Juarez Chaves
O carnaval em Xique-Xique, pequena comunidade do interior baiano, no período de 1953 a 1960, era a festa mais esperada pela população, principalmente os jovens estudantes da cidade. A ansiedade pela chegada do carnaval era contrabalançada pela expectativa do fim das férias, pois geralmente era o último evento que antecedia o retorno para o colégio. Os foliões, devido à pobreza da cidade, usavam, nos bailes realizados no Clube Recreativo Sete de Setembro e no Clube Beneficente dos Operários, modestas fantasias produzidas em casa e com materiais adquiridos no comércio local. Na parte da manhã a movimentação do carnaval era feita exclusivamente pelos rapazes e moças da cidade. Por conta própria montavam pequenos blocos de 10 a 20 pessoas que utilizando diversos tipos de disfarces, tais como máscaras e vestuários do sexo oposto, saiam às ruas ao som de tamborins, tambores e as vezes cuícas, instrumentos rudimentares e feitos com matéria prima local, apenas para terem algo parecido com uma batucada. Essa brincadeira geralmente ia até o meio dia e se limitava a entrar nas casas dos parentes e amigos para saborear um licor ou outra bebida que fosse servida pelo dono.
Lembro-me de uma batucada que organizamos cujos tamborins foram feitos de pele de cobra estirada sobre uma armação quadrada de madeira. Cada um dos foliões fabricava o seu próprio tamborim, tambor ou outro qualquer instrumento de percussão que pudesse fazer barulho nos dias do carnaval e lá se ia, de instrumento em punho, para os ensaios da "bateria" que geralmente aconteciam no jardim da Praça D. Máximo, nos dias em que antecediam o carnaval. A foto mostra os principais filiões jovens da cidade, no "jardim" do ringue da Sete, durante o carnaval, numa pose para a posteridade.
À tardinha, lá pelas 17 horas, quando o sol esfriava, surgia o indefectível “bloco das putas”, formado pelas prostitutas da cidade que moravam na Rua do Perau, tendo a frente um conhecido homossexual que dansando e requebrando ao compasso da música levava o estandarte do cordão. O interessante era que esse bloco, composto exclusivamente de prostitutas e que percorria as principais ruas da cidade não escandalizava a sociedade da época, mas, pelo contrário sempre era esperado e as pessoas se divertiam bastante com os trejeitos e requebros das carnavalescas e principalmente do porta-estandarte.
O carnaval em Xique-Xique, pequena comunidade do interior baiano, no período de 1953 a 1960, era a festa mais esperada pela população, principalmente os jovens estudantes da cidade. A ansiedade pela chegada do carnaval era contrabalançada pela expectativa do fim das férias, pois geralmente era o último evento que antecedia o retorno para o colégio. Os foliões, devido à pobreza da cidade, usavam, nos bailes realizados no Clube Recreativo Sete de Setembro e no Clube Beneficente dos Operários, modestas fantasias produzidas em casa e com materiais adquiridos no comércio local. Na parte da manhã a movimentação do carnaval era feita exclusivamente pelos rapazes e moças da cidade. Por conta própria montavam pequenos blocos de 10 a 20 pessoas que utilizando diversos tipos de disfarces, tais como máscaras e vestuários do sexo oposto, saiam às ruas ao som de tamborins, tambores e as vezes cuícas, instrumentos rudimentares e feitos com matéria prima local, apenas para terem algo parecido com uma batucada. Essa brincadeira geralmente ia até o meio dia e se limitava a entrar nas casas dos parentes e amigos para saborear um licor ou outra bebida que fosse servida pelo dono.
Lembro-me de uma batucada que organizamos cujos tamborins foram feitos de pele de cobra estirada sobre uma armação quadrada de madeira. Cada um dos foliões fabricava o seu próprio tamborim, tambor ou outro qualquer instrumento de percussão que pudesse fazer barulho nos dias do carnaval e lá se ia, de instrumento em punho, para os ensaios da "bateria" que geralmente aconteciam no jardim da Praça D. Máximo, nos dias em que antecediam o carnaval. A foto mostra os principais filiões jovens da cidade, no "jardim" do ringue da Sete, durante o carnaval, numa pose para a posteridade.
À tardinha, lá pelas 17 horas, quando o sol esfriava, surgia o indefectível “bloco das putas”, formado pelas prostitutas da cidade que moravam na Rua do Perau, tendo a frente um conhecido homossexual que dansando e requebrando ao compasso da música levava o estandarte do cordão. O interessante era que esse bloco, composto exclusivamente de prostitutas e que percorria as principais ruas da cidade não escandalizava a sociedade da época, mas, pelo contrário sempre era esperado e as pessoas se divertiam bastante com os trejeitos e requebros das carnavalescas e principalmente do porta-estandarte.
Encerrado o desfile do bloco das meninas do perau a gente ia jantar e se preparar para o tradicional baile que sempre acontecia nos Clubes da cidade a partir das 21 horas. Era o apogeu do carnaval de Xique-Xique. Nesses dias de festa, excepcionalmente, a luz elétrica que apagava às 22:00 horas, permanecia acesa até as 3 da madrugada permitindo assim, que todos os foliões pudessem brincar e voltar, comodamente, para suas residências.
Nesses bailes aconteciam as coisas mais engraçadas provocadas, principalmente, pela cheirada ao lança-perfume, hoje proibido, mas que, naquele tempo, era legal e permitido, em todos os carnavais. Idosos e adolescentes ficavam eufóricos e, sob o efeito do lança, começavam a cantar e a dançar, numa animação nunca vista. Senhoras e mocinhas que não ousavam cheirar o gostoso perfume em público iam para o sanitário feminino e a animação era tanta que se ouviam as boas gargalhadas e gritarias dadas pela foliãs.
Quero deixar uma pequena informação sobre o famoso LANÇA-PERFUME, tão consumido no meu tempo de folião e hoje totalmente desconhecido pela geração pós 1961 ano em que foi proibida a fabricação.
O lança-perfume era um acessório indispensável ao folião que quisesse brincar o carnaval na década de 1950. Basicamente era um líquido perfumado, muito volatil, fabricado pela multinacional Rhodia e acondicionado, sob pressão, em tubos de metal cilíndrico, em volumes de 100 e 200 gramas, lacrados de modo especial para evitar o vazamento do eter perfumado. Como alternativa para as pessoas de menor poder aquisitivo existia, também, no mercado o lança-perfume da marca Colombina, acondicionado em cilindros de vidros, com menor volume, qualidade inferior e o risco da quebra da embalagem. Para se usar os lança-perfumes, era necessário extrair o pequeno pino de vedação que vinha nos tubos de metal e de vidro e substituí-lo por uma bombinha própria, vinha com a embalagem e que era enroscada no orifício da saída do jato de perfume. Lançar o perfume sobre uma moça era um ato de galanteio e que poderia ser retribuído do mesmo modo caso a jovem possuísse, também um lança-perfume e estivesse interessada no folião. Era o começo de um namoro que as vezes se estendia até depois do carnaval e muitas vezes dava em casamento. Todavia, se a moça paquerada não estivesse interessa no paquerador virava-lhe as costas e continuava a sua folia. O jato lançado em contato com a pele, provocava uma sensação de frescor e de perfume, muito agradável para quem recebia o que provocava entre os casais de namorados uma constante troca de jatos de perfume. No final da festa, as fantasias usadas pelos brincantes estavam totalmente impregnadas de perfume.
Nesses bailes aconteciam as coisas mais engraçadas provocadas, principalmente, pela cheirada ao lança-perfume, hoje proibido, mas que, naquele tempo, era legal e permitido, em todos os carnavais. Idosos e adolescentes ficavam eufóricos e, sob o efeito do lança, começavam a cantar e a dançar, numa animação nunca vista. Senhoras e mocinhas que não ousavam cheirar o gostoso perfume em público iam para o sanitário feminino e a animação era tanta que se ouviam as boas gargalhadas e gritarias dadas pela foliãs.
Quero deixar uma pequena informação sobre o famoso LANÇA-PERFUME, tão consumido no meu tempo de folião e hoje totalmente desconhecido pela geração pós 1961 ano em que foi proibida a fabricação.
O lança-perfume era um acessório indispensável ao folião que quisesse brincar o carnaval na década de 1950. Basicamente era um líquido perfumado, muito volatil, fabricado pela multinacional Rhodia e acondicionado, sob pressão, em tubos de metal cilíndrico, em volumes de 100 e 200 gramas, lacrados de modo especial para evitar o vazamento do eter perfumado. Como alternativa para as pessoas de menor poder aquisitivo existia, também, no mercado o lança-perfume da marca Colombina, acondicionado em cilindros de vidros, com menor volume, qualidade inferior e o risco da quebra da embalagem. Para se usar os lança-perfumes, era necessário extrair o pequeno pino de vedação que vinha nos tubos de metal e de vidro e substituí-lo por uma bombinha própria, vinha com a embalagem e que era enroscada no orifício da saída do jato de perfume. Lançar o perfume sobre uma moça era um ato de galanteio e que poderia ser retribuído do mesmo modo caso a jovem possuísse, também um lança-perfume e estivesse interessada no folião. Era o começo de um namoro que as vezes se estendia até depois do carnaval e muitas vezes dava em casamento. Todavia, se a moça paquerada não estivesse interessa no paquerador virava-lhe as costas e continuava a sua folia. O jato lançado em contato com a pele, provocava uma sensação de frescor e de perfume, muito agradável para quem recebia o que provocava entre os casais de namorados uma constante troca de jatos de perfume. No final da festa, as fantasias usadas pelos brincantes estavam totalmente impregnadas de perfume.
No entanto, o que era pura forma de galanteio e uma diversão inocente transformou-se numa atitude perigosa e prejudicial à saúde, quando alguém descobriu que aspirando o perfume pelo nariz ou boca, ficava embriagado e sob os efeitos de uma droga alucinógena, e, se a quantidade absorvida fosse grande, poderia provocar, inclusive, a morte do inalador. Com o passar dos anos o consumo de lança-perfume nos carnavais veio a ser utilizado exclusivamente para consumo próprio, com a utilização de lenços e pequenas toalhas envoltas no pescoço do folião que eram embebidas com o líquido perfumado e levadas ao nariz para serem cheiradas, não havendo mais o interesse do folião em lançar os jatos gelados no corpo e na fantasia da mulher amada. Por causa dessa distorção no seu uso e pela constatação de que na realidade se tratava de um tóxico impróprio para a saúde, a sua produção foi proibida em 1961, quando Jânio Quadros assumiu a Presidência da República.
A outra foto que ilustra esta crônica apresenta alguns jovens xiquexiquenses em plena folia no Clube Sete de Setembro. Notem a quantidade de lança-perfumes nas mãos dos brincantes. Este foi o último carnaval em que o lança foi livremente permitido.
O baile de carnaval, propriamente dito, naquele tempo dos anos 60, era, relativamente, pura inocência e ingenuidade. A movimentação dos foliões no salão, se dava em círculos e num só sentido para evitar choques entre as pessoas. O namorado dançava com os braços em volta do pescoço ou da cintura da namorada e essa era a maior intimidade permitida pelos pais que sempre estavam presentes e com fiscalização ostensiva. Um beijinho, sequer, quando se conseguia dar, era uma coisa muito arriscada e que poderia provocar a ida da menina de volta para casa.
O mais interessante dos carnavais de Xique-Xique eram os ensaios realizados semanas antes da festa para que os foliões aprendessem as musicas carnavalescas. Como os meios de comunicações eram deficientes e até o próprio radio era privilégio de poucos, os diretores do clube compravam em Salvador as partituras e letras musicais das marchas e sambas que estavam sendo tocadas, principalmente para o carnaval no Rio de Janeiro. De posse dessas partituras e com a ajuda do músico saxofonista Mário Torres Rapadura, de saudosa memória, ensaiavam-se todas as noites até que a gente estivesse dominando as melodias e as letras das marchinhas e sambas carnavalescos. E assim, naquele tempo, a gente ia brincando o carnaval em Xique Xique. (JMC- ago/2008).
O baile de carnaval, propriamente dito, naquele tempo dos anos 60, era, relativamente, pura inocência e ingenuidade. A movimentação dos foliões no salão, se dava em círculos e num só sentido para evitar choques entre as pessoas. O namorado dançava com os braços em volta do pescoço ou da cintura da namorada e essa era a maior intimidade permitida pelos pais que sempre estavam presentes e com fiscalização ostensiva. Um beijinho, sequer, quando se conseguia dar, era uma coisa muito arriscada e que poderia provocar a ida da menina de volta para casa.
O mais interessante dos carnavais de Xique-Xique eram os ensaios realizados semanas antes da festa para que os foliões aprendessem as musicas carnavalescas. Como os meios de comunicações eram deficientes e até o próprio radio era privilégio de poucos, os diretores do clube compravam em Salvador as partituras e letras musicais das marchas e sambas que estavam sendo tocadas, principalmente para o carnaval no Rio de Janeiro. De posse dessas partituras e com a ajuda do músico saxofonista Mário Torres Rapadura, de saudosa memória, ensaiavam-se todas as noites até que a gente estivesse dominando as melodias e as letras das marchinhas e sambas carnavalescos. E assim, naquele tempo, a gente ia brincando o carnaval em Xique Xique. (JMC- ago/2008).
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