"A LUZ", cuja edição nº 09 circulou no dia 10 de abril de 1932, traz na primeira página a
seguinte manchete: "O Centenário Parochial
de Chique-Chique", antecipando os preparativos que o Monsenhor Costa começa a fazer para comemorar os 100 anos da Paróquia do Senhor do Bonfim que foi criada no dia 06 de julho de 1832.
Nesta edição do jornal
volta o assunto Delegacia de Terras, noticiando
a chegada a Xique-Xique do Dr. Edgar Silva Freire, delegado de Terras e Minas
de Lençóis, que finalmente vem legalizar os serviços de exploração das minas do
Açuruá.
Uma chamada com o
título Dom Adalberto Sobral informa
que passou por Xique-Xique, a bordo do vapor "Wenceslau Braz", o bispo da Diocese de Barra, viajando para Salvador.
O próximo assunto é O Futebol, que
afirma textualmente:
"Reina grande animação na nossa
mocidade em prol do surgimento do esporte acima. Estamos informados de que
dentro de poucos dias será organizada uma Sociedade Desportiva nesta Cidade,
que terá ramificações outras, como sejam – Recreativa e Literária."
No final da
primeira página está o título "Banditismo",
comentando o processo que corre na justiça local contra três criminosos que
assassinaram um cidadão chamado Antonio Lourenço. Os criminosos, além dos
assassinatos cometidos, também praticaram roubos, violências diversas e
agressões, nas localidades de Saco dos Bois e Curral Novo, neste município. Os
bandidos fizeram um arrastão.
A página dois
começa com uma interrogação: "As Placas?" Lembrando que as placas de denominação das
ruas, avenidas e praças ainda não foram providenciadas. O jornal supõe que a
fábrica não tenha atendido a encomenda, pois não se justifica tamanha demora.
Com o título "Parabéns" é feito comentário sobre uma
peça teatral de nome "A Doida de Albano", representada
no último dia 03, por rapazes e moças da nossa sociedade, aos quais foram
lançados flores e um soar contínuo de estrepitosa salva de palmas; são citados
João Avelino, Gabriel Torres, Hormezinda Carvalho e Josepha Miranda.
Esta página dois
chega ao fim com um Edital, de 05 de
abril de 1932, assinado pelo Sr. Virgílio Alves Bessa, Oficial de Notas e de
Protesto, informando que se acha em poder do referido Cartório para ser
protestada por falta de pagamento uma duplicata, sendo credor o major Agrário
de Magalhães Avelino.
Na página três há a
primeira chamada com o título "Uma Esmola! " Informando que:
"São desoladoras as notícias
que nos chegam das nossas caatingas, onde a calamidade do tempo tudo acabou,
tudo exterminou. Viandantes, tropeiros, descrevem penalizados a situação que
testemunham nas suas passagens por aquelas paragens dantes tão promissoras. As
estradas apinhadas de pessoas esqueléticas, que imploram ao viandante uma
migalha para suavizar o flagelo que lhe quer vitimar! Aqui temos centenas de
vítimas que imploram a caridade pública, por não ter meios para adquirir seu
sustento. Urge uma providência e precisamos tomá-la."
Em seguida o jornal
roga diretamente à Prefeitura Municipal de Chique-Chique e aos gerentes das
companhias de vapores que possibilitem centenas de flagelados embarcarem para
localidades onde possam trabalhar e ter seu sustento.
É a seca de 32.
Depois, o assunto
seguinte é "Óbulos para as Obras da Nossa
Matriz", em que, primeiro, afirma que reiniciaram as obras da recuperação da
Igreja Matriz do Senhor do Bonfim e, depois, apresenta um relatório com alguns
nomes de pessoas da comunidade e os valores que as mesmas doaram para essas obras.
"Com o título Coriolando Miranda vem a notícia da
viagem do mesmo, acompanhado de sua esposa Lindaura Miranda, para a cidade do
Salvador, pelo vapor "São Francisco",
em busca de tratamento de sua saúde.
Trazendo o título "Pela Igreja" há o aviso do início da
Santa Missão, pregada pelos reverendos redentoristas da Ordem de Santo Afonso
Maria de Ligório, que deve chegar a Xique-Xique pelo vapor "João Pessoa".
Terminando esta
página vem um pequeno título, "Geni", trazendo
a notícia da chegada de Geni, filha do casal Aurélio – Joaquina Miranda.
Chegamos à página
quatro cuja manchete é a seguinte: "O
Salvamento do Santa Clara", tratando de um acidente ocorrido na madrugada de
14 de janeiro de 1932, que foi o naufrágio do vapor "Santa Clara", pertencente à Cia. Indústria e Viação de Pirapora,
empresa com sede na cidade Pirapora, estado de Minas Gerias.
O acidente foi
causado por um horrível tufão, fazendo-o submergir imediatamente, perecendo no
acidente oito pessoas, com prejuízos e materiais quase totais. O grave acidente
aconteceu defronte à Ilha da Champrona. O vapor era novo de fabricação, sendo a
segunda viagem que fazia.
Foi a primeira vez
que aconteceu desastre de semelhante proporção nas proximidades de Xique-Xique, abalando sua população.
O vapor que
primeiro deu socorro ao "Santa Clara" foi
o "Benjamim Guimarães" , salvando o comandante Carlos
Mendonça.
Como o Rio São
Francisco estava cheio, foi infrutífero todo esforço para o salvamento do vapor.
A empresa
proprietária da embarcação limitar-se-á a localizar e guarnecer o casco
submerso e aguardar a baixa das águas.
O vapor "São Francisco" chegou no último dia 09 de
abril corrente com todo o aparelhamento necessário para os serviços de
flutuamento, que serão dirigidos pelo engenheiro Otávio Carneiro – diretor da
firma dona do vapor –, auxiliado pelo comandante Júlio Bahia, do Lloyd
Brasileiro, Eduardo Eustáquio dos Santos, sub-oficial da Armada, comandante
Carlos Mendonça e Manoel Nogueira, mestre geral da Cia. Indústria e Viação de
Pirapora.
Para salvar o casco
e o que mais for possível do "Santa Clara",
chegaram recursos humanos que são escafandristas, marinheiros,
carpinteiros, eletricistas e caldeireiros e também recursos mecânicos, tais
como duas chatas, guinchos, moitões, macacos, trilhos, vigas, dormentes, cabos
de aço e injetores de porões.
A outra reportagem da última página tem o título de "Triste Sorte" e fala sobre a terrível e
destruidora seca de 1932:
A situação de nossos infelizes
irmãos caatingueiros é das mais tristes. Eles estão como que exilados, expostos às mais
desumanas agruras da sorte.
Sem lar, sem roupa, sem
trabalho, sem pão; esmolam a triste migalha com que lenitiva a sua miséria.
O aspecto cadavérico de cada
flagelado traduz a fome que tortura cada indivíduo e desperta o instinto
caritativo de todos os que por aqui passa desejando comer um pedaço de pão.
O jornal "A LUZ" renova seus apelos aos homens públicos locais e aos comandantes dos vapores
para ajudarem aos flagelados a irem para outras regiões do Brasil onde possam
recomeçar suas vidas.
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