A DEMOLIÇÃO DO PRÉDIO DA PREFEITURA DE XIQUE XIQUE (BA)
Juarez Morais Chaves
Desde o começo do séc. XX até o início de 1960 imperava na Praça D. Máximo, em Xique Xique (BA), o velho e belo prédio, sede da Prefeitura Municipal, 2º Edifício do Paço Municipal da cidade, cuja construção, em blocos de pedra e cimento, foi iniciada no período de Brasil-República por volta de 1890, pelo primeiro Intendente Municipal Cel. Gustavo de Magalhães Costa.
Era de uma imponência tal que se destacava entre todas as demais construções da cidade. Substituíra o Paço Municipal, construído no primeiro quartel do séc. XIX, edificação simples que muito sofreu com as constantes enchentes do Rio São Francisco e com os tiros deflagrados pelas brigas políticas conhecidas como “Barulhos de Xique Xique” entre o Partido Liberal e o Partido Conservador, chegando a ser incendiado.
Ante o estado de destruição a que fora submetido, o primeiro Paço Municipal ficou sem as mínimas condições de uso e precisava urgentemente de ser demolido e em seu lugar erguido um novo prédio para abrigar a Intendência Municipal e o Conselho Municipal recém criados pela República.
Por isso a construção de um novo prédio para abrigar a Administração Municipal era obra de grande urgência e quando o Cel. Gustavo de Magalhães Costa (1889 a 1890) foi nomeado 1º Intendente Municipal de Xique Xique, não obstante a crônica falta de dinheiro no Erário, assumiu o compromisso de levantar um novo e bonito prédio para abrigar a sede da Intendência Municipal, em substituição ao que já estava totalmente deteriorado pelas constantes brigas. Como o Intendente tinha consciência de que com as verbas oficiais não poderia construir o prédio desejado, usou do seu prestígio pessoal e de sua força política para conseguir que seus correligionários ricos do extinto Partido Liberal fizessem as doações financeiras de que tanto precisava. No que pese o grande esforço despendido, os poucos recursos conseguidos além da pequenez do seu mandato, não permitiram que alcançasse grande sucesso no empreendimento de construir o novo Paço Municipal, mas, pelo menos começou a obra deixando a continuidade para seus sucessores.
Juarez Morais Chaves
Desde o começo do séc. XX até o início de 1960 imperava na Praça D. Máximo, em Xique Xique (BA), o velho e belo prédio, sede da Prefeitura Municipal, 2º Edifício do Paço Municipal da cidade, cuja construção, em blocos de pedra e cimento, foi iniciada no período de Brasil-República por volta de 1890, pelo primeiro Intendente Municipal Cel. Gustavo de Magalhães Costa.
Era de uma imponência tal que se destacava entre todas as demais construções da cidade. Substituíra o Paço Municipal, construído no primeiro quartel do séc. XIX, edificação simples que muito sofreu com as constantes enchentes do Rio São Francisco e com os tiros deflagrados pelas brigas políticas conhecidas como “Barulhos de Xique Xique” entre o Partido Liberal e o Partido Conservador, chegando a ser incendiado.
Ante o estado de destruição a que fora submetido, o primeiro Paço Municipal ficou sem as mínimas condições de uso e precisava urgentemente de ser demolido e em seu lugar erguido um novo prédio para abrigar a Intendência Municipal e o Conselho Municipal recém criados pela República.
Por isso a construção de um novo prédio para abrigar a Administração Municipal era obra de grande urgência e quando o Cel. Gustavo de Magalhães Costa (1889 a 1890) foi nomeado 1º Intendente Municipal de Xique Xique, não obstante a crônica falta de dinheiro no Erário, assumiu o compromisso de levantar um novo e bonito prédio para abrigar a sede da Intendência Municipal, em substituição ao que já estava totalmente deteriorado pelas constantes brigas. Como o Intendente tinha consciência de que com as verbas oficiais não poderia construir o prédio desejado, usou do seu prestígio pessoal e de sua força política para conseguir que seus correligionários ricos do extinto Partido Liberal fizessem as doações financeiras de que tanto precisava. No que pese o grande esforço despendido, os poucos recursos conseguidos além da pequenez do seu mandato, não permitiram que alcançasse grande sucesso no empreendimento de construir o novo Paço Municipal, mas, pelo menos começou a obra deixando a continuidade para seus sucessores.
O novo Intendente, Cel. Reginaldo Gomes Lima (1890 a 1892) teve como primeiro compromisso continuar a construção do prédio do Paço Municipal e, em mais de 2 anos de administração fez o máximo possível tendo, ao deixar a Intendência, construído toda a estrutura faltando apenas os acabamentos.
O terceiro Intendente, Cap. Antônio Martins Santiago (1892-1896), levou o compromisso dos seus antecessores a sério e concluiu a construção de um nobre edifício com pavimento superior destinado a abrigar a Administração Municipal e a Delegacia de Polícia.
Quando eu era menino em Xique Xique, ainda estudando o curso primário, início dos anos 1950, não me cansava de ficar olhando a beleza da velha prefeitura. Era um misto de admiração pela imponência da obra e também de medo pelos presos que ficavam reclusos no pavimento térreo do prédio. A velha construção ficava quase vizinha à casa de tia Flor, minha tia e madrinha de batismo, à qual sempre visitava para, entre outras coisas usufruir das inúmeras fruteiras que ornamentavam o quintal da casa. Nessas ocasiões costumava me deslocar até a frente da prefeitura velha e a uma distância de não menos de 10 metros ficava a olhar os prisioneiros que, pendurados nas grades procuravam chamar a atenção dos transeuntes pedindo cigarros ou alguma moeda.
No pavimento superior da velha Prefeitura, ao qual se tinha acesso por uma grande escada externa de cimento, ficavam o gabinete do Prefeito, cercado pelos poucos servidores municipais, a Câmara de Vereadores, os Órgãos da Justiça Estadual e uma biblioteca pública onde era possível a obtenção de alguns livros por empréstimos.
O piso do pavimento superior era de grandes tábuas corridas, de madeira de lei e as paredes totalmente ornamentadas pelos excelentes desenhos e pinturas de autoria do Sr. José Roldão, conhecido até hoje como o melhor decorador de interiores que já passou pela cidade. Ainda existem algumas casas em Xique Xique que ostentam os desenhos e decorações desse ilustre artista.
Esse pavimento era emoldurado por 12 grandes janelas na frente e algumas dos lados e nos fundos que ao se abrirem par em par traziam ao ambiente a luminosidade e o arejamento necessários à formação de um excelente ambiente de trabalho naquele clima normalmente quente da beira do rio. Era encimado por um telhado com com bonita e artística platibanda adornada com 2 grandes estátuas nas extremidades, com 1 metro de altura cada, que, como guardiãs, vigiavam toda a Praça D. Máximo.
O pavimento térreo era destinado a servir de sede para a Delegacia de Polícia, o destacamento militar e a cadeia pública. Duas celas ficavam nas extremidades da frente do prédio e cada uma, tinha duas pequenas janelas guarnecidas por grossas grades de ferro que permitiam o contato visual dos presos com o movimento da Praça D. Máximo. O centro do pavimento térreo era destinado ao escritório do delegado e alojamento dos soldados. A gente sabia, por ouvir dizer, que nos fundos desse pavimento existia uma cela, denominada de “solitária”, bastante escura e que era destinada à guarda de criminosos violentos. Nunca tive coragem de comprovar essa informação.
O terceiro Intendente, Cap. Antônio Martins Santiago (1892-1896), levou o compromisso dos seus antecessores a sério e concluiu a construção de um nobre edifício com pavimento superior destinado a abrigar a Administração Municipal e a Delegacia de Polícia.
Quando eu era menino em Xique Xique, ainda estudando o curso primário, início dos anos 1950, não me cansava de ficar olhando a beleza da velha prefeitura. Era um misto de admiração pela imponência da obra e também de medo pelos presos que ficavam reclusos no pavimento térreo do prédio. A velha construção ficava quase vizinha à casa de tia Flor, minha tia e madrinha de batismo, à qual sempre visitava para, entre outras coisas usufruir das inúmeras fruteiras que ornamentavam o quintal da casa. Nessas ocasiões costumava me deslocar até a frente da prefeitura velha e a uma distância de não menos de 10 metros ficava a olhar os prisioneiros que, pendurados nas grades procuravam chamar a atenção dos transeuntes pedindo cigarros ou alguma moeda.
No pavimento superior da velha Prefeitura, ao qual se tinha acesso por uma grande escada externa de cimento, ficavam o gabinete do Prefeito, cercado pelos poucos servidores municipais, a Câmara de Vereadores, os Órgãos da Justiça Estadual e uma biblioteca pública onde era possível a obtenção de alguns livros por empréstimos.
O piso do pavimento superior era de grandes tábuas corridas, de madeira de lei e as paredes totalmente ornamentadas pelos excelentes desenhos e pinturas de autoria do Sr. José Roldão, conhecido até hoje como o melhor decorador de interiores que já passou pela cidade. Ainda existem algumas casas em Xique Xique que ostentam os desenhos e decorações desse ilustre artista.
Esse pavimento era emoldurado por 12 grandes janelas na frente e algumas dos lados e nos fundos que ao se abrirem par em par traziam ao ambiente a luminosidade e o arejamento necessários à formação de um excelente ambiente de trabalho naquele clima normalmente quente da beira do rio. Era encimado por um telhado com com bonita e artística platibanda adornada com 2 grandes estátuas nas extremidades, com 1 metro de altura cada, que, como guardiãs, vigiavam toda a Praça D. Máximo.
O pavimento térreo era destinado a servir de sede para a Delegacia de Polícia, o destacamento militar e a cadeia pública. Duas celas ficavam nas extremidades da frente do prédio e cada uma, tinha duas pequenas janelas guarnecidas por grossas grades de ferro que permitiam o contato visual dos presos com o movimento da Praça D. Máximo. O centro do pavimento térreo era destinado ao escritório do delegado e alojamento dos soldados. A gente sabia, por ouvir dizer, que nos fundos desse pavimento existia uma cela, denominada de “solitária”, bastante escura e que era destinada à guarda de criminosos violentos. Nunca tive coragem de comprovar essa informação.
Durante toda a metade do sec. XX o belo prédio construído com muito esforço, muito sacrifício e muito idealismo por 3 Intendentes Municipais, num período de 7 anos (1889/1896), embelezou com sua arquitetura nobre a principal praça da cidade.
No ano de 1960 foi atingido por um grande e criminoso incêndio provocado pela imprudência de um comerciante que vendia gasolina acondicionada em latas de flandres (latas de querosene) e que utilizava a sombra de grandes árvores existentes na frente do prédio da Prefeitura para vedá-las, com solda, no que pese estarem cheias do combustível altamente inflamável. Centenas de latas de querosene, cheias de gasolina ficavam empilhadas e espalhadas em frente ao prédio da Prefeitura, sob as copas das árvores, aguardando o momento de serem lacradas ou serem colocadas na carroceria de um caminhão para seguirem o destino.
Num fatídico dia, uma fagulha do fogareiro aceso no local onde eram feitas as vedações, atingiu uma das latas cheia de gasolina e a partir daí, após uma grande explosão, grandes labaredas de fogo destruíram as árvores e “lamberam” a fachada do velho prédio. Felizmente não ocorreram perdas de vidas humanas. Mas, a partir desse desastre, com a Prefeitura funcionando em outro endereço, surgiu a idéia da construção de novo prédio sob a alegação de que a velha construção ficara com a estrutura condenada e sujeita a um desabamento.
No ano de 1963, sob a administração do Prefeito Municipal Joel Firmo de Meira, toda a população da cidade foi surpreendida com a notícia de que o famoso prédio da Prefeitura seria demolido. Ninguém se preocupou em saber se a bela construção poderia ser restaurada, se não para abrigar os órgãos do Poder Executivo, pelo menos para servir de abrigo a alguma repartição mais leve ou quem sabe algum museu da cidade.
Era um prédio muito bonito com estrutura de cimento e pedra e que poderia e merecia ser recuperado. No entanto a sua destruição foi decretada pelo Senhor Prefeito e em seu lugar foi levantada, uma construção quadrada (foto), sem nenhuma beleza arquitetônica, projetada por algum "arquiteto" sem a mínima imaginação e que nada tem de arte. É nesse prédio, que ainda funciona o gabinete do Prefeito Municipal e algumas repartições do Poder Executivo.
A meu ver, a demolição do Prédio da Prefeitura foi um crime contra o patrimônio imobiliário de Xique Xique e quiçá contra o patrimônio cultural do Estado da Bahia. Mas, agora, só nos resta lamentar a falta de sensibilidade dos nossos governantes e chorar a destruição da nossa bela obra do século XIX.
OBS: Alguns dados históricos foram extraídos do livro do Prof. Cassimiro Neto
No ano de 1960 foi atingido por um grande e criminoso incêndio provocado pela imprudência de um comerciante que vendia gasolina acondicionada em latas de flandres (latas de querosene) e que utilizava a sombra de grandes árvores existentes na frente do prédio da Prefeitura para vedá-las, com solda, no que pese estarem cheias do combustível altamente inflamável. Centenas de latas de querosene, cheias de gasolina ficavam empilhadas e espalhadas em frente ao prédio da Prefeitura, sob as copas das árvores, aguardando o momento de serem lacradas ou serem colocadas na carroceria de um caminhão para seguirem o destino.
Num fatídico dia, uma fagulha do fogareiro aceso no local onde eram feitas as vedações, atingiu uma das latas cheia de gasolina e a partir daí, após uma grande explosão, grandes labaredas de fogo destruíram as árvores e “lamberam” a fachada do velho prédio. Felizmente não ocorreram perdas de vidas humanas. Mas, a partir desse desastre, com a Prefeitura funcionando em outro endereço, surgiu a idéia da construção de novo prédio sob a alegação de que a velha construção ficara com a estrutura condenada e sujeita a um desabamento.
No ano de 1963, sob a administração do Prefeito Municipal Joel Firmo de Meira, toda a população da cidade foi surpreendida com a notícia de que o famoso prédio da Prefeitura seria demolido. Ninguém se preocupou em saber se a bela construção poderia ser restaurada, se não para abrigar os órgãos do Poder Executivo, pelo menos para servir de abrigo a alguma repartição mais leve ou quem sabe algum museu da cidade.
Era um prédio muito bonito com estrutura de cimento e pedra e que poderia e merecia ser recuperado. No entanto a sua destruição foi decretada pelo Senhor Prefeito e em seu lugar foi levantada, uma construção quadrada (foto), sem nenhuma beleza arquitetônica, projetada por algum "arquiteto" sem a mínima imaginação e que nada tem de arte. É nesse prédio, que ainda funciona o gabinete do Prefeito Municipal e algumas repartições do Poder Executivo.
A meu ver, a demolição do Prédio da Prefeitura foi um crime contra o patrimônio imobiliário de Xique Xique e quiçá contra o patrimônio cultural do Estado da Bahia. Mas, agora, só nos resta lamentar a falta de sensibilidade dos nossos governantes e chorar a destruição da nossa bela obra do século XIX.
OBS: Alguns dados históricos foram extraídos do livro do Prof. Cassimiro Neto
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