sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

ARTE SACRA NA BAHIA: CRISTO DO PILAR


Trata-se de uma imagem que à primeira vista reduz-se a uma concepção neo-clássica, cujo principal objetivo seria retratar Cristo como o ser humano perfeito, com proporções correspondentes aos cânones da escultura clássica, sem contudo expressar grande carga emocional, margeando unicamente o território do sentimentalismo. Entretanto uma vez observada atentamente, esta imagem desvela sua transgressão, sua fuga à tradicional superficialidade do estilo. A sutil expressão de desistência, o embaçamento que começa a roubar a luz dos olhos, a profunda tristeza da despedida expressadas em seu rosto somam-se ao bem-sucedido realismo da pintura de sua encarnação para falar da fragilidade e temporalidade da carne, prenúncios de morte da beleza olímpica do corpo_que poderia ser de um jovem deus grego no tocante à sua estrutura. É de se notar o interessante perizôneo drapeado, equilibrando-se precariamente em uma corda torcida, que lhe descobre a ilharga. Belo trabalho de entalhe da barba e dos longos cabelos que caem em ondas sobre os ombros. O nicho do altar lateral confirma o estilho neo-clásico, emoldurando a imagem com rebuscada pintura de florões e ramagens. Pinturas e douramento de José Teófilo de Jesus e obra de talha de José Nunes Santana (entre 1803-1804).
Acervo da Igreja da Venerável Ordem Terceira do Carmo.

(Bahia: Tesouros da Fé (2000). Foto: Sérgio Benutti)

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