sábado, 24 de novembro de 2012

Minha Vida Bancária: INFORMÁTICA EM TEMPO SEMANAL



De 1964 a 1995, trabalhei como bancário numa Instituição financeira federal e, no exercício da minha profissão, percorri os Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Ceará, onde me aposentei, fixando residência em Fortaleza (CE). Durante esse período de 31 anos assisti e participei de muitas coisas que aconteceram dentro e fora da Agências bancárias, tendo registrado algumas delas, as quais passa a divulgar por interessantes. Os nomes dos colegas e das Agências não são divulgados por uma questão de ética.


                              INFORMÁTICA EM TEMPO SEMANAL

  Hoje, a atividade contábil, seja comercial ou bancária, totalmente informatizada, é coisa comum e ninguém entende que esses controles sejam feitos de outra maneira. 
   Mas, nos idos de 1960 essas coisas não existiam e os dados de uma empresa, contábeis ou não, eram registrados, ficha a ficha,  com a utilização de máquinas de datilografia.  
No banco onde trabalhei, toda mesa  era ornada com uma máquina de datilografia, peça indispensável e pessoal. Cada funcionário tinha a sua máquina e era nela que ele exercia a sua atividade quer trabalhasse na contabilidade  ou em outras áreas. Por isso, naquele tempo, a disciplina "DATILOGRAFIA" era, também, matéria eliminatória em concurso de Banco.
Mesmo nas Agências das capitais o computador era um equipamento totalmente estranho ao pessoal. Era até conhecido como “cérebro eletrônico”. O micro computador, o computador pessoal que hoje está presente em quase todas as residências e nos postos de trabalho de cada servidor, era totalmente desconhecido. Como aliado importante da máquina de datilografia tínhamos as calculadoras, totalizando somente as 4 operações  e serviam, apenas, para fazer a “puxada” da fita das fichas financeiras.
No início dos anos 70 o Banco começou a se interessar pela informatização das operações de crédito nas Agências. Na área do crédito rural,  foram escolhidas as Agências de Limoeiro do Norte CE e Aracaju SE como as pioneiras para a implantação do crédito rural computadorizado. No segundo semestre do ano de 1972 chega a Aracaju (BA) uma equipe da Direção Geral do Banco para fazer a implantação em computador das operações de crédito rural, do qual eu era o chefe da quele setor operacional.
O processamento se daria da seguinte forma: durante 3 (três) meses (agosto/outubro/1972) a contabilidade convencional seria feita em paralelo com a contabilidade informatizada. Da contabilidade convencional, extrair-se-ia mais uma via  do lançamento contábil que dia a dia era juntada a uma “grade” para serem remetidas à Direção Geral pelo malote semanal a cada sexta-feira. 
Essas cópias de lançamentos chegavam à Direção Geral na segunda-feira, eram processadas e a posição contábil já informatizada e em relatórios retornava 8 dias depois. Havia, pois uma defasagem de uma semana. Não era, ainda um procedimento em tempo real ou "on line", como se diz hoje. Mas, já era um grande avanço no controle das contas. O sistema ficou por nós, conhecido como “tempo semanal”.
Assim, o trabalho da Agência não sofreu solução de continuidade apenas foi agregado mais um serviço que era representado pelo envio semanal dos dados para serem processados eletronicamente na Direção Geral do Banco. No início de novembro, faltando 60 dias para o Balanço semestral que seria feito no final de dezembro/1972 a Direção Geral determinou que, pela experiência adquirida nos últimos 3 meses,  já se podia prescindir do controle manual feito na Agência devendo esta continuar fazendo, apenas, o envio semanal, pelo malote,  das "grades" com a movimentação da semana.
Isso significava que não mais se faria o controle manual diário da contabilidade e se ficava dependendo exclusivamente dos relatórios que chegariam da Direção Geral com uma semana de defasagem. Essa informação preocupou o chefe da contabilidade do setor operacional,  que era o encarregado direto da manter os registros em dia, principalmente nas proximidades dos balanços semestrais do Banco. Além dessa preocupação natural, o referido servidor nunca acreditou que se pudesse substituir a contabilidade convencional por uma contabilidade informatizada ainda mais sendo feita na distante cidade de  Fortaleza.
Por tudo isso, reagiu contra o sistema, desde a chegada da equipe que iria implantar o crédito rural  informatizado. Ninguém conseguiu convencê-lo de que o programa era possível e iria desafogar os trabalhos de escrituração contábil feitos em fichas individuais e por máquinas de datilografia. 
Como não acreditou, não atendeu à determinação da Direção Geral, no sentido de paralisar a contabilidade convencional no setor.  Assim, de forma discreta mas sistemática continuou a fazer as escriturações diárias com máquina de datilografia sob a alegação de que se houvesse algum erro na semana do Balanço era ele que iria ter que resolver o problema.
Para não se criar atritos com a idiossincrasia do colega chefe da contabilidade , fiz vista grossa e  deixei que ele arcasse com esse trabalho manual já que era do seu gosto e aguardei a chegada dos dados do Balanço para mostrá-lo que sua preocupação fora em vão. Aconteceu, porém que justo na semana do Balanço quando não se poderia nem pensar na falta dos dados vindos de Fortaleza, ocorreu um atraso no sistema de malotes o que causou a demora de quatro dias na chegada dos relatórios.
     Como não sabíamos se os dados iriam chegar em tempo tivemos que nos louvar para concluir o Balanço daquele segundo semestre de 1972 dos dados obtidos no trabalho convencional desenvolvido pelo referido chefe.  
Foi a glória para ele que não se cansava de alegar que se não fosse a previdência dele o Balanço de dezembro/1972 ainda estaria por ser realizado.  
Esse foi o único atraso da chegada semanal  dos dados da contabilidade,  via  malote. Mas, foi o bastante para que o chefe se aposentasse sem confiar no sistema informatizado do crédito rural. 

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