terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Réplica ao Comentário feito por Marcone Gonçalves

AINDA SOBRE O BOLSA FAMÍLIA

No dia 1º do mês em curso, o leitor do Blog XIQUEXIQUE, Marcone Gonçalves, fez um comentário sobre uma matéria por mim publicada no dia 23 de janeiro p/passado, denominada “O Ginásio Senhor do Bonfim e o Bolsa Família”. Inicialmente desejo aqui registrar o meu agradecimento por tão importante comentário, ao tempo em que teço algumas considerações sobre o enfoque dado pelo comentarista, com o intuito apenas de esclarecer aos demais leitores do Blog XIQUEXIQUE sobre o verdadeiro cerne da matéria postada.
O meu interesse ao redigir a matéria foi apenas mostrar aos leitores que o Programa Bolsa Família não torna os seus beneficiários preguiçosos e dolentes, como muitas pessoas vivem alardeando por aí. O Bolsa Família apenas impede que eles aviltem o seu trabalho, trocando-o por um prato de comida, roupa e/ou sapatos usados.
Em nenhum momento fiz apologia do Bolsa Família como declara o nobre comentarista porque também sei que os R$ 140,00 por mês é uma quantia irrisória, mas é essa quantia que contra a vontade de muita gente torna o pobre e o quase miserável imunes à exploração das pessoas de maior renda.
Também não “apontei, hipocritamente, o dedo para os outros” ao comentar a exploração do empregado doméstico, e fico muito feliz que o nobre comentarista tenha alertado a própria família, que reside em Central, para evitar essa nefanda prática de escravidão disfarçada.
Todos os nossos ascendentes em Xiquexique praticaram a exploração dos empregados domésticos e dos empregados em imóveis rurais, com muita facilidade, até o momento em que apareceu o Bolsa Família que permite a aquisição de comida sem a necessidade de obtê-la em troca do trabalho servil.
Também não estou fazendo “discurso chinfrin”, como alegado pelo comentarista, mas apenas registrando cronologicamente um fato comum em nossa sociedade xiquexiquense. Não sei se em Central, nos anos 1950, existia ou não elite. Mas, em Xiquexique existia e muito. Era a elite econômico-financeira representada pelos descendentes dos inúmeros coronéis que mandaram na política local desde o tempo dos Intendentes, era a elite educacional dos que podiam mandar os filhos estudar em Salvador nos colégios internos, com preferência para o Colégio Marista e a elite espiritual aquela que dominava todos os atos litúrgicos da Igreja Católica daquela década. Não é questão de luta de classe, pois naquele tempo em Xiquexique ninguém sabia nem o que era isso. Mas apenas um costume que existia de trazer das fazendas mocinhas e rapazes para, sendo “criados”, servirem à família.
Quanto à emancipação de Central, a história do acordo existente entre o Prefeito José Peregrino de Souza e o Vereador Felinto Maciel está registrada no livro “Senhor do Bonfim e Bom Jesus de Chique Chique”, de autoria do pesquisador e historiador Cassimiro Machado Neto. Se me permite, sugiro ao nobre comentarista encaminhar para aquele autor a versão que possui sobre a emancipação de Central, principalmente porque achou “um tanto estranha”, e, como bem afirma, “a história é ótima e envolve até o uso de uma ‘rapariga’ para distrair os guardas que cuidavam das urnas”. Acredito que essa contribuição será bem recebida pelo historiador Cassimiro Neto por vir enriquecer a sua obra.
Feitas essas reflexões sobre o importante comentário postado por Marcone Gonçalves, volto a reafirmar que a tese central do meu artigo não foi discutir o valor do Bolsa Família, a corrupção por acaso existente no seio dos nossos três poderes, a luta de classes, o governo do Presidente Lula e muito menos “a emancipação (de Central que) ocorreu contra a vontade dos centralenses e por meio de uma fraude eleitoral descarada”, segundo palavras do nobre comentarista.
A tese central do meu artigo, repito, apenas enfoca que as pessoas pobres e beneficiárias do Bolsa Família não mais estão dispostas a trocar o seu valioso trabalho por um prato de comida e vestuários usados, como antigamente faziam, pelo simples fato de que o Bolsa Família, mesmo sendo “uma miséria absoluta” nas palavras do comentarista, lhes permite comprar a comida e o vestuário para sobreviverem. E disse ainda, que esses beneficiários do Bolsa Família estão, dispostos, isso sim, a saírem do benefício desde que encontrem um emprego justo e legal no qual o empregador lhes pague, pelo menos, o salário mínimo e lhes assegure todos os direitos trabalhistas (férias, 13º salário mais 1/3, descanso semanal remunerado, recolhimento do FGTS, pagamento do INSS, salário família), previstos na Consolidação das Leis Trabalhistas-CLT.
Foi somente isso que eu quis dizer.

2 comentários:

  1. Prezado Juarez,

    Gostaria de comentar a réplica e aceitá-la in totum. Fiz uma diatribre estúpida sobre o tema, tornado pública uma conversa de interesse absolutamente privado. Peço desculpas e reconheço não só a falta de polidez, a linguagem inapropriada, como a intransigência em me colocar no debate sem a menor qualificação para isso. Desconheço a realidade de minha terra e suas ponderações estão mais do que apropriadas para ela, enquanto apenas desfilei um rosários de argumentos grosseiros.

    Gostaria, ainda mais, de elogiá-lo pela iniciativa do blog, que tem o que falta na maioria deles: conteúdo, pensamento, cuidado e inteligência.

    Parodiando Monteiro Lobato, um país se faz com homens, livros e idéias. Bons homens, bons livros e idéais honestas, que é o que tens de sobra e o que eu ainda tenho que procurar muito.

    Desconsidere, pois, minhas más palavras, que espero não refreie o teu ânimo. Afinal, pela tua nobreza na resposta, tua educação e cuidado, espero que tenhas ainda paciência com a ignorância e grosseria alheias, especialmente a minha.

    Atenciosamente,

    Marcone Gonçalveds

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  2. "Prezado Juarez,
    Gostaria de comentar a réplica e aceitá-la in totum. Fiz uma diatribre estúpida sobre o tema, tornado pública uma conversa de interesse absolutamente privado. Peço desculpas e reconheço não só a falta de polidez, a linguagem inapropriada, como a intransigência em me colocar no debate sem a menor qualificação para isso. Desconheço a realidade de minha terra e suas ponderações estão mais do que apropriadas para ela, enquanto apenas desfilei um rosários de argumentos grosseiros.
    Gostaria, ainda mais, de elogiá-lo pela iniciativa do blog, que tem o que falta na maioria deles: conteúdo, pensamento, cuidado e inteligência.
    Parodiando Monteiro Lobato, um país se faz com homens, livros e idéias. Bons homens, bons livros e idéais honestas, que é o que tens de sobra e o que eu ainda tenho que procurar muito.
    Desconsidere, pois, minhas más palavras, que espero não refreie o teu ânimo. Afinal, pela tua nobreza na resposta, tua educação e cuidado, espero que tenhas ainda paciência com a ignorância e grosseria alheias, especialmente a minha.
    Atenciosamente,
    Marcone Gonçalveds"

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