domingo, 27 de março de 2011

Crônica Xiquexiqueana: O SINO DA MEIA NOITE.

O SINO DA MEIA NOITE
Juarez Moraes Chaves

Numa noite do ano de 1961, o relógio da Igreja Matriz do Senhor do Bonfim, situada na Praça D. Máximo em Xique-Xique (BA), tinha acabado de dar as 12 badaladas da meia-noite quando o sino principal da torre, inesperadamente, começou o seu toque, conhecido por todos, como se estivesse chamando a população para uma missa.

Ante o inusitado do ocorrido as pessoas que moravam no entorno da Igreja – Praça D. Máximo, Rua da Sete, Rua Ruy Barbosa, etc – acordaram sobressaltadas, acenderam os candeeiros e ficaram, assombradas, ouvindo o sino badalando em plena meia-noite.

Os mais corajosos decidiram não só ouvir, mas também assistir o que estava acontecendo. Assim, pularam da cama e, apressadamente, se dirigiram à Praça da Igreja.

Em pouco tempo a frente do Templo ficou cercada pela população que, boquiaberta, assistia e ouvia pasmada, o sino continuar badalando como se alguém estivesse, de dentro da Igreja, acionando a corda que o tangia. Mas, a Igreja estava totalmente às escuras e com as portas fechadas. O padre, a exemplo dos fieis, também acordou sobressaltado e já estava no meio da multidão sem saber o porquê de o sino estar tocando àquela hora.O sino continuava a tocar sem se incomodar com o sobressalto das pessoas postadas à porta da Igreja.

Alguns homens mais corajosos pediram, então ao padre para abrir as portas e melhor investigar o que estava acontecendo. Andaram por todo o interior do Templo e nada constataram de anormal que justificasse o fato. Continuaram no interior da Igreja fazendo as mais variadas conjecturas, mas nada de subirem na torre onde os sinos estavam afixados e badalando. As mulheres já estavam ajoelhadas, orientadas pelo padre, postado no altar e, à luz de velas, faziam as orações com medo de que aquilo fosse um aviso do fim do mundo. Já tinham rezado o terço e agora rezavam o Ofício de Nossa Senhora. O padre já se preparava para fazer uma procissão com o Santíssimo exorcizando a assombração que estava acontecendo à vista de todos.

Estavam nessa arrumação quando de dentro do povo eleva-se uma voz dizendo que ia subir na torre dos sinos e tirar a assombração a limpo. Todos se voltam em direção à voz, num silêncio sepulcral. Era preciso ter muita coragem para subir à torre. O acesso é feito por uma estreitíssima escada de madeira que termina exatamente em baixo da boca do sino. Se o voluntário tivesse sucesso na aventura iria assistir e ouvir, bem defronte ao seu rosto a uma distância de 20 cm no máximo, a movimentação do badalo do sino e o que estava provocando aquela situação.

Todos prenderam a respiração quando o homem começou a subir a estreita escada. Cada degrau era uma emoção e uma espera ansiosa, pois todos queriam saber porque o sino continuava tocando enquanto o homem subia. Em lá chegando o mistério foi desvendado.

Ao segurar o badalo, o homem conseguiu emudecer o sino e nesse momento constatou que um fio de linha de pesca, feita de nylon, fora amarrado ao badalo e era por ali que alguém o acionava provocando as badaladas. Restava agora investigar quem estava na outra ponta da linha. Começou a descida e ao chegar ao solo convidou os presentes a acompanhá-lo tendo como guia a linha de nylon. A caminhada foi iniciada, todos querendo saber o que existia na outra extremidade. A linha seguia em direção à construção do prédio da Prefeitura que ficava a uns 100 metros da Igreja. Ao chegarem ao prédio em construção redobraram o cuidado, pois iriam transitar num ambiente totalmente as escuras. A pequena iluminação era fornecida por uma lanterna de mão. Continuando a cautelosa caminhada chegaram a uma escada de concreto que dá acesso ao pavimento superior. Subiram e lá finalmente encontraram a outra extremidade do fio amarrada a uma barra de ferro. Estava explicado o badalar do sino à meia-noite.

Alguém estivera ali até o momento em que o homem subiu à torre do sino e segurou a linha que estava amarrada ao badalo. Nesse exato momento a pessoa que acionava a outra ponta, em cima do prédio da Prefeitura sentiu a descoberta e abandonou o local.

No dia seguinte esse era o assunto dominante na cidade, principalmente a coragem demonstrada pelo homem que se dispôs a subir à torre do sino. Mas não obstante a descoberta da “assombração”, todos queriam continuar a pesquisa desejosos de saber quem teve a idéia de incomodar toda uma população altas horas da noite.

Foram levantadas várias hipóteses e várias linhas de investigação foram seguidas, mas todas sem sucesso. Várias pessoas foram aleatoriamente tidas como potencialmente responsáveis pela “brincadeira”. Mas, as investigações efetuadas não levaram a nenhum resultado. Com o passar do tempo o assunto foi sendo esquecido e após 3 meses ninguém mais comentava sobre o ocorrido.

Esse ainda é um mistério insolúvel. O “tocador” do sino ainda deve estar bem vivo e poderia, já passado todo esse tempo, identificar-se. (JMC-jan/2008)

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