domingo, 1 de agosto de 2010

Crônica: LAZER NOTURNO EM XIQUE-XIQUE (BA)

LAZER NOTURNO
Juarez Chaves

Na década de 1950 em Xique-Xique (BA), que na época deveria ter no máximo 3000 habitantes, a vida noturna era muito simples e se comparada com outras cidades maiores poder-se-ia dizer que nem existia. O principal motivo da quase inexistência de vida noturna na cidade se devia, com certeza, à ausência de energia elétrica que por muitos anos era a constante na cidade. Até o ano de 1951, a iluminação elétrica era fornecida por um pequeno gerador, acionado por um equipamento a vapor, a nossa conhecida caldeira, importada da Inglaterra e que até hoje está exposta e muito bem conservada, na Praça 6 de Julho ou como é mais conhecida, na “Praça da Caldeira”.
No final da década de 1940 a velha caldeira a vapor instalada nos idos de 1936, já dava sinais de cansaço e por várias vezes a cidade ficava sem energia por quebra do equipamento. Essa situação de desconforto da população terminou após a eleição do Prefeito Municipal João Rodrigues Soares que, sensível ao problema, em 1951 adquiriu um motor a diesel de fabricação alemã que substituindo a velha caldeira passou a fornecer uma melhor energia elétrica, mantendo contudo o período de 18 às 22 horas.
A partir daí, com as ruas mais iluminadas, o mesmo Prefeito resolveu construir um grande jardim na Praça D. Máximo (foto em preto e branco), que logo passou a ser o ponto de encontro noturno de toda a população de Xique-Xique, pois era ali que tudo acontecia. A moçada se reunia no jardim, para namorar, passear e bater papo. Amiudaram-se as festinhas noturnas (assustados) que geralmente eram realizadas na Pensão de D. Hermínia Bessa e às vezes quando a gente contava com o bom humor do presidente, no Clube Recreativo Sete de Setembro.
Mas, toda a animação findava-se às 22:00 horas, quando o motor da usina era desligado e a cidade era envolvida em total escuridão. Mas, o apagar das luzes não acontecia abruptamente, pois sempre era seguido de um ritual destinado a avisar à população. Assim, às 21:30 h a partir da usina, todas as lâmpadas eram, por uma fração de segundo apagadas para logo reacenderem, indicando para o povo o primeiro sinal. Às 21:45 h uma nova e rápida apagada era dada como o segundo sinal. Daí a 15 minutos a escuridão era total.
Esse sistema era utilizado para permitir que toda a população que estivesse na rua pudesse estar em casa ainda com as lâmpadas acesas. Isso valia principalmente para os jovens dançarinos que procuravam encerrar qualquer festinha, na pensão de D. Hermínia ou no Clube da Sete no máximo por ocasião do segundo sinal. Excepcionalmente nos dias festivos de grandes eventos quando os dois clubes da cidade (Sete de Setembro e Clube dos Operários) programavam grandes bailes para os associados a Prefeitura permitia que o gerador continuasse funcionando até a madrugada.
Afora essas pequenas festinhas, a principal distração dos estudantes da cidade era o passeio em volta do jardim da praça D. Máximo. Nesse tempo, o jardim era o ponto de encontro noturno de toda a população da cidade. Os adultos para ali iam em busca de um bate papo com os velhos companheiros e também se refrescarem com a brisa noturna que vinha da beira do rio. Os jovens, principalmente os estudantes que estavam passando férias, era o local de encontro com os colegas e com as meninas e onde as vezes se iniciavam namoros que se transformaram em sólidos casamentos.
No entanto, depois que as luzes se apagavam, restava para os mais velhos a oportunidade de dar uma volta pela Rua do Perau onde se concentravam as prostitutas da cidade. Esse programa era feito principalmente pelos homens casados e pelos solteiros que já tivessem algum rendimento financeiro. A moçada estudantil, que não tinha renda própria, ficava, quando muito passeando pela rua, olhando o movimento, mas, sem poder participar da programação. Também, naquele tempo, não era bem visto pelas meninas o rapaz que freqüentasse a Rua do Perau. Assim, os estudantes que iam passear naquela rua mantinham uma reserva e era assunto que não se desejava que chegasse ao conhecimento das jovens de boa família.
Naquele tempo, na Rua do Perau, destruída para a construção do “PAREDÃO”, já existiam algumas casas noturnas relativamente confortáveis e que ofereciam, a quem pudesse pagar, os serviços normalmente encontrados nesses ambientes. Algumas chegavam a dispor de uma boa estrutura para serviço de dança e de bar e sempre exibia prostitutas vindas de outras cidades vizinhas. Naturalmente, como a energia elétrica já havia sido desligada, a iluminação dessas casas noturnas era feita com lanternas a base de querosene e, as radiolas que animavam o ambiente eram movidas a pilha, com preferência para os discos de Orlando Dias, Waldik Soriano, Nelson Gonçalves e outros cantores assemelhados.
Afora isso, os rapazes que não quisessem ir para a cama tão cedo e nem se interessassem a passear pela Rua do Perau, a alternativa era permanecer sentado nos bancos do jardim, mesmo nas noites sem lua, batendo papo com os amigos, comentando as últimas novidades da cidade. Os assuntos que, nesse tempo, estavam acontecendo fora de Xique-Xique, praticamente não eram assuntos das rodinhas de amigos, pois, a cidade não dispunha de jornais ou revistas e poucos eram os privilegiados que podiam contar com um rádio de pilha ou funcionando com a utilização de uma bateria de automóvel.
Na verdade o assunto que nos interessava naquele momento eram apenas os relacionados com as nossas férias em Xique-Xique.

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