domingo, 8 de abril de 2012

Crônica: MINHA VIDA BANCÁRIA

De 1964 a 1995, trabalhei como bancário numa instituição financeira federal e, no exercício da minha profissão, percorri os Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Ceará, onde me aposentei, tendo fixado residência em Fortaleza (CE). Durante esse período de 31 anos assisti e participei de muitas coisas que aconteceram dentro e fora das Agências Bancárias, tendo registrado algumas delas, as quais passo a divulgar, por interessantes. Os nomes dos colegas e das Agências são trocados por questão de ética.


O COLEGA E A NAMORADA DE SÃO LUIZ.

Juarez Morais Chaves
Era o ano de 1977 e estava chegando a Fortaleza (CE) para participar, de um curso sobre economia e administração que seria ministrado pelo BNB com duração de 7 meses. Éramos 30 funcionários das mais diversas Agência do Banco e ficamos hospedados em vários hotéis e pensões existentes na cidade. Eu resolvi ficar hospedado no Hotel Sobral, situado na Rua Senador Pompeu de propriedade do irmão de um colega do banco, que administrava a empresa juntamente com toda a sua família que moravam em um dos quartos do hotel. Era um hotel familiar como se dizia.
Por coincidência fiquei num quarto com mais outro colega, Odilon, este vindo da Agência de Petrolina (PE). No mesmo dia da minha chegada no hotel esse colega me apresentou a um amigo seu, da Agência de São Luiz e que também viera para o curso só que acompanhado da esposa com a qual se casara recentemente. Na apresentação fiquei sabendo que o nome dele era Raimundo Sobreira e que ali estava, também, em lua de mel com a sua jovem mulher, chamada Geraldina.
Todos os dias, para o café, sentávamos os quatro à mesa, eu, Odilon e Sobreira junto com a jovem esposa Geraldina. Tanto eu como Odilon tínhamos a maior consideração com D. Geraldina, como a chamávamos e as vezes comentávamos que um curso puxado como o que estávamos fazendo não era o momento indicado para uma lua de mel. Mas, respeitávamos a decisão dos dois. Sobreira se esmerava em gentilezas e atenções para com sua esposa e não media esforços para que a mesma se sentisse confortável no hotel naqueles momentos em que estivesse em sala de aula. D. Geraldina fora apresentada, também aos donos do hotel e às suas duas filhas e com estas jovens saia todas as tardes passeando pelo centro de Fortaleza olhando vitrines e às vezes indo ao cinema.
O casal dono do hotel, também se esmerava em disponibilizar para D. Geraldina todos os confortos e comodidades vedados aos demais hóspedes, tais como o acesso aos seus aposentos particulares onde D. Geraldina participava das conversas familiares. E assim a jovem esposa foi desfrutando de todas as mordomias a que tinha direito como recém casada com um hóspede funcionário do BNB e que fora forçada a sair do conforto da sua casa em São Luiz, sacrificando-se em passar 7 meses num quarto de hotel, só para acompanhar o marido num curso da maior importância profissional.
Por sua vez Sobreira sempre nos confidenciava que somente a vontade de crescer no Banco o levara a fazer esse curso exatamente no período da sua lua de mel. Que conversara com D. Geraldina no sentido de a mesma ficar com a mãe durante o período do curso mas ela fizera questão de acompanhá-lo sacrificando o seu conforto, em troca de lhe proporcionar uma melhor qualidade de vida nessa fase de estudos. Era uma mulher e tanto, dizia. Por tudo isso, a cada dia os nossos respeitos e considerações por D. Geraldina aumentavam pela admiração por aquela desprendida mulher que estava ali apenas para dar o apoio e o conforto ao seu marido durante um longo e sacrificoso período de estudos.
No entanto, num belo dia, já com quase um mês de hospedagem, D. Geraldina não apareceu para o café. Odilon e eu até achamos que ela estivesse com alguma indisposição e preferisse ficar repousando no seu quarto, que, diga-se de passagem, não era mais o mesmo do dia da sua chegada pois, pela amizade e consideração que já contava com os donos do Hotel fora aquinhoada com o melhor apartamento de casal existente no hotel. Nada comentamos com o colega Sobreira sobre a ausência da sua mulher e muito menos ele tocou nesse assunto conosco. Nem durante o café e nem no decorrer do resto do dia.
À tarde, quando nos reuníamos para estudar, era comum D. Geraldina nos servir uma pequena merenda que podia ser uma fruta ou um café com pão ou alguma coisa que forrasse a barriga até a hora do jantar. Essa era mais uma importante mordomia que desfrutávamos em função da amizade dela com os proprietários do Hotel. Nessa tarde D. Geraldina não apareceu e ficamos sem a merenda. Continuamos sem comentar a ausência e Sobreira, por conveniência, também se manteve calado. À noite, nova ausência de D. Geraldina na hora do jantar. Findo o jantar, sentávamos mais uma vez, os três para uma pequena rodada de estudos até a hora de dormir.
Nessa ocasião eu não me contive e fiz a pergunta que estava para ser feita desde a manhã desse dia.
- Sobreira, D. Geraldina viajou para São Luiz ?
Sobreira levantando a cabeça do livro que aparentava estudar, fitou-me e respondeu:
- Olha meu amigo, Geraldina nunca foi minha esposa. É uma mulher de programa que eu trouxe para passar esses dias aqui em Fortaleza. Mas, apesar de pertencer a uma das tradicionais famílias de Sao Luiz não merece a mínima consideração. Como ela começou a criar problema para mim eu a mandei embora. Viajou ontem a noite. Peço Desculpas a vocês por tê-los enganado.
Ao que lhe respondi:
- Sobreira você tem que pedir desculpas não é a nós, mas aos donos do Hotel que, pela mentira que você plantou, introduziu a sua Geraldina no convívio familiar deles inclusive saindo a passeio com as filhas do casal.
Não sei se Sobreira teve alguma conversa com os donos do Hotel. Logo nos mudamos para Hotel Premier, mais perto do curso e mais confortável e nunca mais ouvimos falar no nome de D. Geraldina.

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