A primeira festa comemorando o aniversário da cidade de Xique Xique (BA) foi realizada no dia 13 de junho de1970, quando era Prefeito Municipal o Sr. José Barbosa e Silva. Nessa ocasião foi inaugurado o Hospital Julieta Viana tendo essa festa contado com as presenças dos Governador da Bahia Dr. Luiz Viana Filho e sua mulher Sra. Julieta Viana, muitos prefeitos e vereadores dos Municípios vizinhos e um total apoio do povo xiquexiquense.
Ainda não era o carnaval popular que se faz hoje, não obstante desde essa primeira homenagem ao aniversário da cidade o festejo já contar com um erro de origem no que tange à data histórica da criação do Município, como se pode ver no brasão da cidade.
O Sr. Demósthenes Silva (1912/1974) grande escritor e orador xiquexiquense que, entre outras atividades exerceu a função de Secretário Municipal do Prefeito João Ferreira Filho (1973/1977), escreveu essa crônica no dia 13.06.1972, terceiro ano da festa da cidade.
Crônica da Cidade
Demósthenes Silva
Amigo, hoje é o Dia da Cidade, o dia do aniversário
desta cidade de Xique-Xique, ninho hospitaleiro de todos que aqui mourejam,
nascidos ou não neste berço, mas comungando do dia-a-dia desta comunidade. Cada
um representando o seu papel, no mesmo palco e sob o mesmo cenário ensolarado,
salpicado do colorido da nossa mata, que sorri ao céu sereno e azulado. Na
apoteose dos crepúsculos, retratados na face da ipueira, a existência de Deus,
eis o que sentimos, neste rincão sertanejo, todo luz.
É o dia em que devemos, com as nossas almas ajoelhadas, volver ao Criador
do Universo os nossos olhos e dizer: "Pai, eu vos agradeço o teto amigo e
carinhoso, murmuroso de águas soluçantes e de mornas brisas em que vivo agora e
no qual, talvez um dia, venha a repousar. Eu vos agradeço, Senhor, desta
guarida bendita, todo acolhimento, todo calor!"
Por isso tudo, amigo, é que hoje é um dia diferente,
que, sendo Dia da Cidade, parece também ser o nosso dia.
Esta crônica é para todos que aqui vivem, mas é,
principalmente, para os nossos avoengos, porque sentimos a cidade sendo nossa,
e deles muito mais, por conhecerem o seu presente e serem donos do seu passado.
Quanto velhinho hoje volve o olhar a uma curva que ficou atrás, na estrada
desta vida, buscando ver a si mesmo quando a cidade era mais nova e ele também,
quando tinha os seus amores e era amado, quando o mundo era outro e as coisas
também ... Naquele tempo, a cidade não fazia aniversário, mas era mais alegre,
embora mais parada. É que a alegria
era do povo e hoje dizem da Cidade, por ser mais movimentada.
A carestia de vida, os costumes modernos, que
ensinaram os moços a chamar os velhos de quadrados, acabaram com as festas
alegres e o São João bonito.
Hoje, quem se atreve mais a plantar uma árvore na sua
fogueira? Se o fizer, corre o perigo de ser desmoralizado. Capitão de areia é quem manda. Era o tempo
das vidraças inteiras, do respeito às propriedades públicas ou privadas,
era o tempo em que idade tinha o seu valor e o
respeito ensinava que menino é menino e velho é velho. Assim pensa o velhinho
e, enxugando com o lenço da saudade uma lágrima do olhar enevoado, recorda as
suas serenatas românticas, o seu primeiro amor e, fitando a cidade que se
transformou, sente, com o peito amargurado, que, tudo perdeu o seu encanto,
desde o romance do namoro à poesia de uma lágrima de mulher. E, buscando na
memória cansada o que motivou esta mudança nas pessoas e nas coisas,
como que atina com o que falta a todos e balbucia uma
palavra: Amor!
13 de Junho de 1972.
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