Durante os
31 anos em que servi numa instituição bancária oficial, por um período de 20
anos trabalhei na área do crédito rural.
Existia entre os bancários do crédito rural um profissional
técnico agrícola cuja função era acompanhar e orientar, in loco, as atividades financiadas
para que o empreendimento rural obtivesse êxito.
Sempre que voltava do campo, esse profissional apresentava
à chefia pequenos relatórios sobre cada um dos clientes visitados.
Eventualmente esses relatórios eram enriquecidos com frases
interessantes que apenas representavam a forma de o técnico relatar,
sucintamente, a situação de cada empréstimo.
No caso em tela o pequeno produtor rural recebera um financiamento para custear a sua lavoura, cuja garantia, nesse tipo de empréstimo é o penhor agrícola da safra financiada.
Em lá chegando, numa segunda feira, o fiscal foi recebido pela mulher do mutuário que lhe contou o grave acidente que por pouco não tirou a vida do seu marido. O cliente gostava de beber algumas doses de cachaça na feira livre realizada a cada sábado. Nesse fim de semana se excedeu e entrou em atrito com um marginal conhecido como “Bamba”, que sempre portava um revolver e após, algumas discussões que ela não sabia os motivos, o valentão sacou da arma e iniciou uma série de tiros contra o cliente, só não o matando graças à péssima pontaria do “Bamba” que não era tão bamba assim.
Apenas 2 tiros o alvejaram, mas em local sem perigo de vida, estando o mesmo hospitalizado e sob cuidados médicos. Assim, a fiscalização não poderia ser realizada.
Ali mesmo na casa do cliente o técnico preencheu o seu pequeno relatório, contando para a Agência os motivos da frustração da visita ao cliente e solicitando que nova visita fosse remarcada para os próximos 60 ou 90 dias, tempo necessário à recuperação do financiado. Após fazer todos os comentários que julgava necessários, encerrou o seu lado com a frase: “Levou vários tiros na traseira dados por um tal de Bamba, que perfazeu um total de dois buracos, indo para o hospital”.
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