segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A ESCRITORA ZÉLIA FIGUEIREDO NOGUEIRA

Zélia Figueiredo Nogueira, filha do Sr. Antônio Figueiredo e de D. Amália Sampaio de Figueiredo, nasceu na vila de Gameleira, Chapada Diamantina, atualmente pertencente ao Município de Gentio do Ouro (BA) e, ainda pequenina, foi morar em Xique-Xique (BA), onde seus pais fixaram residência, tendo passado toda a infância e adolescência naquela cidade, motivo pelo qual a consideramos como xiquexiquense, também.
Ainda jovem diplomou-se como normalista no Colégio Santa Eufrásia, na Barra (BA) e mais tarde, já casada graduou-se em Pedagogia, pela Faculdade de Educação da Bahia, e Biblioteconomia, pela Universidade Federal da Bahia, em Salvador.
Passou toda a sua vida envolvida com livros pois lecionou, como servidora pública estadual em varias escolas em Salvador tendo atingido a função de orientadora pedagógica na Escola Cupertino de Lacerda. Como bibliotecária, desenvolveu atividades profissionais na Biblioteca Central dos Barris, Biblioteca Juracy Magalhães Junior e Biblioteca Infantil Monteiro Lobato. Na empresa privada, como bibliotecária, trabalhou durante quinze anos como arquivista da Pedreiras Valéria.
No ano de 1982, conquistou o 1º lugar no “VI Concurso Literário da Seliba”.

Agora, aposentada, Zélia Nogueira prepara-se para lançar, NO INSTITUTO FEMININO DA BAHIA ÀS 16 HORAS DO DIA 14 DO MÊS EM CURSO, o seu livro “Estações da Vida”, onde reúne uma coletânea de poemas escritos em períodos distintos ao longo da sua vida, divididos em duas grandes partes: a primeira, intitulada “Outono”, retrata um contexto mais reflexivo do seu labor artístico; a outra, “Sertaneja”, enfatiza a sua identidade feminina e as suas vivências no interior, à beira do mitológico rio São Francisco.
Compõe o livro, também, algumas crônicas e prosas poéticas, livremente escritas, que contemplam as relembranças da autora.
O Blog JUAREZ MORAIS CHAVES sente-se deveras honrado em poder divulgar essa obra literária da nossa poetisa/escritora.
A seguir, a prosa REMINISCÊNCIAS onde a autora relembra, nostalgicamente, o período em estudava o Curso Primário nas Escolas Reunidas César Zama, em Xique-Xique.

"Reminiscências

A carta de ABC, numa pasta de couro imitando crocodilo, era da cor de chocolate. A do meu irmão, de tamanho maior, era marrom. Na minha pasta encontrei um lápis, um caderno, uma pedra de escrever; o lápis também era de pedra.
Na manhã primaveril, subíamos a avenida em direção à Escola César Zama. O ar puro que vinha da caatinga enchia-nos os pulmões, o vento era forte e barulhento, a areia grossa da avenida batia em nossas pernas, nossos cabelos quase voavam. O vozerio das crianças já se misturava ao sabor do vento. Meu irmão, comportado e compenetrado; eu, distraída e inquieta. Será que a repressão fazia piruetas em minha cabeça?
Aproximamo-nos de um grande prédio circundado por um extenso pátio onde os pés de acácia floriam festivamente. A curiosidade em desvendar o desconhecido era-me por demais fascinante e aos poucos desgrudei-me do meu irmão, misturando-me àquele bando despreocupado e alegre.
Foi-me emocionante ouvir o toque do sino chamando para as aulas; o azul e branco dos uniformes enchia-me os olhos e cada descoberta colocava-me diante de uma grande aventura. Enquanto os meninos acomodavam-se em filas, pude ver e ouvir a diretora, de estatura baixa e compleição robusta que falava em voz alta e rouca. Sua preleção enérgica, em meio a citações talvez eruditas, deixou-me preocupada e confusa. Contudo, refiz-me de ânimo ao penetrar numa acolhedora sala de aula onde uma professora aguardava alegremente seus pequenos alunos. Lembro-me bem, Eli era o seu nome.
Aquele foi um dia todo novo e tudo assinalava um grande acontecimento: o sol invadia aquela sala ampla, enquanto as luzes do saber escancaravam as portas para mim, que inocente não me apercebera disso. Era o meu primeiro dia de aula."

Ainda dominada pelo fascínio que o "Velho Chico" imprime, indelevelmente, a todos os que nascem e vivem às suas margens, a Poetisa Zélia Nogueira, nos brinda com a bela poesia sobre o tão festejado rio:
"Ao Meu Querido Rio

O meu São Francisco não é o de Assis
É o santo do sertão.
É o rio vivo, caudaloso, amante,
abrindo os braços em abraço
chegas até nós em Xique-Xique.
Quantas vezes espreguiçavas tanto...
Tornando difícil a entrada dos vapores.
Íamos à Barra.
No genipapeiro, a espera...
Enquanto o frio gelava os corações saudosos,
o apito forte do gaiola redobrava o sentimento puro,
calando a algazarra de jovens colegiais.
Acomodávamos nos camarotes
Ou debruçávamos sobre as grades
Admirando-te familiar e amigo,
Alargando-se forte e sertanejo
no mocambo do vento.
Chegávamos aos poucos ! Rio Grande e São Francisco,
cumprimentavam-se mutuamente,
trocavam carícias sem perder suas características.
Aquele escuro ônix; este, de águas doces, barrentas;
ambos íntegros, personalíssimos.
Dentro em pouco, visualizava-se a Cidade da Barra,
arraial de Lancastro, Terra de Barões;
na praça, o colégio Santa Eufrásia
acolhia os nossos sonhos juvenis.
Meu velho Chico, como é doce recordar
mesmo sentindo um aperto aqui no peito!
Mudaste tanto... Te inventaram barragem.
Mudei também, Chico:
Cadê as meninas do internato?
Cadê os gaiolas
para eu te visitar de Juazeiro à Pirapora?
Cadê, Chico?! "

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