De 1964 a 1995, trabalhei como bancário numa
instituição financeira federal e, no exercício da minha profissão, percorri os
Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Ceará, onde me aposentei,
tendo fixado residência em Fortaleza. Durante esse período de 31 anos
assisti e participei de muitas coisas que aconteceram dentro e fora das
Agências Bancárias, tendo registrado algumas delas, as quais passo a divulgar,
por interessantes. Os nomes dos colegas e das Agências não são divulgados por
questão de ética.
O COLEGA JOGADOR DE SINUCA
Juarez Morais Chaves
Desempregado e com aptidão para o manejo do taco diariamente ganhava alguns
trocados em partidas apostadas que davam para custear as suas despesas de rapaz
solteiro, além de lhe permitir um treinamento diário
naquela modalidade de profissão.
No entanto, como não era burro e sabia que
aquilo não era vida de pessoa séria, sempre que tinha oportunidade participava dos
concursos públicos que se realizavam naquela cidade. Tanto treinou que terminou
por ser aprovado num concurso para o um Banco federal, já com quase 30 anos de
idade. Junto com ele foi aprovado, também, um seu amigo da mesma cidade.
Os 2 tomaram
posse numa determinada agência desse Banco, e no mesmo dia receberam as nomeações designando-os para trabalharem numa pequenina cidade baiana, encravada no topo da Chapada Diamantina.
O colega bom de sinuca não gostou da nomeação mas, como não tinha
outra alternativa se preparou para a viagem
pois estava necessitando urgentemente de um bom emprego.
Quando o Banco nomeava alguém para
trabalhar em outra cidade que não fosse
a residência do recém empregado este recebia um adiantamento em dinheiro para fazer
frente a todos os gastos do deslocamento devendo, posteriormente, ser feita a
devida prestação de contas. Por isso, as despesas do deslocamento, quer de
transporte quer de diárias em Hotel deveriam ser comprovadas mediante recibos
ou Notas Fiscais.
Os dois novos funcionários receberam o adiantamento em
dinheiro e se prepararam para a viagem com destino à Chapada Diamantina. O seu
amigo procurou os meios de transportes regulares para a cidade onde deveria trabalhar e viajou de
ônibus tendo gasto no percurso boa parte do adiantamento com os melhores
transportes, os melhores hotéis e restaurantes.
O Colega bom de sinuca, no entanto, agiu de modo
diverso, pois, além de exímio jogador de sinuca era também conhecido pela extrema avareza
que tanto o caracterizava. Não tinha nenhuma propensão ao gasto supérfluo.
Sempre estava procurando economizar tudo que ganhava. Assim, o dinheiro
recebido como adiantamento para a viagem até a cidade onde trabalharia, fora totalmente depositado
na poupança. Só pretendia gastar o mínimo minimorum.
Viajaria, portanto, em carroceria de
caminhão e comeria pratos feitos nas mais baratas hospedarias da estrada. E
assim foi feito, tendo chegado à cidade com mais de 90% do adiantamento intacto e na poupança.
Logo na primeira semana de trabalho na Agência os dois
funcionários recém empossados foram chamados pelo Gerente para a devida
prestação de contas e devolução do dinheiro não gasto. Foi o fim da poupança do
Colega sinuqueiro.
A contragosto, teve que fazer a devolução de quase todo o
adiantamento recebido, pois não tinha os devidos recibos que comprovassem os
gastos com a viagem. Foi um duro golpe para o avarento. Mas, o bom cabrito não berra e, a partir
desse “prejuízo” o rei da sinuca começou a dar tratos à bola no
sentido de encontrar um meio que o permitisse reaver o querido dinheirinho que
por descuido escapara da sua poupança. Assim surgiu o plano de se passar por
total ignorante na arte de jogar sinuca, já que, naquela cidade a única
diversão de jovens e adultos era exercitar aquele jogo, sempre apostado.
Seguindo o plano começou a frequentar, diariamente, os
bares da cidade assistindo e conhecendo os jogadores locais e sempre divulgando
a notícia que não sabia as regras daquele jogo mas que tinha grande vontade de
aprender.
E, tanto insistiu nessas idas aos bares e nessa divulgação que
terminou encontrando um amigo disposto a lhe ensinar as regras daquela diversão
que se jogava com uma vara e umas bolinhas coloridas, como sempre se referia ao
jogo de sinuca. Marcaram então um fim de semana quando o Colega sinuqueiro tinha todo o
tempo que iria precisar. No sábado quando
chegou ao bar já lá se encontrava o "professor" de sinuca ansioso para
ensinar o jogo ao seu mais recente
aluno. Começou mostrando as bolas que rolariam sobre o pano verde e informando
o valor de cada uma delas em função da cor. Memorizado o valor de cada bola,
foi passado para o aluno as regras básicas de como se desenrolaria o jogo. Após
isso foi ensinado a forma correta de pegar no taco.
O aluno, paciente e atento ouvia toda a explicação do
professor e passou todo o fim de semana, sábado e domingo, treinando a
colocação das bolas na caçapa. Chegou a alugar o sinuca por todo o período.
Passou nesse treinamento 8 fins de
semanas e o seu progresso era francamente visível por todos os que acompanhavam
aquele jovem tão interessado em aprender o jogo de sinuca.
Ao fim da 6 semana
já disputava partidas com os melhores da cidade. É verdade que perdia todas mas
não era fácil para os adversários. Já começava a dar algum trabalho aos melhores jogadores. Ao fim
da 8ª semana resolver mostrar, de vez, a sua técnica que já possuía desde que
chegou à cidade. A partir daí não mais perdeu para ninguém e ganhou muito dinheiro pois os grandes
jogadores da cidade não se conformavam em perder para o pixote que há pouco
mais de 60 dias não sabia nem pegar no taco.
Assim o colega do sinuca conseguiu recuperar todo o dinheiro
do adiantamento e ainda ficou com a fama de ser a pessoa que se tornou o maior
craque nas mesas de sinuca da cidade, com apenas 60 dias de treinamento. FIM
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