sábado, 17 de março de 2012

Crônica: O DIPLOMA DE DATILOGRAFIA

DIPLOMA DE DATILOGRAFIA
Um determinado articulista cearense, jocosamente desejando menosprezar a cultura de alguém, encerrou o seu artigo com a frase “Também, quem mandou ter tão somente o diploma do curso de Datilografia?”
Essa citação um tanto depreciativa, de imediato transportou-me para o ano de 1958 quando na minha Xique Xique (BA), honrosamente fui diplomado como DATILÓGRAFO e MECANÓGRAFO, pela Escola Senhor do Bomfim, da Sra. Diva Dourado Lopes.
A técnica da escrita à máquina estava no auge da moda e, antevendo o futuro a grande comerciante Diva Lopes introduziu em Xique Xique a primeira escola de datilografia da região, nada mais do que uma modesta casa com meia dúzia de máquinas de escrever, mas que marcou época na cidade.
Grande foi o número de jovens que se lançaram ao domínio da máquina de escrever e que, em função disso, conseguiram boas colocações no restrito mercado de trabalho da cidade e fora dela.
Minha Santa Mãe, a Professora Maria Custódio Chaves, que exerceu por mais de 30 anos o magistério na cidade, vislumbrando, ao longe, a importância de se saber “escrever à maquina”, decidiu que também eu iria freqüentar o curso de Diva.
E, assim, lá ia eu, todas as tardes praticar por 1 hora os exercícios de datilografia contidos num livro pertencente à escola.
A gente começava com a seqüência “ASDFG”, letras que estão dispostas no teclado da máquina e somente passava para a outra série, “ÇLKJH” quando estava craque no primeiro exercício. Tínhamos que fazer, pelo menos, 100 sequências sem um único erro para podermos ir para a lição seguinte.
A partir desses dois exercícios iniciais, ia-se progredindo por todo o teclado da máquina e, quando já se sabia, de cor, a localização de cada letra do alfabeto, passava-se a treinar textos.
É um curso difícil e que exige muita dedicação para se chegar ao uso de todos os dedos das mãos.
E, o curso não se limitava exclusivamente a ensinar “escrever na máquina”, vez que havia um ritual preliminar que era saber colocar o papel na máquina e ajustar as margens, determinar os espaçamentos, colocar papel carbono, escolher a côr da fita, etc, o que implicava em saber lidar com o cilindro, os marginadores e demais peças de cada máquina, para que a folha escrita saísse bem datilografada.
Finalmente, no dia 29 de julho de 1958 juntamente com outros colegas, fui submetido à prova final que nada mais era do que datilografar um longo texto escolhido pela dona da Escola.
Prova difícil, prestigiada, no entanto, pelas examinadoras Professoras Elisabeth Rodrigues de Andrade, Nídia Natália Marques e Antônia Alves Jacobina e tendo como Fiscal da prova a ilustre Professora Eufrosina Camandaroba Santos.
Esse Diploma de Datilografia e conseqüentemente a técnica de datilógrafo, foi, como previsto por minha Mãe, de grande importância para mim, vez que se transformou na principal ferramenta de trabalho na minha vida profissional.
Nos anos 1960, a prova de Datilografia era eliminatória nos principais concursos públicos, principalmente nos bancos federais. Foi esse Diploma de Datilografia uma das condições que me permitiram o acesso a um Banco Federal e dentro dele evoluir profissionalmente e conseguir as graduações em Economia e Direito.
Não fosse o Diploma de Datilografia, com certeza, não teria tido o acesso a esse importante mercado de trabalho.
Portanto, não custa nada relembrar: como me valeu ter o diploma do curso de Datilografia.
A juventude atual, exímia usuária do computador, não conhece a máquina de escrever e nenhum jovem se preocupa, como antigamente, em fazer um curso de Datilografia. Aliás, hoje ninguém mais DATILOGRAFA, pois mudaram o nome para DIGITAR. É comum se ouvir dizer que fulano “vai digitar tal texto”.
Como basicamente trabalho com edições de textos, ainda continuo um bom datilógrafo e apenas troquei a máquina de datilografia por um computador. Mas, não senti muita diferença haja vista que o principal fator, o TECLADO, foi preservado integralmente e por isso costumo chamar o computador e “uma máquina de datilografia metida a besta”.
Também costumo fazer uma diferenciação: DATILÓGRAFO é quem escreve textos usando os 10 dedos das mãos e DIGITADOR é quem não tem essa técnica.

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