quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Crônica Minha Vida Bancária: O CASAMENTO DA FILHA


                  De 1964 a 1995, trabalhei como bancário numa instituição financeira federal e, no exercício da minha profissão, percorri os Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Ceará, onde me aposentei, tendo fixado residência em Fortaleza. Durante esse período de 31 anos assisti e participei de muitas coisas que aconteceram dentro e fora das Agências Bancárias, tendo registrado algumas delas, as quais passo a divulgar, por interessantes. Os nomes dos colegas ou personagens e das Agências não são divulgados por questão de ética. 



       CASAMENTO DA FILHA
          Juarez M. Chaves
Dr. Faustino Neto  era um médico e pecuarista  muito  conceituado e querido pelo povo, que tive o prazer de conhecer  quando trabalhando numa pequena cidade do interior  exercia a Chefia do Setor de Crédito Rural e Industrial da Agência, nos idos de 1969/1970. 
O querido e conceituado médico, não sendo oriundo daquele Estado, aportara àquela pequena cidade ainda recém formado e por lá se instalou e constituiu família numerosa ao se casar com moça de ilustre ascendência. 
        Já o conheci sexagenário, ainda no exercício da medicina, administrando sua excelente fazenda repleta de gado indubrasil e mantendo os filhos estudando em Salvador. Nessa época aconteceu o casamento da sua filha primogênita, recém-formada em Economia, evento de grande importância na cidade e que foi prestigiado por toda a elite política, pois a noiva tinha como tio materno um ex  governador do Estado.
          Para o enlace ficar a altura dos grandes casamentos aristocráticos, era imprescindível que a cobertura fotográfica fosse feita pelo famoso fotógrafo Irineu Carvalho, procurado por todas as noivas daquela época e com estúdio na capital. Dr. Faustino, homem de posses não poderia negar esse prêmio à sua primeira filha que se casava mesmo porque o referido fotografo  era originário da sua cidade, sendo, portanto,  bastante conhecido da família. Partiu então o médico com destino à capital do Estado,  afim de contratar os trabalhos do fotógrafo para o grande evento que iria abrilhantar a sociedade local.
         Chegando ao famoso atelie fotográfico o médico fazendeiro foi surpreendido com uma visão que o deixou deveras constrangido e  contrariado pois não imaginava que o jovem fotógrafo, filho de um amigo seu, tivesse adotado a moda do cabelo comprido. Dr. Faustino tinha verdadeira ojeriza a homem que usava cabelo comprido. Não aceitava e radicalizava tanto, nesse sentido, que não permitia o acesso em sua residência de homem com cabelo de mulher, como costumava dizer. Mesmo que fosse amigo do seu filho que nessa época estudava medicina em Salvador.
         Ao receber Dr. Faustino em seu estúdio, Irineu  parou o que estava fazendo e dirigiu-se ao famoso médico para lhe dar as boas vindas e colocar-se à disposição do mesmo. Fez isso não somente por profissionalismo, mas também pelo afeto que dedicava aquele homem, que desde criança o via  exercendo a medicina em sua cidade.
         Dr. Faustino meio encabulado disse qual o motivo que o trazia ali. Em breve a sua filha iria casar-se e tanto ela quanto ele faziam questão de que o evento fosse fotografado por Irineu,  o mais famoso fotógrafo do Estado. Irineu disse-lhe ter tomado  conhecimento do enlace  e para ele seria a maior honra ser destacado para fazer a cobertura fotográfica de tão importante cerimônia.
         Dr. Faustino, no entanto, ainda meio encabulado com o comprimento do cabelo do fotógrafo, disse-lhe, com o maior cuidado e diplomacia possíveis, que viera para contratá-lo, entretanto gostaria que a cobertura fotográfica do casamento fosse feita por ele mas “com cabelo de homem”. Irineu, sabedor da posição do médico  com respeito aos cabeludos, achou graça e aceitou a condição imposta dizendo que no dia do casamento se apresentaria com o “cabelo de homem”, já que essa era a condição para contratá-lo.
         Dito e feito. No dia do casamento eis que chega Irineu com o cabelo cortado rente ao couro cabeludo, quase irreconhecível,  para satisfação e gáudio do Dr. Faustino que, de braços abertos foi recebê-lo, sorridente, na entrada da casa. Feito o trabalho e entregue o belo álbum de fotos, chega o momento do acerto de contas. Nessa hora, o fotógrafo, com toda a tranqüilidade, informa ao médico que os serviços fotográficos custaram 50 % (cinquenta por cento) a mais da quantia que normalmente cobrava, ante a condição imposta de que ele se apresentasse com “cabelo de homem”.
         Como homem justo que era, Dr. Faustino pagou a conta sem questionar adquirindo mais uma experiência na vida de que cada exigência  tem seu preço. FIM

        

Nenhum comentário:

Postar um comentário