sexta-feira, 8 de junho de 2012

Crônica: MINHA VIDA BANCÁRIA - O AVALISTA

De 1964 a 1995, trabalhei como bancário numa instituição financeira federal e, no exercício da minha profissão, percorri os Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Ceará, onde me aposentei, tendo fixado residência em Fortaleza-CE. Durante esse período de 31 anos assisti e participei de muitas coisas que aconteceram dentro e fora das Agências Bancárias, tendo registrado algumas delas, as quais passo a divulgar, por interessantes. Os nomes dos colegas e das Agências são trocados ou omitidos por questão de ética.


                                     O  AVALISTA
                                                     Juarez Morais Chaves

Dr. Faustino Neto era um médico muito conceituado que tive o prazer de conhecer quando, trabalhando numa pequena cidade do interior de Sergipe exercia a Chefia do Setor de Crédito Rural e Industrial da Agência, nos idos de 1969/1970. O querido e conceituado médico, não sendo oriundo daquele Estado, aportara naquela pequena cidade ainda recém formado e por lá se instalou e constituiu família numerosa ao se casar com moça de ilustre tronco sergipano.
Já o conheci sexagenário, mas ainda no exercício da medicina e administrando uma excelente fazenda repleta de capim sempre verde e colonião, na qual criava gado bovino de alta linhagem indiana.
  Como pecuarista era, naturalmente, cliente da Agência do Banco naquela cidade e, tinha como norma não avalizar para ninguém, pois, na condição de médico e pessoa pública na cidade se abrisse um precedente não mais teria sossego. Por isso, sempre que algum cliente o indicava como avalista a gente informava que ele não servia. Que indicasse outro. E, assim a coisa funcionava.
Até que um dia o próprio Dr. Faustino me telefona dizendo que determinado cliente me procuraria para um financiamento rural e que ele fazia questão de avalizar. Dentro de poucos dias chega o referido cliente, faz uma proposta relativamente grande de financiamento, pois destinava à engorda de 100 (cem) bois e indica o médico como avalista. Como já estava previamente autorizado  fiz o contrato e entreguei ao cliente o título para que ele colhesse a assinatura do Avalista.
         Financiamento contratado, dinheiro liberado fiquei no aguardo do transcurso dos 9 (nove) meses contratuais, prazo da engorda,  para receber o pagamento do empréstimo. Faltando 15 dias para o vencimento, chega o cliente e pede mais um prazo de 30 dias para poder aprontar os animais e vendê-los com um melhor ganho. Como isso era um procedimento de rotina e contávamos com uma operação altamente garantida já que avalizada pelo conceituadíssimo Dr. Faustino, concordei com o pedido de elastecimento do prazo pedido pelo cliente. Na época achei ser desnecessário envolver o médico avalista na estória.
         No dia seguinte ao vencimento pactuado no contrato de financiamento, o Dr. Faustino  comparece à Agência para verificar se empréstimo fora pago. Quando comecei a lhe explicar que o empréstimo fora prorrogado por mais 30 dias a pedido do cliente e que isso era um rito normal e que tinha como objetivo permitir que o criador ganhasse algo mais com o aumento de uns quilos de carne do rebanho, senti que o avalista ia ficando sério e nada gostando da explicação.
         Quando terminei ele nada me disse e simplesmente mandou que eu tirasse a conta e mandasse para o caixa que ele iria pagar o empréstimo e se acertaria extra banco com o cliente. 
         Arredondando a estória concluiu dizendo que quando avalizasse uma operação de crédito o contrato deveria ser pago no dia do vencimento, pelo cliente ou por ele. Portanto gostaria de ser avisado no dia do vencimento. 





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