De 1964 a 1995, trabalhei como
bancário numa instituição financeira federal e, no exercício da minha
profissão, percorri os Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Ceará,
onde me aposentei, tendo fixado residência em Fortaleza. Durante esse período
de 31 anos assisti e participei de muitas coisas que aconteceram dentro e fora
das Agências Bancárias, tendo registrado algumas delas, as quais passo a
divulgar, por interessantes. Os nomes dos colegas ou personagens e das Agências
não são divulgados por questão de ética.
CASAMENTO DA FILHA
Juarez M. Chaves
Dr. Faustino Neto era um médico e pecuarista muito
conceituado e querido pelo povo, que tive o prazer de conhecer quando trabalhando numa pequena cidade do interior exercia a Chefia do Setor de Crédito Rural e Industrial da Agência, nos idos de 1969/1970.
O querido e conceituado médico, não sendo oriundo daquele Estado, aportara àquela pequena cidade ainda recém formado e por lá se instalou e constituiu família numerosa ao se casar com moça de ilustre ascendência.
Já o
conheci sexagenário, ainda no exercício da medicina, administrando sua
excelente fazenda repleta de gado indubrasil e mantendo os filhos estudando em
Salvador. Nessa época aconteceu o casamento da sua filha primogênita, recém-formada em Economia, evento de grande importância na cidade e
que foi prestigiado por toda a elite política, pois a noiva tinha como tio
materno um ex governador do Estado.
Para o
enlace ficar a altura dos grandes casamentos aristocráticos, era
imprescindível que a cobertura fotográfica fosse feita pelo famoso fotógrafo Irineu Carvalho, procurado por todas as noivas daquela época e com estúdio na capital. Dr. Faustino, homem de
posses não poderia negar esse prêmio à sua primeira filha que se casava mesmo
porque o referido fotografo era originário da sua cidade, sendo, portanto, bastante conhecido
da família. Partiu então o médico com destino à capital do Estado, afim de contratar os
trabalhos do fotógrafo para o grande evento que iria abrilhantar a sociedade
local.
Chegando
ao famoso atelie fotográfico o médico fazendeiro foi surpreendido com uma visão
que o deixou deveras constrangido e
contrariado pois não imaginava que o jovem fotógrafo, filho de um amigo seu,
tivesse adotado a moda do cabelo comprido. Dr. Faustino tinha verdadeira
ojeriza a homem que usava cabelo comprido. Não aceitava e radicalizava tanto,
nesse sentido, que não permitia o acesso em sua residência de homem com cabelo
de mulher, como costumava dizer. Mesmo que fosse amigo do seu filho que nessa época estudava
medicina em Salvador.
Ao
receber Dr. Faustino em seu estúdio, Irineu parou o que estava fazendo e
dirigiu-se ao famoso médico para lhe dar as boas vindas e colocar-se à
disposição do mesmo. Fez isso não somente por profissionalismo, mas também pelo
afeto que dedicava aquele homem, que desde criança o via exercendo a medicina em sua cidade.
Dr.
Faustino meio encabulado disse qual o motivo que o trazia ali. Em breve a sua
filha iria casar-se e tanto ela quanto ele faziam questão de que o
evento fosse fotografado por Irineu, o
mais famoso fotógrafo do Estado. Irineu disse-lhe ter tomado conhecimento do enlace e para ele
seria a maior honra ser destacado para fazer a cobertura fotográfica de tão
importante cerimônia.
Dr.
Faustino, no entanto, ainda meio encabulado com o comprimento do cabelo do
fotógrafo, disse-lhe, com o maior cuidado e diplomacia possíveis, que viera
para contratá-lo, entretanto gostaria que a cobertura fotográfica do casamento
fosse feita por ele mas “com cabelo de homem”. Irineu, sabedor da posição
do médico com respeito aos cabeludos, achou graça e aceitou a condição
imposta dizendo que no dia do casamento se apresentaria com o “cabelo de
homem”, já que essa era a condição para contratá-lo.
Dito e
feito. No dia do casamento eis que chega Irineu com o cabelo cortado rente ao
couro cabeludo, quase irreconhecível,
para satisfação e gáudio do Dr. Faustino que, de braços abertos foi
recebê-lo, sorridente, na entrada da casa. Feito o trabalho e entregue o belo
álbum de fotos, chega o momento do acerto de contas. Nessa hora, o fotógrafo, com
toda a tranqüilidade, informa ao médico que os serviços fotográficos
custaram 50 % (cinquenta por cento) a mais da quantia que normalmente cobrava, ante a condição imposta de que ele se apresentasse com “cabelo de homem”.
Como
homem justo que era, Dr. Faustino pagou a conta sem questionar adquirindo mais
uma experiência na vida de que cada exigência
tem seu preço. FIM
Nenhum comentário:
Postar um comentário