domingo, 28 de outubro de 2012

Crônica Minha vida Bancária: O COLEGA E A SINUCA


De 1964 a 1995, trabalhei como bancário numa instituição financeira federal e, no exercício da minha profissão, percorri os Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Ceará, onde me aposentei, tendo fixado residência em Fortaleza. Durante esse período de 31 anos assisti e participei de muitas coisas que aconteceram dentro e fora das Agências Bancárias, tendo registrado algumas delas, as quais passo a divulgar, por interessantes. Os nomes dos colegas e das Agências não são divulgados por questão de ética.



                             O COLEGA  JOGADOR DE SINUCA

                                                                             Juarez Morais Chaves

O colega era um dos melhores jogadores profissionais de sinuca de uma cidade do interior baiano.
Desempregado e com aptidão para o manejo do taco diariamente ganhava alguns trocados em partidas apostadas que davam para custear as suas despesas de rapaz solteiro, além de lhe permitir um treinamento diário naquela modalidade de profissão.
No entanto, como não era burro e sabia que aquilo não era vida de pessoa séria,  sempre que tinha oportunidade participava dos concursos públicos que se realizavam naquela cidade. Tanto treinou que terminou por ser aprovado num concurso para o um Banco federal, já com quase 30 anos de idade. Junto com ele foi aprovado, também, um seu amigo da mesma cidade. 
     Os 2 tomaram posse numa determinada  agência desse Banco, e no mesmo dia  receberam as nomeações designando-os para  trabalharem numa pequenina cidade baiana, encravada no topo da Chapada Diamantina. 
     O colega bom de sinuca não gostou da nomeação mas, como não tinha outra alternativa se preparou para a viagem  pois estava necessitando urgentemente de um bom emprego.
         Quando o Banco nomeava alguém para trabalhar  em outra cidade que não fosse a residência do recém empregado este recebia um adiantamento em dinheiro para fazer frente a todos os gastos do deslocamento devendo, posteriormente, ser feita a devida prestação de contas. Por isso, as despesas do deslocamento, quer de transporte quer de diárias em Hotel deveriam ser comprovadas mediante recibos ou Notas Fiscais.
      Os dois novos funcionários receberam o adiantamento em dinheiro e se prepararam  para a viagem com destino à Chapada Diamantina. O seu amigo procurou os meios de transportes regulares para a cidade onde deveria trabalhar e viajou de ônibus tendo gasto no percurso boa parte do adiantamento com os melhores transportes, os melhores hotéis e restaurantes. 
     O Colega bom de sinuca, no entanto, agiu de modo diverso, pois, além de exímio jogador de sinuca era também conhecido pela extrema avareza que tanto o caracterizava. Não tinha nenhuma propensão ao gasto supérfluo. Sempre estava procurando economizar tudo que ganhava. Assim, o dinheiro recebido como adiantamento para a viagem até a cidade onde trabalharia, fora totalmente depositado na poupança. Só pretendia gastar o mínimo minimorum
     Viajaria, portanto, em carroceria de caminhão e comeria pratos feitos nas mais baratas hospedarias da estrada. E assim foi feito, tendo chegado à cidade com mais de 90% do adiantamento intacto e na poupança. 
 Logo na primeira semana de trabalho na Agência os dois funcionários recém empossados foram chamados pelo Gerente para a devida prestação de contas e devolução do dinheiro não gasto. Foi o fim da poupança do Colega sinuqueiro. 
 A contragosto, teve que fazer a devolução de quase todo o adiantamento recebido, pois não tinha os devidos recibos que comprovassem os gastos com a viagem. Foi um duro golpe para o avarento.  Mas, o bom cabrito não berra e, a partir desse “prejuízo” o rei da sinuca começou a dar tratos à bola no sentido de encontrar um meio que o permitisse reaver o querido dinheirinho que por descuido escapara da sua poupança. Assim surgiu o plano de se passar por total ignorante na arte de jogar sinuca, já que, naquela cidade a única diversão de jovens e adultos era exercitar aquele  jogo, sempre apostado.
Seguindo o plano começou a frequentar, diariamente, os bares da cidade assistindo e conhecendo os jogadores locais e sempre divulgando a notícia que não sabia as regras daquele jogo mas que tinha grande vontade de aprender.
E, tanto insistiu nessas idas aos bares e nessa divulgação que terminou encontrando um amigo disposto a lhe ensinar as regras daquela diversão que se jogava com uma vara e umas bolinhas coloridas, como sempre se referia ao jogo de sinuca. Marcaram então um fim de semana quando o Colega sinuqueiro tinha todo o tempo que iria precisar. No sábado quando  chegou ao bar já lá se encontrava o "professor" de sinuca ansioso para ensinar  o jogo ao seu mais recente aluno. Começou mostrando as bolas que rolariam sobre o pano verde e informando o valor de cada uma delas em função da cor. Memorizado o valor de cada bola, foi passado para o aluno as regras básicas de como se desenrolaria o jogo. Após isso foi ensinado a  forma correta de pegar no taco.
O aluno, paciente e atento ouvia toda a explicação do professor e passou todo o fim de semana, sábado e domingo, treinando a colocação das bolas na caçapa. Chegou a alugar o sinuca por todo o período. Passou nesse treinamento  8 fins de semanas e o seu progresso era francamente visível por todos os que acompanhavam aquele jovem tão interessado em aprender o jogo de sinuca. 
Ao fim da 6 semana já disputava partidas com os melhores da cidade. É verdade que perdia todas mas não era fácil para os adversários. Já começava a dar algum trabalho aos melhores jogadores. Ao fim da 8ª semana resolver mostrar, de vez, a sua técnica que já possuía desde que chegou à cidade. A partir daí não mais perdeu para ninguém e  ganhou muito dinheiro pois os grandes jogadores da cidade não se conformavam em perder para o pixote que há pouco mais de 60 dias não sabia nem pegar no taco.
Assim o colega do sinuca conseguiu recuperar todo o dinheiro do adiantamento e ainda ficou com a fama de ser a pessoa que se tornou o maior craque nas mesas de sinuca da cidade,  com apenas 60 dias de treinamento. FIM 

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