Carnaval de 1960 - "ring" do clube 7 de setembro |
Carnaval de 1960 - Clube 7 de setembro |
ANTIGOS CARNAVAIS
Juarez Morais Chaves
O carnaval em Xique-Xique (BA), pequena comunidade do interior, no período de1953 a
1960, era a festa mais esperada pela população, principalmente os jovens
estudantes da cidade. A ansiedade pela chegada do carnaval era contrabalançada
pela expectativa do fim das férias, pois geralmente era o último evento que
antecedia o retorno para os colégios.
O carnaval em Xique-Xique (BA), pequena comunidade do interior, no período de
Os foliões, devido à pobreza da cidade,
usavam, nos bailes realizados no Clube Recreativo Sete de Setembro e no Clube
Beneficente dos Operários, modestas fantasias produzidas em casa e com
materiais adquiridos no comércio local.
Na parte da manhã a movimentação do
carnaval era feita exclusivamente pelos rapazes e moças da cidade. Por conta
própria montavam pequenos blocos de 10 a 20 pessoas que utilizando diversos tipos
de disfarces, tais como máscaras e vestuários do sexo oposto, saiam às ruas ao
som de tamborins, tambores e as vezes cuícas, instrumentos rudimentares e
feitos com matéria prima local, apenas para terem algo parecido com uma
batucada. Essa brincadeira geralmente ia até o meio dia e se limitava a entrar
nas casas dos parentes e amigos para saborear um licor ou outra bebida que
fosse servida pelo dono.
Lembro-me de uma batucada que organizamos cujos tamborins foram feitos de pele de cobra estirada sobre uma armação quadrada de madeira. Cada um dos foliões fabricava o seu próprio tamborim, tambor ou outro qualquer instrumento de percussão que pudesse fazer barulho nos dias do carnaval e lá se ia, de instrumento em punho, para os ensaios da "bateria" que geralmente aconteciam no jardim da Praça D. Máximo, nos dias em que antecediam o carnaval.
Lembro-me de uma batucada que organizamos cujos tamborins foram feitos de pele de cobra estirada sobre uma armação quadrada de madeira. Cada um dos foliões fabricava o seu próprio tamborim, tambor ou outro qualquer instrumento de percussão que pudesse fazer barulho nos dias do carnaval e lá se ia, de instrumento em punho, para os ensaios da "bateria" que geralmente aconteciam no jardim da Praça D. Máximo, nos dias em que antecediam o carnaval.
À tardinha, lá pelas 17 horas, quando o sol esfriava, surgia o indefectível
“bloco das putas”, formado pelas prostitutas da cidade que moravam na Rua do
Perau, tendo a frente um conhecido homossexual que dançando e requebrando ao
compasso da música levava o estandarte do cordão.
O interessante era que esse
bloco, composto exclusivamente de prostitutas e que percorria as principais
ruas da cidade não escandalizava a sociedade da época, mas, pelo contrário sempre
era esperado e as pessoas se divertiam bastante com os trejeitos e requebros
das carnavalescas e principalmente do porta-estandarte.
Encerrado
o desfile do bloco das meninas da Rua do Pwreau a gente ia jantar e se preparar para o
tradicional baile que sempre acontecia nos Clubes da cidade a partir das 21
horas. Era o apogeu do carnaval de Xique-Xique. Nesses dias de festa,
excepcionalmente, a luz elétrica que apagava às 22:00 horas, permanecia acesa
até as 3 da madrugada permitindo assim, que todos os foliões pudessem brincar e
voltar, comodamente, para suas residências.
Nesses bailes aconteciam as coisas mais engraçadas provocadas, principalmente, pela cheirada ao lança-perfume, hoje proibido, mas que, naquele tempo, era legal e permitido, em todos os carnavais. Idosos e adolescentes ficavam eufóricos e, sob o efeito da droga, começavam a cantar e a dançar, numa animação nunca vista. Senhoras e mocinhas que não ousavam cheirar o gostoso perfume em público iam para o sanitário feminino e a animação era tanta que se ouviam as boas gargalhadas e gritarias dadas pela foliãs.
Quero deixar uma pequena informação sobre o famoso LANÇA-PERFUME, tão consumido no meu tempo de folião e hoje totalmente desconhecido pela geração pós 1961 ano em que foi proibida a fabricação.
O lança-perfume era um acessório indispensável ao folião que quisesse brincar o carnaval na década de 1950. Basicamente era um líquido perfumado, muito volátil acondicionado sob pressão em tubos de metal cilíndrico, em volumes de 100 e200 gramas , lacrados de
modo especial para evitar o vazamento do produto.
Nesses bailes aconteciam as coisas mais engraçadas provocadas, principalmente, pela cheirada ao lança-perfume, hoje proibido, mas que, naquele tempo, era legal e permitido, em todos os carnavais. Idosos e adolescentes ficavam eufóricos e, sob o efeito da droga, começavam a cantar e a dançar, numa animação nunca vista. Senhoras e mocinhas que não ousavam cheirar o gostoso perfume em público iam para o sanitário feminino e a animação era tanta que se ouviam as boas gargalhadas e gritarias dadas pela foliãs.
Quero deixar uma pequena informação sobre o famoso LANÇA-PERFUME, tão consumido no meu tempo de folião e hoje totalmente desconhecido pela geração pós 1961 ano em que foi proibida a fabricação.
O lança-perfume era um acessório indispensável ao folião que quisesse brincar o carnaval na década de 1950. Basicamente era um líquido perfumado, muito volátil acondicionado sob pressão em tubos de metal cilíndrico, em volumes de 100 e
Para se usar
os lança-perfumes, era necessário extrair o pequeno pino de vedação que vinha
nos tubos de metal e substituí-lo por uma bombinha própria,
vinha com a embalagem e que era enroscada no orifício da saída do jato de
perfume.
Lançar o perfume sobre uma moça era um ato de galanteio e que poderia
ser retribuído do mesmo modo caso a jovem possuísse, também um lança-perfume e
estivesse interessada no folião. Era o começo de um namoro que as vezes se
estendia até depois do carnaval e muitas vezes dava em casamento. Todavia, se a
moça paquerada não estivesse interessa no paquerador virava-lhe as costas e
continuava a sua folia.
O jato lançado em contato com a pele, provocava uma
sensação de frescor e de perfume, muito agradável para quem recebia o que
provocava entre os casais de namorados uma constante troca de jatos de perfume.
No final da festa, as fantasias usadas pelos brincantes estavam totalmente
impregnadas de perfume.
No
entanto, o que era pura forma de galanteio e uma diversão inocente
transformou-se numa atitude perigosa e prejudicial à saúde, quando alguém
descobriu que aspirando o perfume pelo nariz ou boca, ficava embriagado, sob
os efeitos de uma droga alucinógena, e, se a quantidade absorvida fosse grande,
poderia provocar, inclusive, a morte do inalador.
Por causa dessa distorção no
seu uso e pela constatação de que na realidade se tratava de um tóxico
impróprio para a saúde, a sua produção foi proibida em 1961.
O baile de carnaval, propriamente dito, naquele tempo dos anos 60, era,
relativamente, pura inocência e ingenuidade. A movimentação dos foliões no
salão, se dava em círculos e num só sentido para evitar choques entre as
pessoas. O namorado dançava com os braços em volta do pescoço ou da cintura da namorada
e essa era a maior intimidade permitida pelos pais que sempre estavam presentes
e com fiscalização ostensiva. Um beijinho, sequer, quando se conseguia dar, era
uma coisa muito arriscada e que poderia provocar a ida da menina de volta para
casa.
O mais interessante dos carnavais de Xique-Xique eram os ensaios realizados semanas antes da festa para que os foliões aprendessem as musicas carnavalescas. Como os meios de comunicações eram deficientes e até o próprio radio era privilégio de poucos, os diretores do clube compravam em Salvador as partituras e letras musicais das marchas e sambas que estavam sendo tocadas, principalmente para o carnaval no Rio de Janeiro.
O mais interessante dos carnavais de Xique-Xique eram os ensaios realizados semanas antes da festa para que os foliões aprendessem as musicas carnavalescas. Como os meios de comunicações eram deficientes e até o próprio radio era privilégio de poucos, os diretores do clube compravam em Salvador as partituras e letras musicais das marchas e sambas que estavam sendo tocadas, principalmente para o carnaval no Rio de Janeiro.
De posse dessas partituras e
com a ajuda do músico saxofonista Mário Torres Rapadura, de saudosa memória,
ensaiavam-se todas as noites até que a gente estivesse dominando as melodias e
as letras das marchinhas e sambas carnavalescos. E assim, naquele tempo, a
gente ia brincando o carnaval em Xique Xique.
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