente começou a se interessar pelos vizinhos bebedores de cerveja “choca” e resolvemos ficar mais um pouco
para saber como iria terminar a enganação, pois sabíamos que o dono do bar
dispunha de 3 cervejas “chocas” e que
iria tentar desonestamente empurrá-las
em algum bebedor novato.
Novamente o dono do bar repete o mesmo procedimento. Pega a segunda cerveja “choca” abre-a e enche os copos dos 2 lavradores. Denotando estranha sede, os dois bebem com sofreguidão e como o papo continuava animado ingerem a segunda garrafa e, para espanto do dono do bar, pedem a terceira cerveja.
Novamente o dono do bar repete o mesmo procedimento. Pega a segunda cerveja “choca” abre-a e enche os copos dos 2 lavradores. Denotando estranha sede, os dois bebem com sofreguidão e como o papo continuava animado ingerem a segunda garrafa e, para espanto do dono do bar, pedem a terceira cerveja.
Era o que o dono do bar mais desejava.
Guardara as 3 cervejas “chocas” aventurando empurrá-las em algum feirante e
estava conseguindo o intento com todo o sucesso. Retornou ao interior do bar
pegou a terceira cerveja “choca” abriu-a
com toda a reverência e gentilmente encheu os copos dos 2 cliente. Estes não
paravam de conversar e chegaram mesmo a elogiar a excelente temperatura da
bebida. Em pouco tempo bebem a terceira garrafa e pedem a saideira.
A partir desse pedido acabaram-se os
sobressaltos do dono do bar. Empurrara, tranquilamente as 3 garrafas de cerveja
“choca” e agora, na sua geladeira só existiam cervejas boas e assim estava
livre de qualquer reclamação que partisse dos dois agricultores. Com muita
alegria, e olhando para nós com um sorrisinho maroto nos lábios, abriu a quarta
cerveja que ao cair nos copos apresentou
consistente espuma que denotava a
boa qualidade do produto.
Ao tocar nos lábios o copo borbulhante
de cerveja um dos agricultores, já um pouco alterado pela ingestão das 3
cervejas anteriores, talvez misturadas com algumas doses de cachaça tomadas no
decorrer do dia, levantou-se irado e recusou a quarta cerveja alegando que
estava “choca”. Chegou a dizer alguns
desaforos ao dono do bar e se indignou com a falta de consideração do mesmo por
ter tentado passar-lhes uma cerveja “choca”, mesmo já tendo feito um bom
consumo naquele estabelecimento. Debalde o dono do bar tentou explicar que a
cerveja estava boa. Não houve acordo. Os dois devolveram a cerveja como “choca”
e saíram prometendo não mais retornarem ao bar daquele desonesto e sem
consideração. Subiram na carroceria do caminhão e foram embora.
Levantamo-nos e fomos para a
“república” refletindo e comentando como determinadas “sabedorias” podem virar
contra o “sabido”, nesse caso representada pela perda dos clientes.
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