DESFILE DE 7 DE SETEMBRO
Juarez Morais Chaves
"Escolas Reunidas César Zama" no dia da inauguração em 07.09.1937 |
A “Escolas Reunidas César Zama”, onde estudei o curso primário em Xique-Xique (BA), sempre se preocupou em formar cidadãos patriotas. Todas as professoras tinham a consciência de que deveríamos conhecer os hinos e os símbolos da Pátria e se esforçavam em ensinar isso para os alunos. Portanto era comum, naqueles idos da década de 1950 que nós soubéssemos de cor, além do Hino Nacional, vários outros hinos, tais como o hino à Bandeira, o hino da República, o hino da Independência, etc.
As datas
importantes no Brasil, tais como a independência, a proclamação da república, a
libertação dos escravos, o dia da primavera, etc., também não passavam
desapercebidas e eram lembradas e comemoradas em cada sala de aula do velho “César
Zama”.
Alunas do "Cesar Zama" em 1937. |
Por tudo
isso a festa mais importante e mais comemorada era o 7 de setembro. Nesse dia,
todos os alunos do “César Zama” deveriam estar usando a farda de gala, pois iriam
participar do maior desfile pelas principais ruas da cidade em homenagem à
independência do Brasil.
Logo que se
iniciavam as aulas do segundo semestre as professoras começavam a se preocupar
com os ensaios para o desfile desse grande dia. Normalmente uma pessoa da
cidade que tivesse algumas noções de comandos militares
era convidada para ministrar conhecimentos elementares aos alunos e alunas.
Eram breves noções de “ordem unida”, “direita ou esquerda volver”, “ordinário
marche” e outras coisas mais
Lembro-me que em determinado ano a
pessoa convidada para nos dar essas instruções destinadas ao desfile de 7 de
setembro foi o Sr. Alvino, modesto morador de Xique-Xique (BA), agricultor por
profissão, mas que, segundo se dizia, tinha conhecimento do regime castrista.
Tornava isso mais evidente pela compenetração com que se apresentava perante a
meninada permitindo que se criassem muitas histórias a seu respeito,
relacionadas com a vida militar, que nunca foram comprovadas.
Na época em que começavam os ensaios
para o desfile de Sete de Setembro, lá estava Sr. Alvino com a maior boa
vontade e disposição para nos ensinar os comandos militares e a marchar em
comemoração à nossa Independência.
O local da concentração era em frente
ao “Cezar Zama”, onde nós meninos e meninas do curso primário, na década de
1950, ficávamos marchando pela Avenida J.J. Seabra, sob um sol abrasador,
aprendendo as ordens militares que seriam por nós demonstradas durante o
desfile.
No dia do desfile, cedinho, vestindo as
nossas fardas de gala subíamos a Avenida J.J. Seabra, em direção ao “Cesar Zama”,
local da concentração, cada série em torno da sua respectiva professora, até
que o Sr. Alvino tomando a iniciativa começava a organizar as filas, nos preparando
para o início da marcha enquanto as professoras ficavam ao lado e a tudo assistiam.
Estando as crianças todas organizadas
em fila, começava-se o desfile, com a gente marchando garbosamente, tendo na
frente os dois alunos mais altos do 5º ano levando, desfraldadas, as bandeira
nacional e estadual, abrindo a marcha ao som da pequenina banda marcial
composta de um pequeno tambor de marcação e duas caixas de repique de
fabricação local.
Descíamos a Avenida J.J. Seabra, em
direção à beira do rio, fazíamos um contorno na Praça D. Máximo, entrávamos na
Rua Marechal Deodoro (Rua da Sete) e, voltando pela Rua Góis Calmon (Rua
Grande), chegávamos à Praça 6 de Julho (Praça da Caldeira) e, de novo na
Avenida J.J. Seabra, retornávamos para as “Escolas Reunidas Cesar Zama” onde
era dado a ordem de debandar
Início do desfile |
Esse trajeto, feito na metade da
manhã, sob um sol causticante e grande poeira fazia com que chegássemos ao fim
do desfile totalmente suados e com as roupas e sapatos sujos do pó levantado
pelos alunos, já que nessa época as ruas não eram pavimentadas e a gente marchava
sobre areia. Não obstante esse desconforto era grande a satisfação da meninada
ao final da marcha, já perto do meio dia, aliada à satisfação das professoras
pelo dever cumprido e do Sr. Alvino pela excelente disciplina demonstrada por
seus comandados.
Era assim que se comemorava, em Xique-Xique
(BA), naquele tempo, o dia da Pátria.
Devido
à pobreza da cidade e à falta de iniciativa da sociedade local, nenhuma
comemoração, além da marcha dos alunos do curso primário, era preparada e não
passava pela cabeça de ninguém que aqueles meninos que terminavam a marcha
cansados, suados e sujos bem que mereciam uma pequena merenda nem que fosse uns
pedaços de bolos de milho ou de macaxeira e uns copos de garapa de cana ou aluá, já que salgadinhos e
refrigerantes eram artigos de luxo.
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