O Coronel e a “ESCOLAS REUNIDAS CÉSAR ZAMA”
Devemos sempre recordar que o município de Xique-Xique (BA) foi politicamente criado no dia 06 de julho de 1832, quando recebeu o nome de Senhor do Bonfim e Bom Jesus de Chique-Chique, desmembrado que fora do município de Jacobina (BA). A maior prova disso é que no ano de 1834 foi empossada a nossa primeira câmara de vereadores formada pelos seguintes cidadãos: Capitão-Mor Álvaro Antônio de Campos, Sr. Joaquim de Novais Sampaio, Sr. Ernesto Augusto da Rocha Medrado, Sr. João Xavier da Costa, Sr. Clemente Sancho Pereira da Franca, Sr. Manoel Netto Martins e o Sr. Francisco Antônio da Rocha.
Portanto, a nossa Xique-Xique atualmente conta hoje com 178 anos de emancipada e não 82 anos como alguns conterrâneos entendem ao festejar o aniversário da cidade como se a mesma tivesse sido emancipada no dia 13 de junho de 1928.
Essas considerações têm o objetivo, também, de mostrar aos conterrâneos o quanto devemos aos nossos professores leigos que, durante muitos anos dedicaram as suas vidas ao ensino das primeiras letras aos xiquexiquenses, muitas vezes utilizando instalações precárias nas próprias residências.
Mesmo fazendo a contagem somente a partir de 1832, quando Xique-Xique foi emancipada, a cidade penou 105 anos até ser contemplada com a construção do grupo escolar
“Escolas Reunidas Cézar Zama”, no ano de 1937. Portanto, durante esses 105 anos a alfabetização dos munícipes foi feita nas escolas particulares mantidas por professores e professoras leigos e leigas que, em suas próprias casas e mal remunerados prestaram esse importante e nobre serviços ao povo.
Mesmo após a inauguração das
“Escolas Reunidas Cesar Zama” , escola estatal, no ano de 1937, as escolas particulares continuaram atuando nas residências dos professores leigos e eu, nascido no primeiro lustro da década de 1940, ainda tive a oportunidade de conhecer alguns desses eméritos mestres a quem toda a cidade muito deve.
Entre esses anônimos heróis xiquexiquenses destacou-se o MESTRE CHICO que, na sua humilde residência alfabetizou muitos conterrâneos até o dia da sua morte ocorrida no dia 8 de setembro de 1968.
(Vide Crônica publicada no Blog XIQUEXIQUE no dia 09.11.2009). Na verdade os nossos administradores municipais no sec. XIX não estavam preocupados com a alfabetização dos jovens e crianças xiquexiquenses, e, a prova disso é a pequena estória contada, em tom jocoso, pelo nosso professor e historiador Cassimiro Machado Neto, em seu livro “Senhor do Bonfim e Bom Jesus de Chique-Chique (História de Chique-Chique) – Edição 2009”. Segundo o nosso pesquisador, no ano de 1865 o Dr. Luiz Antônio Barbosa de Almeida, Presidente da Bahia, enviou correspondência à nossa Câmara de Vereadores indagando, entre outras coisas,
“se existia alguma casa disponível na sede municipal para instalação de uma escola”, desejoso que estava de instalar escolas em alguns importantes municípios baianos, inclusive Xique-Xique, jovem cidade com apenas 33 anos de emancipada e até aquela data sem escola pública.
Sem o mínimo de sensibilidade os nossos vereadores, tragicamente, assim responderam:
“Em vista de sua insignificante receita, como deve constar dos demonstrativos a essa presidência, remetidos anualmente, não pode esta Câmara presentemente concorrer com semelhante objeto, aliás de tão suma utilidade.Não olvidando de o fazer, se a Província lhe emprestar a quantia de hum mil réis, para comprar o terreno”.
E, assim, perdemos a oportunidade de ouro de contar, ainda no século XIX com uma Escola Pública.
Ante o exposto as novas gerações podem inferir a grande alegria que tomou conta da população de Xique-Xique, quando o então Prefeito, Cel. Francisco Xavier Guimarães, no exercício do seu terceiro mandato (1933/1938), elegeu como prioridade do seu governo a construção de uma escola estatal para que os seus conterrâneos pudessem dispor de uma educação formal e eficaz.
Somente o fato de o Cel. Chico Xavier mostrar-se interessado em construir uma escola pública na sede do Município, já era motivo de muito júbilo para a população, pois, o povo já conhecia de sobra o caráter impetuoso e tenaz do ilustre político, em conseguir, a qualquer custo, aquilo que programava para melhorar a vida dos seus comandados. Todos conheciam a forma como o Coronel Prefeito havia introduzido, no ano de 1936, a energia elétrica em Xique-Xique com a utilização de uma caldeira a vapor.
(“O Coronel e a Luz Elétrica em Xique-Xique”, publicado no Blog XIQUEXIQUE no dia 09.04.10).
Apesar de o município de Xique-Xique ser um dos maiores da Bahia, com seus 13.000 km², era escassamente povoado com menos de 5.000 habitantes na sede e, acreditava o Prefeito Chico Xavier que uma pequena escola com 4 salas de aula era mais do que suficiente, para atender à demanda da cidade.
Tinha conhecimento, contudo, que mesmo pequena o erário não dispunha de recursos financeiros para construir a escola e contava para cumprir a sua promessa de campanha com a ajuda do governador da Bahia, na época representado pelo seu amigo pessoal Ten. Juraci Montenegro Magalhães, motivo pelo qual começou a planejar uma audiência com o primeiro mandatário do Estado.
Conseguida a audiência o Cel. Chico Xavier embarcou para Salvador e no dia marcado apresentou-se no Palácio da Aclamação para se entrevistar com o seu amigo Governador.
Feitos os cumprimentos rituais o prefeito, sem perda de tempo, iniciou a exposição do seu pleito, vez que era não só a coisa mais importante do seu governo mas também o único motivo que o fez enfrentar uma longa viagem em dois turnos, o primeiro de vapor até Juazeiro (BA) e o segundo de trem até Salvador:
a construção de uma escola primária para Xique-Xique.
Não obstante a ansiedade por estar de frente para o primeiro mandatário e falando sobre o assunto que achava mais importante, o Cel. Chico Xavier foi muito feliz na exposição do seu pleito, vez que fora feito de forma clara e objetiva.
Após ouvir o prefeito com a máxima atenção o presidente da Bahia cassou todas as esperanças do prefeito ao afirmar que os cofres do governo estadual não dispunham de verbas para a construção de escolas.
Para o Cel. Chico Xavier essa era a única resposta que tinha certeza não lhe seria dada. Jogara todas as suas fichas não só na amizade pessoal com o Governador mas também na convicção de que o Governador seria sensível haja vista a importância que uma escola teria para Xique-Xique. Foi, talvez a sua maior decepção na política.
Mas, como voltar de mãos abanando para Xique-Xique após haver criado uma grande expectativa no povo sobre a viabilidade de conseguir os recursos para a construção da escola? Mas, não titubeou. A escola dos seus sonhos seria construída nem que tivesse de lançar mãos dos seus recursos proprios.
Reunindo todas as forças o prefeito reiniciou o caminho de volta e, após 15 dias ausente desembarcou de um vapor no porto da cidade, totalmente desapontado e silencioso. Todo o povo sentiu o tormento do prefeito e se sensibilizou com o seu sofrimento. Decidiram então, inclusive os oposicionistas, dar todo o apoio ao Cel. Chico Xavier para a construção da escola municipal, pois isso era um sonho centenário de todos.
Conformado, confortado e revitalizado pelo apoio recebido o Cel. Chico Xavier decidiu que iria tentar construir a escola através de um mutirão com o povo da cidade. A Prefeitura entraria com o terreno, que foi escolhido no final da Av. J.J. Seabra, e o povo entraria com os recursos que cada um pudesse disponibilizar.
Com a população totalmente motivada e mobilizada a obra começou e, as paredes já estavam sendo levantadas quando o estafeta dos correios correu para a Prefeitura com um telegrama na mão, destinado ao prefeito. Ao lê-lo o prefeito abriu um largo sorriso e, em voz alta exibiu o texto para todos os presentes.
O telegrama do Governador do Estado, informava-lhe que conseguira a verba para a construção da escola pública em Xique-Xique e que o numerário estava à disposição da Prefeitura. Segundo o telegrama, dentro de poucos dias estaria chegando à cidade uma equipe de profissionais e todo o material necessário para a conclusão da obra.
Dentro de poucos meses foi concluída a construção de um prédio, de bela arquitetura, com 4 salas de aulas e marcada a data de inauguração para o dia 7 de setembro de 1937.
Para patrono da escola foi escolhido o nome de César Zama,
grande educador baiano e o prédio seria batizado como “Escolas Reunidas César Zama”.
Até hoje, arquitetonicamente, é a escola mais bonita da cidade, no que pese já contar com 73 anos de funcionamento. Felizmente, decorrido todo esse tempo, o desenho original não foi alterado e as várias administrações municipais que passaram pela cidade tiveram o cuidado de dar a manutenção necessária.
O interessante é que as "Escolas Reunidas César Zama", ficou conhecida de toda a população como "O PRÉDIO".
Pela primeira vez, decorrido 105 da emancipação política, a cidade de Xique-Xique contava com uma construção exclusivamente planejada para funcionar como uma escola. O Cel. Francisco Xavier vibrava de alegria por poder oferecer ao povo a concretização do seu sonho.
Eu estudei no "PRÉDIO", onde fiz o curso primário no período de 1950/1954, aluno da Professora Zilda Rodrigues de Andrade (Profa. Divininha) e muito me orgulho de ser um ex-aluno das "Escolas Reunidas Cesar Zama".