Juarez M. Chaves
Como já contei em outra crônica, o carnaval em Xique-Xique (BA), nos anos 1950, era muito fraco e quase não havia participação do povo. Os folguedos do tríduo momesco limitavam-se a, durante o dia, um desfile dos jovens estudantes, pelas ruas da cidade, empunhando alguns tamborins de fabricação local, num arremedo de batucadas, visitando algumas residências de pessoas conhecidas onde poderiam conseguir alguma bebida para enfrentar o resto do dia.
Também eram frequentes as brincadeiras denominadas "entrudos" que consistiam em molhar as pessoas com água do Rio São Francisco. Outros divertiam-se vestindo roupas do sexo oposto e, mascarados, desfilavam sozinhos ou em grupos certos de que não seriam ou não estavam sendo reconhecidas pelos amigos.
Essas brincadeiras demandavam toda a manhã e grande parte da tarde quando os "mascarados", como eram chamados, retornavam, à tardinha, às suas residências, para, após um pequeno repouso e uma pequena merenda estarem prontos para o tradicional baile que sempre acontecia no Clube Recreativo Sete de Setembro, a partir das 21 horas.
Esse baile era o apogeu do carnaval de Xique-Xique, pois era nele que aconteciam as apresentações dos blocos com exibições de fantasias de conjunto ou mesmo individuais para orgulho e diversão dos foliões e foliãs. O desenho e a confecção dessas fantasias corriam por conta de cada bloco ou da pessoa que iria desfilar na noite do baile. Poderia até ser uma cópia de alguma fantasia exibida numa grande cidade e divulgada em alguma revista carnavalesca.
Assim, era comum entre os jovens de Xique-Xique se juntarem e planejarem a formação de um cordão carnavalesco para se apresentar no referido baile noturno. Normalmente a idéia e o motivo da fantasia de cada bloco eram mantidos em segredo, pois o importante era a surpresa que a mesma causaria com a chegada ao Clube, o que acontecia, geralmente, a partir da meia noite do domingo. Nos 10 ou 15 dias que antecediam o carnaval os participantes de cada bloco reservavam parte da noite ou do dia para se reunir e ensaiar as músicas que iriam cantar bem como provar as fantasias que iriam exibir. Mas essas reuniões eram feitas com o maior sigilo e nem mesmo as namoradas ou os namorados tinham conhecimento do bloco a não ser que fizesses parte do grupo.
Em 1959, acredito que foi nesse ano, eu namorava uma menina em Xique-Xique e desconfiei que ela estava participando da formação de um bloco de carnaval. Comecei a insistir para que me contasse como era esse bloco, quais os participantes e qual o motivo da fantasia. Por mais que eu insistisse e o carnaval se aproximasse a namorada mantinha-se em silêncio demonstrando que não lhe era permitido divulgar nada sobre o bloco sob pena de perder a graça da surpresa. Mas, movido pela curiosidade machista não me conformava com o silêncio da namorada sobre esse assunto e comecei a “pressioná-la” emocionalmente, até que vencida pela minha insistência e sob a minha promessa de manter sigilo sobre o assunto ela resolveu abrir o jogo sobre o bloco que estava formando.
Contou-me que o grupo era composto somente por meninas e cada uma sairia representando uma marca de automóvel importado. Assim, haveria uma menina com a fantasia da marca FORD, outra da marca CHEVROLET, outra da marca MERCURY, outra da marca CHRYSLER, outra da marca LINCOLN e assim por diante. Disse-lhe, mais uma vez que o segredo do bloco ficaria mantido ate o dia do carnaval e que ela não se preocupasse pois ninguém iria saber de nada. A partir daí ninguém mais tocou no assunto do bloco e das fantasias.
Chega o carnaval e no dia da apresentação eu e a namorada ficamos acertados de nos encontrarmos no clube à meia noite quando ela entraria, junto com as outras meninas, com a fantasia de uma determinada marca de carro importado à qual não mais me lembro.
Chega o carnaval e no dia da apresentação eu e a namorada ficamos acertados de nos encontrarmos no clube à meia noite quando ela entraria, junto com as outras meninas, com a fantasia de uma determinada marca de carro importado à qual não mais me lembro.
Às 23:30 horas fui para a porta do clube esperar a chegada do bloco das meninas. De repente aparece o grupo de mais ou menos 10 garotas cada uma com o nome da marca de um automóvel, em letras graúdas, escrita sobre o busto. Quando o bloco passou por mim e entrou no clube, tirei a minha camisa e com outra onde estava escrita a palavra MECÂNICO acompanhei-as ocupando o último lugar da turma.
Fiz muito sucesso com a fantasia, pois com tantos automóveis com certeza haveria necessidade de um mecânico.
Fiz muito sucesso com a fantasia, pois com tantos automóveis com certeza haveria necessidade de um mecânico.
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