Dois
anos de seca avassaladora
– 1859 e 1860 –
Tendo em vista a grande seca que se abateu sobre todo o município de Xique-Xique durante o ano de 1860, a Câmara Municipal
enviou um longo Ofício, no dia 13 de outubro de 1860, ao presidente da província da
Bahia Dr. Antônio da Costa Pinto (26.04.1860-01.06.1861), no seguinte teor:
"Este
município, outrora tão fértil e abundante, tem-se tornado, em consequência de
dois anos de estúpida seca, o mais pavoroso teatro de desolação.
Os
habitantes do interior e de outros municípios abandonaram seus lares falidos e
procuraram a margem do rio. Poucos são os que têm conseguido algum socorro.
Extenuados
pela fome e cansaço sucumbem em tão horríveis padecimentos; outros sobrevivem,
mais tarde encontram a morte pela fome, porque, com exceção de água para beber,
nada mais encontram.
Os
proprietários nada lhes podem emprestar. Pois os gados vacuns, único recurso
que dispunham, hoje se acham deles privados, visto como têm perecido quase
tudo. E, algum que resta, para nada serve, pelo estado de magreza.
Diariamente
percorrem bandos destes infelizes, que nem ao menos acham onde se abrigarem,
mendigando, sem que, muitas vezes, nada
possam obter.
Em
princípios deste ano esta comunidade implorou sem resultado um socorro qualquer
em favor destes infelizes. Visto como para outras localidades em que o mal não
tem tomado tão grandes proporções fazendo tantas vítimas, o governo tem lançado
suas vistas.
Tendo
em vista o que acabamos de expor, pedimos a V. Exª. se digne dar alguma
providência que ao menos os sofrimentos destas vítimas da fome seja minorada,
pois que como todos os demais brasileiros têm direito ao socorro dos Poderes do
Estado."
Subscrevem o corajoso Ofício os seguintes vereadores: Joaquim
Estácio da Costa – presidente, Manoel Fulgêncio de Azevedo, Manoel Antônio
Mascarenhas, Luiz Calixto da Rocha e Jacó Pereira Bastos.
Fonte: "Senhor do Bonfim e Bom Jesus de Chique-Chique", de Cassimiro Neto
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