domingo, 4 de dezembro de 2011

Minha vida Bancária: O TELEX DA AGÊNCIA

De 1964 a 1995, trabalhei como bancário numa instituição financeira federal e, no exercício da minha profissão, percorri os Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Ceará, onde me aposentei, tendo fixado residência em Fortaleza.

Durante esse período de 31 anos assisti e participei de muitas coisas que aconteceram dentro das Agências Bancárias, tendo registrado algumas delas, as quais passo a divulgar, por interessantes.


O DATILÓGRAFO FANTASMA

Juarez Morais Chaves
No começo da década de 1970 o aparelho de Telex revolucionou as comunicações, não somente pela facilidade na transmissão de dados mas também pelo baixo custo operacional em relação ao telefone.

Não obstante o alto preço dessa máquina bem como a necessidade da existência de um operador exclusivo para tão sofisticado equipamento, os Telex foram, inicialmente colocados apenas nas Agência das Capitais e das grandes cidades e, a partir daí todas as mensagens da Direção Geral para essas Agência que dispunham do telex, eram por ele enviadas.

Quando essas máquinas começaram a chegar nas Agências, face ao caráter de novidade, eram, geralmente, instaladas no gabinete da Gerência e apenas o funcionário treinado tinha acesso a elas.
O Telex a primeira vista tinha a aparência de uma grande máquina de datilografia, vez que contava com um grande teclado e o operador passava todo o expediente datilografando as mensagens que deveriam ser enviadas para a Direção do Banco ou para outra Unidade. Essas mensagens ficavam registradas e armazenadas numa fita perfurada para que, na calada da noite iniciasse o trabalho de envio das mensagens para os vários destinos selecionados pelo operador.

No final do expediente o operador programava o telex para iniciar a transmissão numa determinada hora da noite, geralmente a partir das 22 horas, quando então, automaticamente a máquina era ligada e começava o envio das mensagens tendo como base e arquivo a fita picotada.

E, não era só a semelhança com uma máquina de datilografia que caracterizava o Telex. Quando estava enviando mensagens o Telex fazia o mesmo barulho produzido por uma dessas máquinas e as letras do teclado ficavam se movimentando como se algum datilógrafo fantasma estivesse alí sentado datilografando um texto.

Poderia levar horas transmitindo, a depender do volume do que fora datilografado. No dia seguinte a máquina de telex apresentava a produção noturna, dando o resultado do que foi transmitido e do que foi recebido de outras unidades do Banco.
Pois bem, em 1973 chegou à Agência de uma grande cidade uma máquina de Telex que a exemplo da remetida para as outras unidades do banco fora instalada no Gabinte da Gerência.
A equipe instaladora passou todo o expediente daquele dia treinando o funcionário que seria o responsável pela transmissão e recepção das mensagens. Seria também o responsável por toda a datilografia dos textos que os diversos setores da Agência destinassem para a direção Geral ou para as outras Unidades.
O treinamento foi feito com as mensagens que a Agência teria que mandar naquele dia. Assim a medida que praticava o funcionário já preparava a fita picotada que seria utilizada no período da noite para a transmissão de tudo o que fora datilografa na parte da tarde.
Terminado o expediente o funcionário programou a máquina para ser ligada às 22 horas e a partir daí começar o trabalho de transmissão e recepção das mensagens.
Aconteceu, no entanto que ninguém na Agência se lembrou de colocar o vigilante noturno a par da nova máquina que havia chegado. E ninguém se lembrou porque na verdade esse era um assunto que não dizia respeito à vigilância de modo especial.
Às 22 horas em ponto, estava o vigilante em seu posto, talvez até dando início a uma madorna no interior da Agência, quando ouviu o ruído de uma máquina sendo ligada e começando a datilografar.
Imediatamente apurou os ouvidos e para seu espanto sentiu que existia, na Gerência alguém usando uma máquina de datilografia. Consciente de que todos os funcionários haviam saído às 18 horas, no final do expediente, com a devida cautela e o revolver na mão, se dirigiu ao Gabinete Gerência, na sobreloja, no intuito de flagrar quem estava àquela hora brincando com a máquina de datilografia do gerente.
Para seu espanto e terror, pela porta de vidro da gerência constatou que não era a máquina de datilografia do gerente que estava funcionando e sim uma outra bem maior e que sem ninguém sentado à sua frente, estava, sozinha, mexendo as teclas e por si só fazendo a impressão de um determinado texto.
Não se sentiu com coragem de abrir a porta e entrar. Deu meia volta e desceu o pequeno vão de escada a todo galope chegando no pavimento térreo espavorido e com o terror nos olhos.
Imediatamente pegou o telefone e ligou para a casa do gerente dizendo que a agência estava mal-assombrada e que tinha uma máquina de datilografia, bem grande, datilografando sozinha. Era coisa do outro mundo. Não deixou nem o gerente responder e foi logo dizendo que estava indo embora, pois não ia ficar naquele ambiente de assombração. E, foi embora largando a agência sem vigilância.
O Gerente imediatamente ligou para a empresa locadora de vigilância pedindo a remessa de um substituto e seguiu para a Agência. Lá chegando estava o dono da empresa com outro vigilante a sua espera.
Ao ingressarem no recinto, verificaram que o telex ainda estava trabalhando e, mesmo sabendo que se tratava de uma máquina nova o substituto do vigilante não escondeu o seu temor de permanecer o resto da noite com aquele datilografo fantasma.

Um comentário:

  1. Trabalhei como bancário na época de 1976 à 1987, usei muito o revolucionário apareho de Telex, para transmissão de Ordem de Pagamento e Cobrança. Muita saudades daquele tempo.

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