sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Crônica de Xique-Xique (BA): O DESFILE DE SETE DE SETEMBRO


                                          DESFILE DE 7 DE SETEMBRO

                                                                  Juarez Morais Chaves


"Escolas Reunidas César Zama" no dia da inauguração em 07.09.1937

          A “Escolas Reunidas César Zama”, onde estudei o curso primário em Xique-Xique (BA), sempre se preocupou em formar cidadãos patriotas. Todas as professoras tinham a consciência de que deveríamos conhecer os hinos e os símbolos da Pátria e se esforçavam em ensinar isso para os alunos. Portanto era comum, naqueles idos da década de 1950 que nós soubéssemos de cor, além do Hino Nacional, vários outros hinos, tais como o hino à Bandeira, o hino da República, o hino da Independência, etc.
        As datas importantes no Brasil, tais como a independência, a proclamação da república, a libertação dos escravos, o dia da primavera, etc., também não passavam desapercebidas e eram lembradas e comemoradas em cada sala de aula do velho “César Zama”.

Alunas do "Cesar Zama" em 1937.

         Por tudo isso a festa mais importante e mais comemorada era o 7 de setembro. Nesse dia, todos os alunos do “César Zama” deveriam estar usando a farda de gala, pois iriam participar do maior desfile pelas principais ruas da cidade em homenagem à independência do Brasil.   
       Logo que se iniciavam as aulas do segundo semestre as professoras começavam a se preocupar com os ensaios para o desfile desse grande dia. Normalmente uma pessoa da cidade que tivesse algumas noções de comandos militares era convidada para ministrar conhecimentos elementares aos alunos e alunas. Eram breves noções de “ordem unida”, “direita ou esquerda volver”, “ordinário marche” e outras coisas mais
           Lembro-me que em determinado ano a pessoa convidada para nos dar essas instruções destinadas ao desfile de 7 de setembro foi o Sr. Alvino, modesto morador de Xique-Xique (BA), agricultor por profissão, mas que, segundo se dizia, tinha conhecimento do regime castrista. Tornava isso mais evidente pela compenetração com que se apresentava perante a meninada permitindo que se criassem muitas histórias a seu respeito, relacionadas com a vida militar, que nunca foram comprovadas.
          Na época em que começavam os ensaios para o desfile de Sete de Setembro, lá estava Sr. Alvino com a maior boa vontade e disposição para nos ensinar os comandos militares e a marchar em comemoração à nossa Independência.
        O local da concentração era em frente ao “Cezar Zama”, onde nós meninos e meninas do curso primário, na década de 1950, ficávamos marchando pela Avenida J.J. Seabra, sob um sol abrasador, aprendendo as ordens militares que seriam por nós demonstradas durante o desfile.
        No dia do desfile, cedinho, vestindo as nossas fardas de gala subíamos a Avenida J.J. Seabra, em direção ao “Cesar Zama”, local da concentração, cada série em torno da sua respectiva professora, até que o Sr. Alvino tomando a iniciativa começava a organizar as filas, nos preparando para o início da marcha enquanto as professoras ficavam ao lado e a tudo assistiam.
          Estando as crianças todas organizadas em fila, começava-se o desfile, com a gente marchando garbosamente, tendo na frente os dois alunos mais altos do 5º ano levando, desfraldadas, as bandeira nacional e estadual, abrindo a marcha ao som da pequenina banda marcial composta de um pequeno tambor de marcação e duas caixas de repique de fabricação local.
         
Início do desfile

Descíamos a Avenida J.J. Seabra, em direção à beira do rio, fazíamos um contorno na Praça D. Máximo, entrávamos na Rua Marechal Deodoro (Rua da Sete) e, voltando pela Rua Góis Calmon (Rua Grande), chegávamos à Praça 6 de Julho (Praça da Caldeira) e, de novo na Avenida J.J. Seabra, retornávamos para as “Escolas Reunidas Cesar Zama” onde era dado a ordem de debandar
         Esse trajeto, feito na metade da manhã, sob um sol causticante e grande poeira fazia com que chegássemos ao fim do desfile totalmente suados e com as roupas e sapatos sujos do pó levantado pelos alunos, já que nessa época as ruas não eram pavimentadas e a gente marchava sobre areia. Não obstante esse desconforto era grande a satisfação da meninada ao final da marcha, já perto do meio dia, aliada à satisfação das professoras pelo dever cumprido e do Sr. Alvino pela excelente disciplina demonstrada por seus comandados.
         Era assim que se comemorava, em Xique-Xique (BA), naquele tempo,  o dia da Pátria.
        Devido à pobreza da cidade e à falta de iniciativa da sociedade local, nenhuma comemoração, além da marcha dos alunos do curso primário, era preparada e não passava pela cabeça de ninguém que aqueles meninos que terminavam a marcha cansados, suados e sujos bem que mereciam uma pequena merenda nem que fosse uns pedaços de bolos de milho ou de macaxeira  e uns copos de garapa de cana ou aluá, já que salgadinhos e refrigerantes eram artigos de luxo.




 

 

 

 

 

 


 


 


 


 


 

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